sábado, 15 de abril de 2017

Obras em sítio usado por Lula foram feitas com notas frias
Delator diz que reforma, pedida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia, passou de R$ 500 mil para R$ 1 milhão 
Flávio Freire - O Globo
As obras no sítio de Atibaia, apontado como uma das peças chaves na investigação contra o ex-presidente Lula, foram feitas com notas frias negociadas pelo próprio advogado do líder petista, Roberto Teixeira. A reforma no imóvel foi pedida pela ex-primeira-dama Marisa Letícia diretamente a Odebrecht, que gastou no local R$ 1 milhão para um serviço inicialmente orçado em R$ 500 mil. Para evitar suspeitas sobre o trabalho que era feito no local, a empreiteira orientou seus funcionários a não usarem uniforme e todo o material comprado em lojas da região foi pago com dinheiro vivo.
As informações constam do relato, em delação premiada, do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, Alexandrino Alencar, responsável por acompanhar as obras no sítio. Depois de explicar os detalhes da operação que levaram à empreiteira a assumir a reforma no imóvel, Alexandrino disse que, ao fim dos trabalho, foi chamado por Teixeira para “formalizar” o processo.
“Aparece um pessoal de engenharia, constrói a coisa, foi embora. E essa conta, como aparece?”, disse Teixeira, segundo relato do ex-diretor da empreiteira. Ainda segundo o delator, as notas fiscais foram forjados de forma a se “encaixar no perfil” de Fernando Bittar, oficialmente proprietário do imóveis. “Tudo foi feito de forma escalonada, para que não suspeitasse: como o Fernando (Bittar) pagou essa conta?”.
Com a justificativa de que o envolvimento da Odebrecht na reforma provocaria uma “sensibilidade”, uma vez que se tratava de um sítio que seria usado pelo presidente Lula, Alexandrino disse que orientou seus funcionários.
— Em função da sensibilidade do processo, nenhum dos nossos funcionarios usou macacão da Odebrecht, e as contas dos materiais na região foram feitas com dinheiro vivo. Para não comprometer, já que era o presidente Lula, o sistema Odebrecht. Eles (sem explicar quem) acharam por bem, e eu acho que faz sentido tomar essa precaução — disse o delator.
 Vista aérea do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) - Reprodução TV Globo 
Em nota, Roberto Teixeira afirmou que “jamais combinei com Alexandrino Alencar ou com qualquer outra pessoa de 'forjar' notas fiscais. De acordo com o defensor, a ilação é "absurda e caluniosa" e não tem respaldo na delação. "Sou advogado atuante há 47 anos, já fui presidente por duas vezes da Subscecional de São Bernardo do Campo da OAB e jamais participei de qualquer ato ilícito", diz nota do advogado. "Delação não é meio de prova e muito menos pode ser utilizada por jornalistas ou veículos de imprensa para construir suas próprias versões", conclui Teixeira.

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