quinta-feira, 5 de julho de 2012

Refugiados sírios imploram por auxílio norte-americano para retornarem à luta contra Assad
Susanne Fowler - Herald Tribune
O Kilis Konaklama Tesisleri é um dos poucos campos de refugiados nos quais a Turquia está auxiliando cerca de 24,6 mil "hóspedes" sírios – incluindo membros do Exército Sírio Livre que aguardam que os seus ferimentos cicatrizem para que eles possam retornar à luta contra as forças militares do presidente Bashar Assad.
Os refugiados com os quais a reportagem conversou durante uma recente visita ao campo, que fica a 500 metros da fronteira síria, questionaram por que o Ocidente, e especialmente os Estados Unidos, não lhes está fornecendo armas para que eles derrubem o regime de Assad. Ativistas da região têm conseguido transportar alguns armamentos e outros materiais para a Síria, mas aparentemente não em grande escala, como os rebeldes desejam.
"De onde você é? Dos Estados Unidos? Você trouxe alguma arma para nós?", perguntaram os membros de um pequeno grupo de sírios que bebem chá à sombra de uma barraca.
Uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) que está analisando a violência na área disse que as forças de Assad violaram os direitos humanos em "uma escala alarmante" nos últimos anos, mas que não é somente o governo sírio que está fazendo execuções sumárias de prisioneiros.
Os homens feridos querem contar as suas histórias, mas alguns deles recusaram-se a se deixar fotografar porque pretendem retornar aos combates, e temem que as suas declarações possam prejudicar os seus familiares, que ainda se encontram na Síria.
"As forças de Assad não querem me matar", diz um homem de meia idade, que recusou-se a fornecer o nome à reportagem, por motivos de segurança. Ele coloca a mão sobre o ombro de um garoto. "Eles querem matar os nossos filhos, e acabar com as futuras gerações".
Advogados e ativistas da Síria disseram na semana passada ao jornal "The New York Times" que as forças de Assad estão intensificando as prisões de homens e garotos das cidades nas quais a oposição armada encontra-se estabelecida. E nesta semana a organização de direitos humanos Human Rights Watch acusou as autoridades sírias de operarem um "arquipélago" de centros de tortura em todo o país.
Abu Staif, 19, um dos membros do grupo, tem uma atadura suja amarrada no pé. "Eu estava em uma manifestação em Tel-Arafat, duas semanas atrás, quando eles me balearam", diz Staif, referindo-se a uma cidade na Síria. "Os homens que atiraram contra mim não eram policiais. Eles eram membros das forças de segurança. Alguns usavam uniformes e outros estavam à paisana. Cerca de dez de nós ficaram feridos".
Segundo ele, os seus amigos o ajudaram a atravessar a fronteira. Os ferimentos dele foram tratados em um hospital turco, e ele foi transferido para Kilis, embora diga que não pretende ficar aqui por muito tempo. "Assim que ficar bom, eu voltarei para fazer manifestações de protesto e lutar contra o regime", garante o refugiado.
Nasser abu Khaled, 55, ex-proprietário de um restaurante, mostra aos visitantes um ferimento a bala que traz nas costas. "Eles foram até o meu restaurante e me perguntaram de que lado eu estava", conta Khaled. "Eu lhes disse que não estava do lado de ninguém, e eles acabaram me baleando porque eu me recusei a apoiar Assad".
"Se os norte-americanos quisessem se livrar de Assad, eles poderiam fazer isso em dois dias", acrescenta Khaled. "Por que eles interferiram na Líbia, mas não na Síria? Nós só queremos que os Estados Unidos nos forneçam armas. Nós queremos que eles façam na Síria aquilo que fizeram na Líbia, no Iraque e no Afeganistão".
Os ativistas, incluindo membros do Conselho Nacional Sírio, têm afirmado que os Estados Unidos foram consultados sobre a entrega de armas antitanques pelo exército turco na região de fronteira, para que elas sejam levadas para a Síria. O "The New York Times" também anunciou que autoridades norte-americanas e agentes de inteligência árabes disseram que funcionários da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) estariam ajudando a decidir quais combatentes oposicionistas sírios receberiam armamentos financiados pela Turquia, pela Arábia Saudita e pelo Catar.
