Se cuida, Palocci
Assim como aconteceu com todos os petistas que foram
envolvidos no mensalão e/ou petrolão, dos mais graúdos, como José
Dirceu, aos mais desimportantes, o ex-presidente Lula começa a jogar às
feras um de seus principais assessores, o ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci.
Já não se trata mais de tentar negar que sejam
verdadeiras as acusações contra ele. Tão difícil negar que já alguns
blogueiros ligados ao PT criticam a relação de Lula com a Odebrecht.
Diante das delações dos executivos da empreiteira, especialmente Marcelo
Odebrecht, começam a pipocar aqui e ali, nas declarações do próprio
Lula ou em textos escritos por jornalistas ligados ao PT em blogs ou na
imprensa tradicional, insinuações de que não há prova de que o dinheiro
sacado por Palocci ou seus prepostos tenha realmente chegado a Lula.
O
ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, detalhou nos seus
depoimentos como foi criada a conta “Amigo”, que, ele confirmou, se
referia a Lula. Disse que algumas vezes Palocci pedia para fazer
pagamentos cujo beneficiário final era Lula. Para não transparecer para
quem era o dinheiro, decidiram criar uma sub-conta na planilha
“italiano” (referência a Palocci) para o “Amigo”, e esse dinheiro passou
a ser usado por ordem de Palocci ou de um operador seu, Branislav
Kontic.
Isso aconteceu na troca de governo para Dilma, quando
Marcelo Odebrecht preferiu se acautelar, pois seria Dilma quem passaria a
usar a conta-corrente do PT, que tinha um saldo “de uns R$ 40 milhões”.
Segundo explicou, decidiu “provisionar uma parte deste saldo” e colocou
R$ 35 milhões na conta “Amigo”, “para uso que fosse de orientação de
Lula”.
O que está servindo de argumento para incriminar Palocci é
que Marcelo Odebrecht disse que Lula nunca pediu dinheiro diretamente, e
que “tudo foi combinado com Palocci, mas ao longo dos usos do dinheiro
ficou claro que era realmente para o Lula”.
Marcelo disse que as
únicas comprovações que tem de uso do dinheiro por Lula foram a compra
de um imóvel que seria destinado ao Instituto Lula, cujo contato teria
sido feito por Paulo Okamotto ou José Carlos Bumlai, e um pedido de
doação para o próprio Instituto.
A promiscuidade era tamanha que
Marcelo chama o assessor de Palocci de Brani (Branislav Kontic). Segundo
o executivo Fernando Migliacicio, que também fez delação premiada,
Brani “fazia saques de até 1 milhão de reais em dinheiro vivo”. Diante
do espanto do interrogador, Migliaccio explicou, com conhecimento de
expert que, dependendo das cédulas, cabiam até 2 ou 3 milhões de reais
em uma mochila.
Uma das planilhas do departamento de propinas da
empreiteira mostra que ele sacou 13 milhões de reais, que teriam sido
entregues a Lula. Marcelo Odebrecht contou à Procuradoria Geral da
República que "não questionava o uso" do dinheiro. "Ele (Palocci) me
dizia assim: 'Ó, Marcelo, o Juscelino Dourado ou o Brani (que sucedeu
JD) vai procurar seu pessoal e acertar uns pagamentos'."
Ao mesmo
tempo em que seus aliados defendem a tese de que não há provas de que o
dinheiro seria de Lula, e surgem as insinuações de que Palocci ou Brani
teriam ficado com o dinheiro, o próprio Lula deixou no ar essa
desconfiança, como em uma entrevista a uma rádio baiana: “Eu continuo
desafiando qualquer empresário brasileiro, qualquer empresário, a dizer
que um dia o Lula pediu R$ 10 pra ele ou alguém. Se alguém pediu em meu
nome, a pessoa que pediu tem que ser presa, porque eu nunca autorizei
ninguém a pedir dinheiro em meu nome”.
Não vai demorar muito para que Palocci ou Brani, ou os dois, decidam fazer uma delação premiada para esclarecer as coisas.
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