quarta-feira, 25 de julho de 2012

DITADURA DOS IRMÃOS CASTRO DESPACHA MAIS DOIS DISSIDENTES PARA O ALÉM? APARENTEMENTE SIM

Morte de dissidente cubano deixa dúvidas
Paulo A. Paranagua - Le Monde
A morte, no último domingo (22), de uma figura da dissidência cubana, Oswaldo Payá, em uma estrada de província, provocou comoção e despertou suspeitas entre seus parentes.
Chamado no mesmo dia de “lamentável acidente de trânsito” pelo site oficial Cuba Debate, esse anúncio --incomum em se tratando de um opositor na mídia de Havana-- não tranquilizou nem a família nem o Movimento Cristão de Libertação, fundado pelo célebre dissidente, vencedor do Prêmio Sakharov 2002 do Parlamento Europeu.
A notícia de sua morte foi divulgada no Twitter por um certo Yohandry Fontana, uma conta atribuída à Segurança do Estado (polícia secreta), usada habitualmente para reagir aos opositores nas redes sociais.
A versão oficial cita testemunhas anônimas, segundo as quais “o motorista de um carro alugado perdeu o controle e bateu em uma árvore”. O acidente ocorreu em Gavina, a 22 quilômetros de Bayamo, capital da província Granma (sudeste), pouco antes das 14h.
Além de Oswaldo Payá, 60, um outro cubano morreu: o ativista Harold Cepero Escalante, 31, da província de Ciego de Ávila (centro). Dois outros passageiros ficaram feridos e foram internados no hospital Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo: o espanhol Ángel Carromero Barrios, da juventude do Partido Popular, e o sueco Jens Aron Modig, da Liga da Juventude democrata-cristã. Nenhuma fonte independente conseguiu colher seus depoimentos na segunda-feira (23). Segundo um opositor local, o hospital foi cercado pela polícia.
Rosa María Payá, filha do dissidente cristão, foi a primeira a contestar a versão oficial. “Segundo as informações dadas pelos jovens que viajavam no carro com ele [Oswaldo Payá], havia um outro veículo que tentava jogá-los para fora da estrada, perseguindo-os a todo momento”, declarou ela no domingo à noite, em uma gravação divulgada na internet. “Então acreditamos que não se trata de um acidente, que queriam lhes fazer mal e que acabaram matando meu pai.”
Entrevistado por telefone pelo “Le Monde”, Carlos Payá, representante do Movimento Cristão de Libertação em Madri, pediu “uma investigação transparente para elucidar as circunstâncias da morte de [seu irmão] Oswaldo e de Harold Cepero”. E diz: “Se as autoridades não tivessem nada a esconder, por que elas bloqueariam o acesso ao hospital onde se encontram os dois sobreviventes? Não é o procedimento habitual no caso de um acidente rodoviário.”
Em Havana, os opositores Miriam Leiva e Oscar Espinosa Chepe lamentam “a opacidade oficial” e também pedem por esclarecimentos. Eles exigem que as autoridades parem “de importunar cruelmente” a família Payá.
As suspeitas de parentes são alimentadas por uma série de antecedentes. “Em junho, o carro onde Oswaldo viajava foi derrubado por um caminhão em Boyeros, subúrbio de Havana,” conta Carlos Payá. “Como só houve danos materiais, Oswaldo preferiu não falar a respeito”.
Vigiado permanentemente
O irmão do dissidente fala sobre o clima repressivo no qual ele vivia: “Oswaldo era vigiado permanentemente, seguido em seus mínimos passos. As pessoas que ele via eram detidas para averiguação e interrogadas pela polícia secreta. Sua casa foi atacada, e uma frase no muro da frente o expunha à condenação pública. Eles eram alvo de ameaças de morte e de um assédio constante, ele e nosso movimento”.
Durante a onda repressiva de 2003, a maioria dos 75 opositores pacíficos condenados a pesadas penas de prisão eram ativistas do Movimento Cristão de Libertação. Eles haviam coletado 10 mil assinaturas --reforçadas por outras 14 mil mais tarde--, certificadas pelo número da carteira de identidade, para exigir um referendo visando reformas. Essa iniciativa era chamada de “projeto Varela”, adotando o nome de um dos patriarcas da independência cubana, o padre Félix Varela. A dissidência nunca havia mostrado tal penetração na sociedade cubana.
Embora tenha começado como militante laico em sua paróquia de Havana, nos últimos tempos Oswaldo criticava os superiores da Igreja por manterem-no afastado. “Apesar das diferenças”, a revista católica “Espacio Laical” lhe prestou uma homenagem já no domingo: “Era um homem honesto, um pai de família exemplar, um católico íntegro, um bom cubano e um político que sempre agiu de acordo com sua consciência e que soube preservar sua autonomia.”
Tradutor: Lana Lim

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