quinta-feira, 12 de julho de 2012

NEONAZISMO PROVOCA CRISE NA ALEMANHA

Erros em investigações de célula neonazista geram crise institucional na Alemanha
Novos erros emergem e terceiro chefe de agência de inteligência renuncia ao cargo
Der Spiegel
No último episódio de uma série de renúncias de autoridades graduadas vinculadas à investigação de uma célula terrorista neonazista na Alemanha, o chefe da agência estadual de inteligência da Saxônia pediu demissão do cargo. A renúncia dele ocorre em meio a novas revelações de erros cometidos quando ele chefiava a agência.
Desde a descoberta no ano passado de um grupo terrorista neonazista que teria matado dez pessoas em um período de sete anos, foram descobertos diversos erros graves cometidos pelos investigadores. Essas revelações levaram recentemente à renuncia de autoridades graduadas da área policial. A última renúncia ocorreu na quarta-feira (11/07).
Em um anúncio surpresa, o ministro do Interior da Estado da Saxônia, no leste da Alemanha, disse que Reinhard Boos, diretor da agência estadual de inteligência interna, pediu para ser substituído em 1º de agosto devido aos erros que foram cometidos pela instituição durante a sua gestão.
A Alemanha está tentando entender como o grupo de extrema direita foi capaz de cometer os seus crimes brutais durante tanto tempo sem ter sido descoberto, e Boos é a terceira autoridade de alto escalão da área de inteligência a renunciar ao seu cargo devido ao escândalo.
Na semana passada, Heinz Fromm, presidente do Departamento Federal de Proteção à Constituição, a agência nacional de inteligência interna alemã, renunciou depois que foi revelado que documentos relativos à investigação haviam sido triturados quando ele chefiava a agência. E o Estado oriental da Turíngia, onde o grupo terrorista tinha as suas raízes, também aposentou antecipadamente o seu chefe de inteligência interna, Thomas Sippel.
Série de erros
Os serviços de segurança da Alemanha têm sido alvo de intensas críticas devido à forma como conduziram as investigações sobre a organização terrorista Clandestinidade Nacional Socialista, também conhecida como Célula de Zwickau pelo fato de a sua sede ser situada naquela cidade. O caso veio à tona por acaso, em novembro do ano passado, após uma tentativa de assalto a banco fracassada.
O trio que compunha a Clandestinidade Nacional Socialista, aparentemente com o auxílio de uma rede de colaboradores, teria matado a tiros nove pequenos empresários de origem turca e grega e uma policial alemã durante uma onda de assassinatos entre 2000 e 2007. As autoridades acreditam também que eles tenham ferido mais de 20 pessoas em dois ataques a bomba perpetrados contra indivíduos de ascendência turca. Além disso, eles teriam cometido mais de dez assaltos a bancos.
As autoridades tiveram que admitir que as suas investigações foram prejudicadas por uma falta de coordenação e que elas cometeram erros cruciais. As críticas somente se intensificaram após a recente descoberta de que um funcionário do Departamento de Proteção à Constituição triturou arquivos relacionados à Clandestinidade Nacional Socialista.
Novos erros vêm à tona
Em um discurso feito na quarta-feira no parlamento estadual da Saxônia, o ministro estadual do Interior, Markus Ulbig, mencionou também erros chocantes cometidos por funcionários da agência. Segundo Ulbig, transcrições de conversas telefônicas interceptadas pela agência de inteligência em 1998 só recentemente foram descobertas, embora ele tivesse dito anteriormente que a Saxônia já havia tornado públicos todos os documentos vinculados ao caso.
Embora o resultado das interceptações telefônicas tivesse sido documentado em relatórios enviados à comissão de controle parlamentar da Saxônia, a notícia de que essas transcrições existem é uma novidade. No entanto, não se sabe ao certo qual é o conteúdo desses documentos.
De acordo com Ulbig, foi movida uma ação disciplinar contra funcionários da agência de inteligência da Saxônia, e Boos lamentou profundamente toda a situação. Ulbig acrescentou que aceitará a renúncia do diretor da agência de inteligência com um “coração pesado” de tristeza.
“Nos últimos meses, Boos me deu a sua palavra pessoal de que esse caso seria esclarecido de forma aberta, franca e integral”, afirmou Ulbig. “É por isso que ele está profundamente desapontado com este incidente. Sob tais circunstâncias, ele não tem mais como continuar liderando a agência com a confiança que se faz necessária”.
Ulbig afirmou que os arquivos recém-descobertos seriam repassados para os comitês federais e estaduais que investigam o caso, e anunciou que um especialista independente será nomeado para acompanhar a investigação.
O Estado da Saxônia, onde a célula de extrema direita Zwickau escondeu-se durante anos, sente que tem a responsabilidade especial de descobrir como foi que as autoridades mostraram-se incapazes de capturar o grupo mais cedo. Mas, até recentemente, as autoridades da Saxônia não haviam encontrado nenhuma irregularidade referente às autoridades policiais envolvidas na investigação do caso.
Tradutor: UOL

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