A taça é deles (e a conta é nossa)
País gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do Sul juntas. Com brasileiro não há quem possa
GUILHERME FIUZA
- O Globo
Os
pessimistas e a elite branca deram com os burros n’água: a Copa do
Mundo no Brasil é um sucesso. A bola está rolando redondinha, os
gramados estão todos verdinhos e o país chegou até aí batendo mais um
recorde: gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do
Sul juntas. Com brasileiro não há quem possa.
Aos espíritos de
porco que ainda têm coragem de reclamar do derrame sem precedentes de
dinheiro público promovido pelos faraós brazucas, eis a resposta
definitiva e acachapante: a Copa no Brasil tem uma das maiores médias de
gols da história. Fim de papo. De que adianta ficar economizando o
dinheiro do povo, evitando os superfaturamentos e as negociatas na
construção dos estádios, para depois assistir a um monte de zero a zero e
outros placares magros? Fartura atrai fartura. Depois da chuva de
verbas, a chuva de gols. É a Copa das Copas. Viva Messi, viva Neymar,
viva Dilma.
Está todo mundo feliz, e o país mais uma vez se
renderá a Lula. O oráculo afirmou que era uma babaquice esse negócio de
querer chegar de metrô até dentro do estádio. Que o brasileiro vai a
jogo até de jegue. O filho do Brasil mais uma vez tinha razão.
O
país teve sete anos para usar a agenda da Copa e investir seriamente em
infraestrutura de transportes. Sete anos para planejar e executar uma
expansão decente do metrô nas capitais saturadas, por exemplo — obras
caras que dependem do governo federal. Ainda bem que nada disso foi
feito, e as capitais continuaram enfrentando sua bagunça a passo de
jegue. Seria um desperdício, porque todo mundo sabe que essa mania de
querer chegar aos lugares de metrô é uma babaquice da elite branca.
Felizmente, o dinheiro que seria torrado nessa maluquice foi bem
aplicado nos estádios mais caros do mundo, entre outros investimentos
estratégicos.
Agora a Copa deu certo, o brasileiro está sorrindo e
a popularidade de Dilma voltou a subir — provando de uma vez por todas
que planejamento sério é uma babaquice. O que importa é bola na rede.
Nos
anos que antecederam a Copa das Copas, os pessimistas encheram a
paciência do governo popular com a questão dos aeroportos. Mas o PT
resistiu mais uma vez à conspiração dessa burguesia ociosa que reclama
de tudo. E deixou para privatizar (que ninguém nos ouça) os aeroportos
às vésperas da Copa. Foi perfeito, porque sobrou mais tempo para o bando
da companheira Rosemary Noronha parasitar o setor da aviação civil,
proporcionando aos brasileiros o que eles mais gostam: ser maltratados
nos aeroportos em ruínas, se possível derretendo com a falta de
ar-condicionado (o que Dilma chamou carinhosamente de “Padrão Brasil”).
Os
pessimistas perderam mais essa. Na última hora, com um show vertiginoso
de remendos e puxadinhos (Brasil-sil-sil!), os aeroportos nacionais não
obrigaram nem uma única delegação estrangeira a vir para a Copa de
jegue. Todas as seleções entraram em campo — a televisão está de prova.
E, no que a bola rolou, quem haveria de memorizar detalhes
insignificantes, como metade dos elevadores da Favela Antonio Carlos
Jobim enguiçados, além de algumas esteiras e escadas rolantes
interditadas, entre outros desafios dessa gincana Padrão Brasil?
Ora, calem a boca, senhores pessimistas. A Copa deu certo. A Rosemary também.
Quem
vai cronometrar o tempo dos otários nas filas monumentais? Os
cronômetros só medem a posse de bola. E bem feito para quem ficou preso
nos engarrafamentos a caminho do estádio, de casa ou de qualquer lugar.
Lula avisou para ir de jegue. Você ficou engarrafado porque é um membro
dessa elite branca que contribui para o aquecimento global. Além de
tudo, é ignorante, porque ainda não entendeu que o combustível no Brasil
foi privatizado pelos companheiros e seus doleiros de estimação. Como
diria o petista André Vargas ao comparsa Alberto Youssef, o petróleo é
nosso.
Além de jegue e jabuticaba, o Padrão Brasil tem feriado.
Muito feriado. Quantos o freguês desejar. Pode haver melhor legado que
esse para a mobilidade urbana? Se todo mundo andar de jegue e ninguém
precisar ir trabalhar, acabaram-se os problemas viários. Poderemos ter
Copa todo mês. E os brasileiros não precisarão mais correr riscos com
obras perigosas como os viadutos — que, como se sabe, desabam.
A
Copa no Brasil tem tido jogos realmente emocionantes. É o triunfo do
único inocente nessa história — o futebol. Viva ele. Os zumbis que
ficavam gemendo pelas ruas que “não vai ter Copa” sumiram na paisagem do
congraçamento das torcidas. Mas é claro que isso será entendido pela
geleia geral brasileira como... gol da Dilma! É a virada dos
companheiros, a vitória dos oprimidos palacianos sobre as elites
impatrióticas etc. A taça é deles. E a conta é nossa.
Se você não
suporta mais essa alquimia macabra, que faz qualquer sucata populista
virar ouro eleitoral, faça como os atletas do Felipão: chore.
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