Cerca de 80% dos sírios que fugiram para a Turquia através da fronteira vieram de Idlib, de Latakia e do norte de Alepo. Já os sírios de regiões mais ao sul fugiram em sua maioria para a Jordânia ou o Líbano. A maioria dos acampamentos turcos consiste de cidades de barracas, mas em Kilis as pessoas ficam abrigadas em contêineres de 21 metros quadrados, dotados de aposentos frugalmente mobiliados e separados por um banheiro e uma pequena cozinha.
Dentro de um desses abrigos, Abu Farouk, 25, um ex-trabalhador da construção civil e atualmente combatente do Exército Sírio Livre, deita-se de costas e abaixa a sua calça de moletom para mostrar os vários pontos que recebeu na coxa. Ele diz que foi atingido por fragmentos de uma bala de canhão explosiva três semanas atrás, quando o exército sírio atacou a aldeia dele, perto de Aleppo.
Farouk diz ser um dos cerca de 150 manifestantes que faziam uma manifestação contra o governo, dos quais nove foram mortos e, a seguir, tiveram os corpos queimados. Ele mostrou vídeos do YouTube, que este jornalista assistiu rapidamente, para substanciar as suas alegações.
Após ter sido ferido, a mulher e a família dele ficaram sem notícias suas durante 20 dias. A reportagem pergunta o que a mulher dele pensa a respeito da sua ideia de retornar à luta na Síria? Após uma pausa, ele responde: "É claro que isso não é nenhum problema. As mulheres aceitam tudo. Elas também desejam retornar. As nossas mulheres, da mesma forma que os homens, querem derrubar o regime".
No mesmo aposento, Sayad al-Osud, 27, um carpinteiro, mostra uma mão inchada cujos dedos, segundo ele, foram atingidos por balas durante a mesma manifestação. Ele diz que passou por três cirurgias na Turquia, mas que não recuperou o uso da mão.
"Eu não tenho a menor ideia de quando isso tudo terminará e nós poderemos retornar ao trabalho", diz ele. "Mas eu estou otimista quanto à possibilidade de o regime cair. Nós vínhamos protestando pacificamente contra o regime durante mais de sete meses, e nada acontecia. Agora nós queremos armas para lutar".
Macid Kasab, 53, um ex-professor primário, diz que está há um ano em campos turcos para refugiados sírios, após ter fugido do seu país devido "aos assassinatos, às detenções e à tortura". Ele diz que foi alvo da repressão por ter participado de manifestações contrárias a Assad.
Em outro contêiner, Semir Abdo, 29, está deitado de bruços, com as pernas cobertas por um lençol manchado de sangue. Ele colhia frutas e azeitonas na Síria, em uma localidade próxima a Jisr al-Shughour, onde morava com a mulher e as filhas. Mas a vida de Abdo mudou para sempre quando, ao participar do funeral de um colega manifestante no ano passado, ele foi atingido por uma bala na mão, uma no pescoço e uma na coluna, que o deixou paralisado.
"Os meus amigos foram mortos pelas forças de segurança sírias", conta ele. "Durante o funeral, eles atiraram contra as pessoas de luto. Nós estávamos no cemitério, não fazíamos nenhum protesto. Eu sei que se retornar à Síria serei morto ou preso. Mas é melhor voltar à Síria do que ficar aqui deste jeito".
A frustração na sua voz aumenta, e ele afirma: "O mundo inteiro está ignorando o povo sírio. Ninguém quer nos ajudar".
Um outro homem, um ex-comerciante de café de 38 anos de idade, da cidade de Azzazz, próxima a Aleppo, reforça o pedido de ajuda. Ele se identifica apenas pelo primeiro nome, Mohammed, e diz: "Nós pedimos ao povo norte-americano que pressione e haja para que o presidente Barack Obama e o governo dele façam algo para ajudar o povo sírio. Nós não queremos armas para sairmos por aí matando os outros. Só queremos armamentos para proteger as nossas famílias e outras pessoas que estão na Síria".
Tradutor: UOL

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