Obras em sítio usado por Lula foram feitas com notas frias
Delator diz que reforma, pedida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia, passou de R$ 500 mil para R$ 1 milhão
Flávio Freire - O Globo
As obras no sítio de Atibaia, apontado como uma das peças chaves na
investigação contra o ex-presidente Lula, foram feitas com notas frias
negociadas pelo próprio advogado do líder petista, Roberto Teixeira. A
reforma no imóvel foi pedida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia
diretamente a Odebrecht, que gastou no local R$ 1 milhão para um serviço
inicialmente orçado em R$ 500 mil. Para evitar suspeitas sobre o
trabalho que era feito no local, a empreiteira orientou seus
funcionários a não usarem uniforme e todo o material comprado em lojas
da região foi pago com dinheiro vivo.
As
informações constam do relato, em delação premiada, do ex-diretor de
Relações Institucionais da empreiteira, Alexandrino Alencar, responsável
por acompanhar as obras no sítio. Depois de explicar os detalhes da
operação que levaram à empreiteira a assumir a reforma no imóvel,
Alexandrino disse que, ao fim dos trabalho, foi chamado por Teixeira
para “formalizar” o processo.
“Aparece um pessoal de engenharia, constrói a coisa, foi embora. E
essa conta, como aparece?”, disse Teixeira, segundo relato do ex-diretor
da empreiteira. Ainda segundo o delator, as notas fiscais foram
forjados de forma a se “encaixar no perfil” de Fernando Bittar,
oficialmente proprietário do imóveis. “Tudo foi feito de forma
escalonada, para que não suspeitasse: como o Fernando (Bittar) pagou
essa conta?”.
Com a justificativa de que o envolvimento da Odebrecht na reforma
provocaria uma “sensibilidade”, uma vez que se tratava de um sítio que
seria usado pelo presidente Lula, Alexandrino disse que orientou seus
funcionários.
— Em função da sensibilidade do processo, nenhum dos nossos
funcionarios usou macacão da Odebrecht, e as contas dos materiais na
região foram feitas com dinheiro vivo. Para não comprometer, já que era o
presidente Lula, o sistema Odebrecht. Eles (sem explicar quem) acharam
por bem, e eu acho que faz sentido tomar essa precaução — disse o
delator.
Vista aérea do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) - Reprodução TV Globo
Em
nota, Roberto Teixeira afirmou que “jamais combinei com Alexandrino
Alencar ou com qualquer outra pessoa de 'forjar' notas fiscais. De
acordo com o defensor, a ilação é "absurda e caluniosa" e não tem
respaldo na delação. "Sou advogado atuante há 47 anos, já fui presidente
por duas vezes da Subscecional de São Bernardo do Campo da OAB e jamais
participei de qualquer ato ilícito", diz nota do advogado. "Delação não
é meio de prova e muito menos pode ser utilizada por jornalistas ou
veículos de imprensa para construir suas próprias versões", conclui
Teixeira.
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