domingo, 6 de julho de 2014

Escavação em pátio de trens revela pedaço escondido da cidade de Nova York
David W. Dunlap - NYT
Chang W. Lee/The New York Times
Parede de xisto cinza de Manhattan com espirais de pegmatita branca no pátio de trens a oeste da estação de Pennsylvania, em Nova York (EUA) Parede de xisto cinza de Manhattan com espirais de pegmatita branca no pátio de trens a oeste da estação de Pennsylvania, em Nova York (EUA)
Se você pensa que ficar esmagado na estação Pennsylvania hoje em dia é ruim, devia ver como era 465 milhões de anos atrás.
"Esta rocha foi submetida a três períodos de colisão continental", disse o geólogo Signey Horenstein, no pátio de trens a oeste da estação, examinando uma parede de xisto cinza de Manhattan com espirais de pegmatita branca.
Parecia uma grande torta de mármore. Uma que já quebrou muitas brocas.
"A rocha foi espremida, espremida e espremida mais uma vez", disse, referindo-se ao que aconteceu nas orogêneses tacônica, acadiana e alegueniana. Esses eventos formadores de montanhas, há centenas de milhões de anos, formaram a América do Norte e deixaram traços fascinantes na cidade de Nova York.
Alguns desses traços vieram à tona no pátio de trens sobre o qual a Brookfield Office Properties está construindo um projeto de uso misto, o Manhattan West, a começar por uma plataforma que cobrirá todo o pátio.
Os passageiros da New Jersey Transit e da Amtrak conhecem bem este pátio. Ele oferece um vislumbre da cidade antes que os trens se afunilem para dentro dos Túneis de North River. Até o final do ano, os passageiros não verão mais a luz do dia até chegarem a North Bergen, Nova Jersey.
O projeto da Brookfield também envolve a escavação da rocha de cada um dos lados dos trilhos, até cerca de 10 metros, expondo características geológicas que jamais foram vistas. Então quando eu fui convidado para assistir à montagem da plataforma, pedi para que Horenstein me acompanhasse.
Horenstein, 77, educador ambiental emérito do Museu Americano de História Natural, é um guia animado. Com afeto e humor ("O Bronx é gnaisse" [fazendo um trocadilho com "nice", ou "legal", em inglês]), ele é capaz de fazer as rochas tomarem vida.
"Não uma cobra fossilizada, mas uma intrusão dobrada", disse Horenstein sobre um depósito sob a 31st Street que parecia ter sido traçado por dedos abertos. Ele se maravilhou com esta prova de compressão e deformação causada pela colisão, ou colisões, das grandes placas que compunham a crosta da Terra.
Através dos olhos de Horenstein, o xisto de Manhattan, a rocha sobre a qual as torres de Nova York se erguem com tanta confiança, parece tão maleável quando um líquido.
E com bons motivos. "Estes eram depósitos de lama sobre o fundo do mar", disse Horenstein. "O calor e a pressão espremeram essas camadas e recristalizaram-nas transformando-as em xisto" – depois de períodos intermediários como xisto argiloso, ardósia e filito.
As dobras resultantes são fáceis de enxergar, porque a pegmatita derretida penetrou os vazios. A pegmatita tem um alto teor de quartzo e dessa forma provoca um enorme contraste com o xisto escuro.
Os executivos da Brookfield não veem a pegmatita com tanto entusiasmo.
"É particularmente ruim para as brocas e os equipamentos", disse Henry Caso, vice-presidente encarregado de construir o Manhattan West.
Do ponto de vista de um construtor, o xisto e a pegmatita são uma bênção e uma maldição. A presença de tanta rocha permite que a Brookfield siga adiante com seu plano incomum para o Manhattan West, um projeto de US$ 5 bilhões que deve ser concluído em 2019.
As torres de escritórios serão construídas na Ninth Avenue e 31st Street e na Ninth Avenue e 33rd Street. Um prédio de apartamentos deve ser construído na Avenida Dyer e 31st Street, em frente a um hotel na Avenida Dyer com a 33rd Street. Um prédio já existente no extremo oeste do pátio, na 450 W. 33rd Street, deve ser recoberto em vidro para combinar com o resto do complexo.
Os novos prédios não ficarão sobre a plataforma, mas sobre os afloramentos de rocha ao longo dos extremos norte e sul do pátio de trens. Contudo, pares das torres de escritório vão ficar em balanço sobre a plataforma, que deve se tornar uma praça arborizada.
A plataforma é composta de segmentos enormes e ocos de concreto. Eles têm 1,8 metro de largura, 4,5 a 9 metros de comprimento e mais de 3,5 metros de altura. Eles pesam até 56 toneladas cada. Trinta e nove desses segmentos são necessários para cobrir todo o pátio.
Um guindaste pega as partes e as monta em uma plataforma temporária acima dos trilhos. As partes são coladas com epóxi e amarradas com cabos de aço. Esticados com força, esses cabos criam tanta tensão que as partes se tornam uma estrutura capaz de se auto-sustentar, e depois disso a plataforma pode ser removida.
Por analogia, imagine prender meia dúzia de blocos de construção juntos com um elástico justo. Você poderia colocar a pilha na horizontam que ela se sustentaria.
"A Amtrak revisou e aprovou o projeto da Manhattan West", disse Craig Schulz, porta-voz da ferrovia, "e continuará trabalhando de forma cooperativa com a empreiteira durante toda a construção para garantir que a segurança de nossos passageiros não seja comprometida."
Enquanto caminhávamos pelo pátio, contudo, parecia que todas as conversas sobre as mudanças na crosta terrestre começaram a afetar Caso.
"Você não acha que estamos prestes a outra colisão, acha?", ele perguntou a Horenstein.
"Ainda não", disse o geólogo, confortando-o. "Só daqui a uns 50 milhões de anos."
Tradutor: Eloise De Vylder

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