domingo, 7 de outubro de 2012

A 3ª DIÁSPORA GREGA

Por causa da crise, gregos buscam oportunidades longe de casa
Elis Kiss - IHT
Medidas de austeridade, aumento do desemprego, a incerteza de seu futuro na UE (União Europeia) – durante os últimos cinco anos de recessão, a Grécia tem ocupado lugar cativo nas manchetes mundiais. No entanto, a crise teve o efeito inesperado de empurrar alguns gregos do mundo da moda para novos países e recomeços.
Para Christoforos Kotentos, 36, isso aconteceu na forma da Bouclier. Termo francês para escudo, a Bouclier é uma marca de moda de Los Angeles de malhas para o dia-a-dia a preços acessíveis, fundada pelo investidor cipriota Adonis Hadjiantonas. Como diretor criativo da marca, Kotentos supervisionou recentemente as primeiras entregas da marca às lojas norte-americanas.
“Decidi aceitar o trabalho da noite para o dia”, disse o estilista, que saiu de Atenas e foi para a Costa Oeste dos EUA em julho de 2011. “Ver tudo desmoronar à minha volta e as pessoas caírem em depressão fez com que eu quisesse mudar de ambiente. Então, quando me mudei para Los Angeles, senti que podia respirar e começar a sonhar e ser criativo novamente.”
Kotentos está em busca de investimento para desenvolver sua própria marca e espera que a infraestrutura da moda do sul da Califórnia sirva de apoio. Sua jornada no mundo da moda não foi a única.
Vasso Consola mudou-se para Berlim em janeiro. Pós-graduada pelo Fashion Institute of Technology e especialista em artigos de malha, a estilista de 47 anos e seus sócios alemães, Daphne Georgiadis e Ekkeland Goetze, abriram a empresa VDE GBR em Munique no ano passado.
A marca é baseada no vestido “ID”, inspirado na antiga túnica grega. Consola teve a idéia em 2008, quando se enrolou num pedaço de pano antes de ir para a passarela num desfile de moda em Atenas.
Ela e seus sócios logo transformaram a série ID monocromática numa coleção impressa a mão, chamada ID Plus. “O projeto ID Plus foi um fator importante na minha decisão de deixar a Grécia. Eu amava o meu país, mas não reconhecia o que ele havia se tornado”, disse Consola. “Para mim, tratava-se de começar do zero, mas com experiência; trava-se de conhecer meus pontos fortes e fracos.”
As roupas ID e ID Plus, que vêm com um manual para utilização, estão sendo compradas por clientes na Áustria, Alemanha, Japão, Estados Unidos e outros países. O vestido é produzido numa fábrica na cidade grega de Salonica, as impressões são acrescentadas por Goetze na Alemanha.
Mesmo antes da recessão, criar uma carreira de moda bem-sucedida na Grécia era difícil. O financiamento sempre foi limitado e difícil de obter. Mesmo nos anos 1970 e 1980, quando os fabricantes locais produziam grandes encomendas para empresas globais de vestuário, a sinergia entre a produção e o talento local era escassa.
Hoje, “as marcas de vestuário gregas estão lutando com uma queda muito acentuada na demanda, bem como margens de lucro significativamente menores sobre as vendas que restaram”, diz Vassilis Masselos, executivo-chefe da marca de lingerie grega NOTA, presidente da Associação da Indústria de Moda Helênica e ex-presidente da Federação Internacional de Vestuário. “As compras são limitadas ao que é absolutamente essencial, e até as marcas de preços baixos estão sofrendo como resultado.”
Alguns designers decidiram cedo que seus futuros tinham que ser no exterior. Sophia Kokosalaki e Marios Schwab escolheram Londres, assim como Mary Katrantzou, uma das três nomeadas para Estilista do Ano no British Fashion Awards 2012.
Gregos talentosos que não queriam sair do país tiveram que se contentar com ateliês e produção limitada. Até mesmo a criação em 2005 de uma semana de moda grega semestral, que inicialmente atraiu algum interesse entre os compradores locais e globais, transformou-se em cinzas à medida que os patrocinadores se retiraram.
“A moda foi a primeira coisa a acabar de Atenas, muito antes de as pessoas começarem a perder seus empregos”, disse Angelos Bratis depois de apresentar uma coleção de primavera-verão 2013 durante a Semana de Moda de Milão.
Baseado em suas silhuetas fluidas e drapeado artesanal complicado, Bratis havia construído um bom negócio na capital grega antes da crise. Nascido em Atenas em 1978, o estilista passou seus primeiros anos perambulando na oficina de costura de sua mãe, antes de se matricular em uma escola local de design de moda e concluir um mestrado no Instituto de Artes, ArtEZ em Amsterdã.
Sua carreira teve uma guinada emocionante no ano passado, quando ganhou o “Who Is On Next?” de 2011, competição organizada por Franca Sozzani da Vogue Italia e a estilista Silvia Venturini Fendi, que também preside a semana de moda Alta Roma.
Agora vivendo em Roma, Bratis presta consultoria para grandes marcas e está desenvolvendo sua própria através de uma pequena operação com fabricação na Itália que vende para lojas de luxo como Degli Effetti em Roma, Amaranto Boutique em Milão e Lo Spazio em Jidda.
“Eu queria uma segunda chance, um próximo passo na minha carreira”, diz Bratis. “Eu sabia que as coisas seriam difíceis nos próximos anos. Esta situação dura me deu o incentivo para ser ousado e começar tudo de novo.”
Embora os três estilistas estejam trabalhando no exterior, fica claro que a sua terra natal ainda é sua inspiração. Pitágoras é o centro do conceito de Kotentos para a próxima coleção Christoforos Kotentos. E Consola diz que a “publicidade negativa” sobre sua terra natal a estimulou a incluir elementos ainda mais gregos em seu trabalho.
No caso de Bratis, sua coleção “Poliedros” do verão 2013 foi construída sobre a idéia de sólidos platônicos, geometria e matemática. “O tema é a leveza; é grego, mas de uma forma subconsciente”, diz ele. "Faz parte do meu DNA.”
Tradutor: Eloise De Wylder

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