Para os espanhóis, a crise já parece interminável
Karla Mendes - OESP
“Porque la vida pasa. Y la crisis no”, ou seja, “porque a vida passa. E a crise não”. Esse cartaz, afixado na parede externa de um prédio, chamou minha atenção há algumas semanas. No caminho do trabalho, eu o avistava do ônibus, mas nunca tinha tempo de parar para fazer a foto e o post. E fazer esse post sem a foto não tinha a menor graça. Ontem, finalmente, consegui.
Quando desci para fotografar o cartaz, vi que, na verdade, era um chamado para uma manifestação no dia 15 de outubro, às 18h, na praça de Cibelles, no centro de Madri. “Sal a la calle. Crea otro mundo”, ou seja, “saia às ruas. Crie outro mundo”.
Para mim, a frase que eu avistava de longe ilustra de maneira perfeita o estado de desânimo que a recessão econômica espanhola está provocando nas pessoas que aqui vivem, com as infindáveis notícias negativas anunciadas diariamente, sem nenhuma luz no fim do túnel.
No sábado passado, encontrei um amigo madrilenho que não via há uns três meses e o que ele me contou só confirma o estado geral de desânimo que tomou conta daqui. Sem dinheiro para pagar o aluguel do apartamento em que ele vivia sozinho, em uma boa região do centro de Madri, teve que voltar para a casa de seus familiares.
Depois de viver quatro anos na América Latina, ele voltou para Madri há menos de um ano e tem enfrentado sérias dificuldades de se readaptar à Espanha. E o elemento que mais pesa nesse contexto é a dificuldade de encontrar emprego e os baixos salários que estão sendo pagos.
Totalmente desanimado com essa situação, ele voltará para a América Latina no fim deste mês e tentará a sorte por aí. Se encontrar alguma oportunidade, disse que não volta mais para a Espanha.
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