quinta-feira, 6 de abril de 2017

Erro de Maduro fortalece a estratégia do Mercosul para a Venezuela
Matias Spektor - FSP
Semana passada, o chavismo, quando anulou as decisões do Parlamento, retirando a imunidade dos congressistas e absorvendo suas funções legislativas, cometeu um erro.
A quebra escancarada do Estado de Direito provocou aquilo que o regime em Caracas tentava evitar: o fortalecimento de uma coalizão internacional opositora, no âmbito do Mercosul. Em poucas horas, os quatro países fundadores do grupo convocaram uma reunião de urgência para repudiar as medidas adotadas. Dando-se conta do próprio equívoco, o regime recuou, anulando as decisões.
O episódio inaugurou um momento novo nas relações internacionais da América do Sul. Pela primeira vez em 20 anos, criou-se o espaço político necessário para pressionar a Venezuela para além da retórica e do gesto inócuo.
Em seu encontro, os membros fundadores do Mercosul apresentaram quatro demandas às autoridades venezuelanas: a separação de Poderes, a manutenção do calendário eleitoral, a liberação dos presos políticos e a realização de uma missão especial do Mercosul ao país para avaliar a situação no terreno.
Diante dessa nova circunstância, o governo de Nicolás Maduro tem duas opções básicas. Ele pode rejeitar a missão com estardalhaço, na expectativa de dividir o Mercosul, atrasar o processo e demonstrar força aos grupos que o apoiam. Ou ele pode aceitar a proposta e negociar os termos da missão, na medida do possível, para enfraquecê-la.
De um jeito ou de outro, trata-se de um contexto novo. Afinal, o chavismo sobreviveu durante duas décadas graças a uma diplomacia habilidosa que evitou choques frontais com terceiros países. Basta lembrar que a política externa de Caracas conseguiu neutralizar os Estados Unidos, dividir a Unasul, silenciar a Organização dos Estados Americanos e o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Conseguiu também dinheiro da China, armas da Rússia e legitimidade do Vaticano.
No Brasil, o chavismo obteve apoio político, crédito farto e negócios rentáveis. As delações de João Santana e Marcelo Odebrecht ajudarão a entender os detalhes do enredo, antes e depois da campanha presidencial de Maduro, em 2013.
O cenário aberto nesta semana é diferente. Agora, a degradação do processo político venezuelano é irreversível. Caberá ao Mercosul manter as cobranças, realizar sua missão e estabelecer um canal de comunicação direta com todos os atores, inclusive os militares, sem os quais não haverá alternativa democrática nos próximos anos.
Tudo isso faz a gente lembrar que o Mercosul, quando anda unido, tem força. E sua pressão, se bem aplicada, tem efeito concreto. O desafio agora para os quatro membros é manter a chama acesa e o rumo intacto.

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