sábado, 18 de março de 2017

"Um se corrompe, o Brasil inteiro paga a conta", diz ministro sobre Carne Fraca
fonte: Marcelo Camargo/Agência Brasil
"Nós vamos nos próximos dias tentar depurar o que realmente é o malfeito, o problema, e o sensacionalismo que tem no problema", minimizou Blairo Maggi, ao referir-se às descobertas da Polícia Federal
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan neste sábado (18), o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento minimizou as fraudes no mercado de carnes no Brasil descobertas pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal (PF), que teria atingido apenas uma pequena porcentagem da produção, com adulteração e venda de carne vencida, uso irregular de carne de porco e até de papelão na confecção de produtos alimentícios.
Ao mesmo tempo, Blairo Maggi reconheceu que "voltamos dez casinhas para trás" e que "não será uma tarefa fácil" recuperar a imagem do Brasil no mercado internacional. Nesta sexta (17) em que foi deflagrada essa que foi considerada "a maior operação da história da PF", as ações na Ibovespa das gigantes JBS e BRF, supostamente envolvidas nas fraudes, caíram 10,59% e 7,25% respectivamente, uma perda bilionária de valor das empresas frigoríficas.
"Nós temos um sistema importante, robusto, porém comandado por pessoas. E quando uma pessoa se corrompe numa linha dessa, infelizmente o Brasil inteiro paga uma conta, não são só os produtores, tem a imagem do País, a desconfiança inclusive dos consumidores internos", reconheceu Maggi.
Preocupar-se ou não? 
O ministro destacou que foram confirmadas pela PF "só" três plantas de produção com irregularidades comprovadas e garante que o consumidor não precisa se preocupar ao visitar o açougue ou o supermercado. "Nesse momento o que a Polícia Federal impôs são três plantas de um total de mais de 2,8 mil plantas que temos trabalhando", afirmou. "Se forem só essas três plantas encontradas, ou as 21 sob suspeita, o potencial é muito pequeno. Não é uma coisa para se preocupar", reiterou o ministro, contradizendo-se logo na sequência da fala: "obviamente tem que se preocupar porque, onde há um problema, podemos ter muitos". "Eu quero dizer ao consumidor brasileiro que tenha toda a tranquilidade. Os problemas levantados e ainda não confirmados são pequenos dentro do processo que nós temos", reiterou Blairo Maggi, reaforçando a "responsabilidade" do ministério, que teve servidores envolvidos no esquema. "O ministério da Agricultura será o mais transparente possível. Nós não vamos esconder absolutamente nada. Aqueles que têm problemas serão penalizados pela lei. Servidores públicos serão mandados embora depois do processo legal. Não tenho como compactuar, perdoar, relevar esse tipo de situação", declarou.
Carne ruim na prateleira?
O ministro da Agricultura e Pecuária afirmou que verificará quando foi feito o levantamento da Polícia Federal que apontou as fraudes nos alimentos, classificadas sempre por Maggi como "problemas". "Se foi há 30 dias, não temos mais mercadoria nos frigoríficos nem nos supermercados", disse. "Nós estamos fazendo esse levantamento e temos a condição de saber exatamente de onde as mercadorias saíram e para onde elas foram. Se estiver nas prateleiras, vamos retirar essas mercadorias, aliás as próprias empresas devem tomar essa decisão e fazer um recall", espera Maggi.
"10 casinhas"
O Brasil hoje responde por 7% do mercado internacional de carne e o ministro teme pela repercussão do escândalo. "Não será uma tarefa fácil o que vem pela frente. Há muito tempo o setor de carne no Brasil vem trabalhando e tinha um verdadeiro esforço de governo e de sociedade para conquistar esse espaço no mercado", relembra. Maggi reconhece que pode acontecer agora algo semelhante às consequências do surto da febre aftosa em 2005, que atingiu as exportações à época (47 países deixaram de comprar carne brasileira temporariamente): "é possível, infelizmente é possível".

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
"Me parece que tem sentido de tê-la (a operação da Polícia Federal), mas talvez a forma que ela foi conduzida, nós vamos nos próximos dias tentar depurar o que realmente é o malfeito, o problema, e o sensacionalismo que tem no problema", minimizou, destacando em seguida que "vamos ter que remar. Voltamos dez casinhas para trás. Vamos ter que refazer isso (readquirir a confiança do mercado externo".
Para isso, já há uma reunião urgente marcada para a próxima segunda (20) entre membros do ministério da Agricultura e representantes europeus do mercado da carne.
"Vamos ter que conversar com os mercados, com as agências reguladoras de fora e mostrar mais uma vez que eles são firmes. Temos que nos disponibilizar para que eles venham para o Brasil novamente checar aquilo que nós temos", aguarda Maggi. As reuniões tentarão "mostrar que o nosso sistema é um sistema forte".
O ministro ainda refutou a ideia de que alguma carne estragada tenha ido para a exportação. "Sempre que exportamos carnes para um país, os países importadores mandam missões para o Brasil", relata. "Missões vão a campo e se certificam que aquilo que temos no papel efetivamente é o que nós temos em campo. Só depois disso é aprovada a exportação. Quando chega (no país estrangeiro), há um novo sistema de checagem", afirma.
"Acho impossível chegar carne estragada em outro país e, se chegar, ela não vai para o mercado", garante, sobre o mercado internacional.

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