sábado, 28 de julho de 2012

AIDS E SEU RASTRO DE DESTRUIÇÃO

Aids causa devastações em Washington
Paul Benkimoun - Le Monde
Em Washington, a New York Avenue começa no bairro elegante onde se encontram os prédios do Tesouro Americano, a dois passos da Casa Branca. Na outra ponta dessa longa artéria, na região nordeste da capital, perto da fronteira com o Estado de Maryland, em um bairro onde pululam armazéns desativados, Galila posta-se em uma esquina, entre a penumbra desse meio de noite e a luz dos neons de um posto de gasolina. Essa etíope de 30 e poucos anos aproxima-se da minivan branca de portas decoradas com adesivos da associação HIPS, cuja sigla --que também quer dizer quadris em inglês-- significa “Helping Individual Prostitutes Survive” (ajudando prostitutas autônomas a sobreviver). Sobreviver à Aids.
Galila está em Washington há cinco meses e conheceu as voluntárias do HIPS dois meses atrás. De capa de chuva vermelha apertada na cintura, cabelos presos por uma faixa, rosto redondo, ela aceita na hora o saco de papel cheio de preservativos, bem como um docinho oferecido por Cyndee Clay, a diretora do centro de apoio da HIPS, e Catherine, coordenadora de uma equipe que atua em campo. Galila se prostitui e conhece todos os riscos aos quais está sujeita: “Encontro muitos problemas e não somente com meus clientes. Todos os dias tenho problemas com a polícia.”
Alguns clientes não querem usar preservativos e, para isso, oferecem pagar mais, mas ela é intransigente. “Quando um homem não quer preservativo, nós damos um jeito para que ele coloque um.” Antes de descer da minivan, ela responde a uma última pergunta sobre o que a HIPS lhe proporciona: “Uma proteção.”
No decorrer da ronda, Cyndee e Catherine encontram outras mulheres. Na minivan, elas pinçam de dentro de grandes sacos, onde fica armazenada uma dezena de modelos diferentes para satisfazer as preferências dos clientes. Antes de voltar ao centro, elas deixam um pacote de preservativos com o porteiro da Art Gallery e Health, que abriga uma sauna gay aberta 24 horas por dia. Nessa noite, elas não encontraram usuários de drogas a quem oferecer seringas e agulhas novas, que preenchem dois outros sacos.
Cyndee e Catherine não poderiam ser mais diferentes. A primeira, que entrou para a HIPS há 15 anos --a associação foi criada em 1993--, usa longos dread locks tingidos de azul e grandes tatuagens coloridas nos ombros. Catherine, que trabalha com a ONG há um ano, parece saída de uma série de TV com seus grandes olhos azuis, seus cabelos loiros bem cortados e seu sorriso radiante. Mas essas duas mulheres brancas conquistaram o coração dos moradores negros do bairro carente onde a HIPS se instalou.
Regina Brown, uma matrona de 58 anos, não para de repetir com sua voz rouca: “Adoro a HIPS!” Depois de cumprir uma longa pena de prisão por uso de drogas, Regina começou a frequentar o centro, seguindo os conselhos de sua prima Sheila Harris. “Nós o frequentamos há três anos”, conta Sheila. “O pessoal da HIPS me ajudou várias vezes, seja fornecendo preservativos, seja ajudando em formalidades administrativas... Eles nunca nos deixaram na mão.”
A influência da HIPS e de sua centena de voluntários vai além do bairro. “Para nosso programa de troca de seringas, já vimos gente vindo do sul de Baltimore [a cerca de 50 quilômetros, em Maryland] ou de Fredericksburg [em Virgínia, a 75 quilômetros]. Existem somente três associações que oferecem programas do tipo em Washington, e algumas foram fechadas devido à reativação na capital da proibição de usar verba pública federal para esses fins, em dezembro de 2011. A HIPS não depende desses financiamentos, e sim de doadores particulares”, ressalta Cyndee.
O uso de drogas injetáveis é um grande problema na região. É um dos motores da epidemia de infecção pelo HIV nos Estados Unidos, que atualmente afeta mais de 1,1 milhão de indivíduos e vem crescendo particularmente entre os jovens homens negros que mantêm relações homossexuais. Em Washington e no distrito de Columbia, a prevalência da infecção pelo HIV é de 2,7% entre a população adulta e adolescente, mais que em certos países africanos. Para a Organização Mundial da Saúde, uma prevalência que ultrapassa 1% corresponde a uma epidemia severa e generalizada.
Tradutor: Lana Lim

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