sábado, 18 de março de 2017

Governo americano pede informações sobre fraude em inspeção de carnes
O ministro Blairo Maggi afirma que já foi procurado por autoridades de EUA e Europa
 
O governo americano, que em meados do ano passado passou a autorizar a importação de carne in natura do Brasil, afirmou que está “monitorando” a situação do país após a PF deflagrar a operação “Carne Fraca”. Autoridades temem que o episódio possa ser uma desculpa perfeita para que a administração de Donald Trump, com viés protecionista, barre o produto brasileiro novamente.
“Neste momento, o Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos (FSIS) do Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) está trabalhando com funcionários do USDA no Brasil para saber mais sobre esse assunto. Também estamos em contato com o Ministério da Agricultura do Brasil e continuaremos monitorando a situação”, afirmou a nota.
O ministro da Agricultura no Brasil, Blairo Maggi, afirmou já ter sido procurado por representantes dos Estados Unidos e da União Europeia, que pediram informações. O escândalo abala a imagem do Brasil, o maior exportador de carnes do planeta.
— Isso nos deixa bastante preocupados. O consumidor vai buscar outros produtos — previu o secretário-adjunto do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki.
Ele ponderou, entretanto, que um escândalo muito maior abalou a União Europeia: a venda de carne de cavalo. E lembrou que, após a comoção, houve melhora dos processos de fiscalização e a confiança foi retomada.
Para ele, um quesito reforça a segurança das exportações de carne brasileira. Ele disse que há uma dupla checagem: tanto no Brasil quanto nos 150 países que recebem o produto. Foi assim que a Itália identificou a carne com salmonela proveniente do frigorífico goiano envolvido no escândalo.
INSPEÇÃO GARANTE QUALIDADE DA CARNE NOS EUA
Nos EUA, o FSIS tentou tranquilizar a população americana, lembrando que toda a carne que entra nos Estados Unidos passa por testes e “reinspeção“. “O FSIS recusará a entrada para importar remessas contendo patógenos que colocam os consumidores americanos em risco”, indicando que todos os produtos que entraram até agora do Brasil são “seguros e saudáveis”.
“O Sistema Automatizado de Informação sobre Importação (AIIS) atribui vários outros tipos de inspeção, incluindo exames de produtos e análises laboratoriais microbiana e química. Cerca de 65 inspetores do FSIS realizam uma reinspecção em cerca de 150 estabelecimentos oficiais de importação”, afirma a nota.
Fontes ligadas a autoridades do comércio entre os dois países, entretanto, afirmam que a notícia impacta fortemente a imagem do produto brasileiro e pode gerar problemas. Além de impedir um aumento de importação, pode ser utilizado como argumento para criar novas barreiras sanitárias aos alimentos brasileiros. O episódio ainda afeta a credibilidade de empresas brasileiras que atuam nos EUA — a JBS, por exemplo, é dona da Swift e da Pilgrim, líderes nacionais em diversos alimentos. Procurado, Luiz Caruso, adido agrícola do Brasil nos EUA, não deu entrevistas, afirmando que o Ministério da Agricultura estava esclarecendo os fatos em Brasília.
Para Tarso Veloso, analista da consultoria especializada em alimentos AG Resources, de Chicago, estima que os danos ser"ao generalizados para diversos alimentos do Brasil:
— A imagem de todo o setor fica arranhada, este caso passa a impressão de que falta regulamentação e qualidade por parte do governo brasileiro. Algo tão grande não deixa ninguém com certeza de que tudo está sob controle — disse ele.
Ele afirmou que as empresas de carne brasileiras em todo o mundo sentirão os impactos de forma mais severa nas próximas semanas, mas que o Brasil sempre teve uma imagem ruim, com diversos produtos banidos de mercados importantes por temor de doenças e uso de substâncias irregulares na criação dos produtos.
— O governo e os produtores vão tentar minimizar, dizendo que é um caso isolado, mas o dano já está feito, inclusive para a operação destas empresas nos EUA, em linhas que não tem nenhuma relação com o Brasil — disse.

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