Rodrigo Constantino
A sensação que dá a leitura dos jornais
brasileiros é a de que ingressei numa máquina do tempo. Apesar da
devastação deixada pelo PT, do estrago causado pelas mirabolantes ideias
esquerdistas, da destruição produzida pela heterodoxia
nacional-desenvolvimentista, eis que os “debates” continuam girando em
torno das mesmas baboseiras.
Pegue o caso do Banco Central, por
exemplo. No mundo todo desenvolvido, não há dúvidas de que tê-lo
independente das pressões do governo, com uma meta de inflação
estabelecida que deverá ser sua prioridade, representa o modelo mais
eficiente para impedir abusos populistas, ou seja, inflacionistas.
Mas não no Brasil. Mesmo depois de o
governo Dilma ter tornado o Bacen completamente subserviente ao
Planalto, com os terríveis resultados apresentados, a triste realidade é
que o “debate” ainda está entre a autonomia operacional ou não do
banco. Independência legal sequer entra em pauta.
No GLOBO de hoje há o editorial
do jornal tomando o partido mais racional, e um petista, que deveria
estar respondendo por dólares na cueca do assessor, pregando que a
política monetária é decisão do governo e não de tecnocratas.
O jornal toca nos pontos certos, mas não
tem a coragem de defender abertamente a única conclusão lógica de suas
premissas: o Bacen deve ser totalmente independente por lei. Diz o editorial:
Entre
inúmeros conceitos econômicos em torno dos quais especialistas e
políticos se digladiam está a autonomia do Banco Central. A inevitável
contaminação ideológica do debate produz bizarrices. Como a ideia de o
BC ser capturado por interesses malévolos do capitalismo financeiro e,
assim, preservar juros nas nuvens e espalhar miséria pelo país. O ícone
desta fantasia foram os filmetes da campanha à reeleição de Dilma
Rousseff produzidos por João Santana e Mônica Moura, em que banqueiros
faziam a comida desaparecer da mesa do pobre. Foi um grande estelionato
eleitoral. No fim, Dilma perdeu o mandato e o casal foi preso.
Dilma, na
campanha, centrou fogo contra qualquer autonomia do BC, política
defendida pelo seu adversário mais forte, o tucano Aécio Neves. Entre
vários argumentos, há o de que o manejo dos juros é tão importante que
apenas quem for eleito tem legitimidade para tratar do assunto. O
problema é que voto não dá conhecimento técnico, nem bom senso.
A própria Dilma Rousseff era, ela mesma, um forte argumento contrário à interferência na ação do BC. Pois foi o que fez, ao induzir a autoridade monetária, presidida por Alexandre Tombini, a reduzir os juros na base da canetada. Assim ocorreu e, de 2011 para 2012, as taxas caíram de 12,5% para 7,25%. Tudo faturado politicamente.
A própria Dilma Rousseff era, ela mesma, um forte argumento contrário à interferência na ação do BC. Pois foi o que fez, ao induzir a autoridade monetária, presidida por Alexandre Tombini, a reduzir os juros na base da canetada. Assim ocorreu e, de 2011 para 2012, as taxas caíram de 12,5% para 7,25%. Tudo faturado politicamente.
Como
esperado, a inflação subiu de patamar — passou para a faixa dos 6%/6,5%,
este o teto da meta de 4,5%. Depois, vitoriosa na campanha, Dilma não
sobreviveu à mistura das criminosas fraudes contábeis, da recessão e da
disparada do desemprego. Com um BC sem credibilidade — palavra-chave em
política monetária —, a inflação atingiu a zona de extremo perigo dos
dois dígitos.
Para o editorial, “não há o que discutir
sobre o conceito de autonomia dos bancos centrais”. E é verdade. O que
dá para discutir seriamente é se deve existir um banco central, algo que economistas “austríacos” questionam com razão.
Mas debater se um banco central deve ter
ou não autonomia é algo completamente ultrapassado. E para garantir a
autonomia, é óbvio que o banco central deve ser independente por lei,
para não correr o risco de ser capturado pelo governo.
O petista convidado para expressar a
“outra opinião” acha que não é nada disso. Ele “pensa” que tratamos a
independência do Bacen como uma “panaceia”, e que é entrar numa “barca
furada” essa postura, pois o banco seria capturado pelos “conglomerados
financeiros”. Logo, eis a “brilhante” conclusão:
Quem tem
de definir a política econômica do país, com forte impacto no dia a dia
da população, é um governo eleito, e não técnicos financeiros. O governo
não pode abrir mão de sua autoridade monetária. Mesmo porque ninguém
garante que maior independência do BC signifique menores índices de
inflação e menos privilégios para o setor financeiro.
Ninguém garante? Só a comprovação
empírica. Não serve? Só a sólida teoria econômica. Não serve? Então
vamos testar uma vez mais um modelo como aquele colocado em prática por
Dilma, para ver se dessa vez vai. Quem sabe assim o Brasil não chega ao
patamar incrível de progresso da Venezuela?
O professor Denis Rosenfield, em coluna
no mesmo jornal, compara o Brasil com o Titanic, para reforçar a ideia
de que, sem as reformas propostas pelo atual governo de transição, o
país afundará. Novamente, são questões pacíficas para economistas
sérios, coisas evidentes como as vantagens de leis trabalhistas mais
flexíveis, da terceirização, das estatais com gestão profissional (o
certo seria privatizá-las) ou das mudanças previdenciárias. Rosenfield
conclui:
Se a
reforma da Previdência não vier a ser aprovada, o Brasil pode afundar
como o Titanic. Vamos continuar dançando como se estivéssemos em um
salão de festas? Vamos perseverar na verborragia demagógica e
ideológica?
Eis a dúvida cruel: será que algum dia o
Brasil vai se livrar da verborragia demagógica e ideológica? Ela não
teve um passado glorioso em nosso país? E tudo não indica que ainda
possui um futuro promissor? Ao julgar pelo nível de nossos “debates”,
parece que sim.
Um economista sério fica com a impressão
de que, se o assunto fosse física, estaríamos debatendo se a Terra é
quadrada ou redonda, em vez de avaliar as nuanças do seu arredondamento.
E, para piorar a coisa, não é apenas a esquerda que flerta com o
atraso: o candidato da direita tem uma obsessão espantosa com o nióbio, e
parece desejar que sua exploração seja por meio do estado. O Brasil
definitivamente cansa…
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