terça-feira, 3 de julho de 2012

FRANCESES ESTÃO CONSUMINDO ÁGUA CONTAMINADA

Administrações públicas autorizam consumo de água potável contaminada na França
Rémi Barroux - Le Monde
A água destinada ao consumo dos franceses é de boa qualidade? Talvez não, acreditam a France Libertés e a "60 Millions de Consommateurs" que lançaram, nesta semana, uma "operação transparência" sobre a água potável na França. Depois de conduzir uma operação semelhante sobre o preço da água, em 2011, a fundação e a revista estão conduzindo uma pesquisa cujos resultados serão publicados em março de 2013, com base na criação de uma rede de "denunciantes" em cada departamento.
Certos de que faltam dados suficientes, de que existe uma "disparidade nas fiscalizações" e de que "informações preocupantes" são publicadas sem explicação, os dois órgãos responsáveis pela operação também querem denunciar as derrogações concedidas pelas administrações públicas para águas cujos limites dos parâmetros microbiológicos ou físico-químicos tenham sido ultrapassados.
Movidas pelas suas suspeitas, a France Libertés e a "60 Millions de Consommateurs" realizaram testes em uma dezena de departamentos. "O resultado é preocupante, nenhum departamento escapou", explica Emmanuel Poilane, diretor da France Libertés. "Uma dúzia de derrogações foi concedida para águas cujos índices de sulfato e de flúor, de nitratos ou de desetilatrazina [substância derivada da atrazina, proibida desde 2003, presente nos pesticidas e cuja degradação leva dezenas de anos] foram ultrapassados".
Mas, para Poilane, o problema não está tanto nesses índices ligeiramente ultrapassados, e sim na ausência de transparência das informações. No entanto, estas se encontram disponíveis no site do Ministério da Saúde, onde cada habitante pode encontrar os resultados das fiscalizações efetuadas para sua comuna. Essa informação, nem sempre compreensível, muitas vezes se mostra pouco tranquilizadora. Temos um exemplo no departamento de Gers, na comuna de Houga, onde a água é considerada "conforme por derrogação às exigências de qualidade em vigor" e, ao mesmo tempo, declarada "imprópria ao consumo dos bebês lactentes e das gestantes". É acusado um índice de nitrato de 63 miligramas por litro, sendo que o "limite de qualidade" é estabelecido em 50 miligramas por litro.
Outro caso típico, no Val-d'Oise, em Hodent, onde "a busca por triazinas revelou uma desetilatrazina em um teor superior ao limite de qualidade exigido". Mas, explica a ficha do ministério, "essa água pode ser consumida sem restrições"... uma vez que a administração concedeu uma derrogação.
Para a France Libertés e a "60 Millions de Consommateurs", essas derrogações concedidas por um período de três anos e que podem ser renovadas duas vezes, ou seja, por nove anos no total, são problemáticas. "Como não são capazes de colocar dentro das normas a água distribuída, preferem derrogar", se revolta Emmanuel Poilane.
Já para o ministério, essas derrogações incentivam os prefeitos a se comprometem a tomar medidas para controlar as contaminações. "É um contrassenso das associações", explica Charles Saout, da subdireção dos Riscos Associados ao Meio ambiente e à Alimentação, no Ministério da Saúde. "Essas derrogações são controladas pela Comissão Europeia e elas obrigam as autoridades locais a efetuarem obras em seu sistema de distribuição". Essas obras, muitas vezes longas, explicariam a duração mínima de três anos.
Para Saout, que anuncia a publicação de um balanço nacional dessas derrogações para o final de 2012, a iniciativa da fundação e da revista de consumidores é interessante. "Essa rede está indo na direção certa, contanto que não plante confusão na cabeça dos consumidores", ele adverte. "As normas europeias incluem coeficientes de segurança que permitem, em caso de ultrapassagem, que não haja consequências para a saúde da população", diz Saout.
Tradutor: Lana Lim

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