Governo americano pede informações sobre fraude em inspeção de carnes
O ministro Blairo Maggi afirma que já foi procurado por autoridades de EUA e Europa
Henrique Gomes Batista e Gabriela Valente - O Globo
O governo americano, que em meados do ano passado passou a autorizar a importação de carne in natura
do Brasil, afirmou que está “monitorando” a situação do país após a PF
deflagrar a operação “Carne Fraca”. Autoridades temem que o episódio
possa ser uma desculpa perfeita para que a administração de Donald
Trump, com viés protecionista, barre o produto brasileiro novamente.
“Neste momento, o Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos (FSIS)
do Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) está
trabalhando com funcionários do USDA no Brasil para saber mais sobre
esse assunto. Também estamos em contato com o Ministério da Agricultura
do Brasil e continuaremos monitorando a situação”, afirmou a nota.
O ministro da Agricultura no Brasil, Blairo Maggi, afirmou já ter
sido procurado por representantes dos Estados Unidos e da União
Europeia, que pediram
informações. O escândalo abala a imagem do Brasil, o maior exportador de
carnes
do planeta.
— Isso nos deixa bastante preocupados. O consumidor vai buscar outros
produtos — previu o secretário-adjunto do Ministério da Agricultura,
Eumar Novacki.
Ele ponderou, entretanto, que um escândalo muito maior abalou a União
Europeia: a venda de carne de cavalo. E lembrou que, após a comoção, houve
melhora dos processos de fiscalização e a confiança foi retomada.
Para ele, um quesito reforça a segurança das exportações de carne brasileira.
Ele disse que há uma dupla checagem: tanto no Brasil quanto nos 150 países que
recebem o produto. Foi assim que a Itália identificou a carne com salmonela
proveniente do frigorífico goiano envolvido no escândalo.
INSPEÇÃO GARANTE QUALIDADE DA CARNE NOS EUA
Nos
EUA, o FSIS tentou tranquilizar a população americana, lembrando que
toda a carne que entra nos Estados Unidos passa por testes e
“reinspeção“. “O FSIS recusará a entrada para importar remessas contendo
patógenos que colocam os consumidores americanos em risco”, indicando
que todos os produtos que entraram até agora do Brasil são “seguros e
saudáveis”.
“O Sistema Automatizado de Informação sobre Importação (AIIS) atribui
vários outros tipos de inspeção, incluindo exames de produtos e
análises laboratoriais microbiana e química. Cerca de 65 inspetores do
FSIS realizam uma reinspecção em cerca de 150 estabelecimentos oficiais
de importação”, afirma a nota.
Fontes ligadas a autoridades do comércio entre os dois países,
entretanto, afirmam que a notícia impacta fortemente a imagem do produto
brasileiro e pode gerar problemas. Além de impedir um aumento de
importação, pode ser utilizado como argumento para criar novas barreiras
sanitárias aos alimentos brasileiros. O episódio ainda afeta a
credibilidade de empresas brasileiras que atuam nos EUA — a JBS, por
exemplo, é dona da Swift e da Pilgrim, líderes nacionais em diversos
alimentos. Procurado, Luiz Caruso, adido agrícola do Brasil nos EUA, não
deu entrevistas, afirmando que o Ministério da Agricultura estava
esclarecendo os fatos em Brasília.
Para Tarso Veloso, analista da consultoria especializada em alimentos
AG Resources, de Chicago, estima que os danos ser"ao generalizados para
diversos alimentos do Brasil:
— A imagem de todo o setor fica arranhada, este caso passa a
impressão de que falta regulamentação e qualidade por parte do governo
brasileiro. Algo tão grande não deixa ninguém com certeza de que tudo
está sob controle — disse ele.
Ele afirmou que as empresas de carne brasileiras em todo o mundo
sentirão os impactos de forma mais severa nas próximas semanas, mas que o
Brasil sempre teve uma imagem ruim, com diversos produtos banidos de
mercados importantes por temor de doenças e uso de substâncias
irregulares na criação dos produtos.
— O governo e os produtores vão tentar minimizar, dizendo que é um
caso isolado, mas o dano já está feito, inclusive para a operação destas
empresas nos EUA, em linhas que não tem nenhuma relação com o Brasil —
disse.
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