domingo, 29 de julho de 2012

A RICA CATALUNHA PEDE SOCORRO

Catalunha, o motor econômico da Espanha por um fio
Pedido de resgate a Madri abala província autônoma que produz 20% da riqueza do país
O Globo
BARCELONA - É possível que o resgate da Catalunha seja o passo prévio à derrocada da Espanha. Foi o que muitos espanhóis pensaram quando Artur Mas, presidente da província autônoma, anunciou na última terça-feira que estuda pedir ajuda a Madri para fazer frente à falta de liquidez, um eufemismo em lugar do temido termo “resgate”. O desmoronamento da região, considerado o motor econômico da Espanha e que produz um quinto da riqueza do país, significa para muitos que a economia espanhola chegou ao fundo.
O resgate, que segundo o ministro da Economia do governo catalão, Andreu Mas Collel, seria feito via fundo de liquidez, é uma forma de pedir dinheiro ao Estado com contrapartidas, e isto é o que assusta os cidadãos catalães, que suportam há dois anos os duros ajustes econômicos impostos por Madri. Sobretudo levando-se em conta o paradoxo de ter sido o governo catalão o que aplicou de forma mais contundente os cortes fiscais, mesmo antes que o resto da Espanha o fizesse.
Catalães apoiam independência
E também que o anúncio do provável pedido de ajuda ocorra na mesma semana que o Parlamento catalão aprovou uma nova forma de se relacionar com a Espanha que, se for aprovada em Madri, suporia uma sorte de independência tributária: o chamado “pacto fiscal”.
O mal-estar na Catalunha com o governo federal é mais que evidente. A Generalitat (órgão executivo catalão) afirma que a Catalunha aporta ao Estado muito mais do que recebe e mantém um déficit fiscal de 8% desde 1986. Daí, a origem do endividamento, que só cresce. Para muitos catalães, trata-se de um sistema de tributação injusto e desequilibrado. Para a Espanha, é parte do pacto de solidariedade entre as regiões. Não é de se estranhar que na última pesquisa do Centro de Estudos de Opinião da Catalunha, a maioria dos entrevistados (51%) se mostrassem favoráveis à independência da região. E a maioria deixa bem claro: os motivos são econômicos.
Para Agusti Colom, professor de Teoria Econômica da Universidade de Barcelona, o que ocorre na Catalunha é um reflexo do que se passa na Espanha.
— A Catalunha tem uma urgência financeira para pagar sua dívida, e o problema se avoluma porque não há receitas — diz Colom. — É preciso estimular a atividade econômica, o consumo, e para isso é preciso investir.
Na Catalunha, a saúde e a educação públicas conseguiram altos níveis de qualidade, mas foram os primeiros a sofrer cortes da Generalitat. Agora, Madri segue seus passos no caminho para reduzir o déficit.
— As comunidades autônomas como a Catalunha têm um grande problema: o Estado lhes transferiu tarefas em distintos âmbitos, mas isso não foi acompanhado de um orçamento suficiente — assinala Colom.

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