A responsabilidade por Pasadena
O Estado de S.Paulo
Relatórios técnicos recentes do Tribunal de Contas da União
(TCU) a respeito da compra pela Petrobrás da Refinaria de Pasadena, nos
EUA, reforçam a evidência que veio à luz desde o primeiro momento em que
o lamentável episódio passou a ser de conhecimento público: trata-se de
questão grave, complexa e controvertida que resultou em substancial
prejuízo financeiro para a maior empresa pública do País e,
consequentemente, para cada um dos cidadãos brasileiros. Diante disso, a
presidente Dilma Rousseff, que se exime de qualquer responsabilidade no
caso, deveria ser a maior interessada em colocar essa questão em pratos
limpos.
No essencial, os dois pareceres técnicos do
TCU, que ocupam as páginas dos jornais desde quarta-feira, divergem no
que diz respeito às autoridades responsáveis pelo descalabro, mas estão
de acordo - embora mencionando cifras diferentes - quanto à necessidade
de os cofres públicos serem ressarcidos. Ou seja: concordam em que houve
prejuízo para o Brasil e alguém tem de pagar por isso. Mas esses
pareceres são apenas peças técnicas destinadas a instruir o relatório a
ser apresentado ao plenário da Corte de contas pelo ministro José Jorge.
Só então, em data ainda não prevista, o TCU se pronunciará sobre o
assunto. De novo: a presidente Dilma Rousseff, que se exime de qualquer
responsabilidade no caso, deveria ser a maior interessada em colocar
essa questão em pratos limpos.
No Congresso Nacional e no
Senado, duas comissões parlamentares de inquérito, a primeira mista,
estão reunidas para investigar o caso Pasadena. Até o momento,
absolutamente nada de conclusivo resultou das audiências e debates das
duas comissões, e tudo indica que vai ser assim até o fim, o que está
perfeitamente de acordo com as instruções do governo à base aliada para
varrer o assunto para debaixo do tapete. A presidente Dilma Rousseff,
que se exime de qualquer responsabilidade no caso, deveria ser a maior
interessada em colocar essa questão em pratos limpos.
Sempre
que questionado sobre o aumento dos casos de corrupção na administração
petista, a começar pelo escândalo do mensalão, passando pela "faxina"
no Ministério em vão tentada por Dilma no seu primeiro ano de governo,
chegando agora às denúncias envolvendo a Petrobrás, Luiz Inácio Lula da
Silva garante que não é verdade que os "malfeitos" tenham aumentado ao
longo dos últimos 12 anos. O que ocorre, garante o criador de Dilma, é
que, nos governos do PT, ao contrário do que ocorria nos anteriores, o
que aumentou foram as investigações sobre as denúncias de corrupção. Por
isso, parece, apenas parece, que hoje há mais "malfeitos" do que antes.
Por isso mesmo - até porque sobre ela não pesam suspeitas de corrupção
no caso Pasadena, apenas de incompetência -, Dilma Rousseff, que se
exime de responsabilidade no caso, deveria ser a maior interessada em
colocar essa questão em pratos limpos.
Não foi a "elite
branca" que colocou o escândalo de Pasadena nas manchetes da mídia e,
consequentemente, a Petrobrás na berlinda. Foi a própria presidente da
República quando, em março, respondendo a questionamento deste jornal
sobre a decisão do Conselho de Administração da estatal, que ela
presidia, de aprovar a compra da refinaria no Texas, alegou que só tinha
apoiado a transação porque se baseara num relatório "falho" e
"incompleto" apresentado - é claro - pela direção da Petrobrás. A
atitude de Dilma, que Lula considerou "desastrada", potencializou o
escândalo, o que acabou trazendo a público uma enxurrada de denúncias
sobre esquemas de corrupção envolvendo diretores e fornecedores da
Petrobrás.
Diante da possibilidade de seu envolvimento com o
escândalo de Pasadena prejudicar a reeleição - afinal, ela deveria ser a
maior interessada em colocar essa questão em pratos limpos -, Dilma
Rousseff, em vez de usar seu poder para estimular investigações que
tragam a verdade à luz, prefere mudar de assunto e, no melhor estilo
petista, partir para o ataque. Acusa a oposição de querer "destruir" a
Petrobrás. Em evento da estatal na última terça-feira investiu contra os
"incrédulos" e "pessimistas" que não levam a sério a viabilidade do
pré-sal, "riqueza palpável e tangível que pertence ao povo brasileiro".
Ela sabe que não é disso que se trata.
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