Ex-diretor diz que OAS tinha ‘departamento de propina’
Agenor Medeiros diz que área cuidava de pagamentos a partidos e se chamava ‘controladoria’
Gustavo Schmitt, Tiago Dantas e Dimitrius Dantas - O Globo
Assim como a Odebrecht, a OAS também tinha um departamento de
propinas. Agenor Medeiros, ex-diretor-presidente da área internacional
da empreiteira, afirmou ao juiz Sergio Moro, na tarde desta
quinta-feira, que a empreiteira tinha uma área para cuidar de vantagens
indevidas. Agenor explicou que o setor se chamava "controladoria" e
operacionalizava pagamentos a partidos políticos por ordem de Leo
Pinheiro, ex-presidente da empresa.
Ele contou que as propinas tinham origem em contratos de diversas
obras públicas que a empreiteira realizava no país. Mencionou repasses a
partidos nos contrato da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O
ex-diretor disse ainda que nessa obra o PT recebeu pagamentos de R$ 16
milhões, o PP ficou com mais R$ 13, 5 milhões e o PSB com R$ 6, 5
milhões — esse recurso teria sido aplicado na campanha de Eduardo
Campos, em 2010.
— Existe uma área na empresa que é justamente a área que trabalha
nessa parte de vantagens indevidas é uma área que chama controladoria,
onde são feitas doações a partidos até de forma oficial. Essa área
cuidava de pagamentos de fornecedores de campanha, gráficas e outras
coisas mais — informou Agenor. — Havia um gerente de controladoria, o
Mateus Coutinho, que se reportava ao diretor financeiro (Sergio
Pinheiro) e este último ao presidente. Existia um grupo de pessoas que
trabalhavam com ele (Coutinho).
Agenor disse ainda que a OAS tinha um caixa único de propina para fazer pagamentos de propina ao PT.
— O PT tinha um tratamento diferenciado porque eram maiores valores
envolvidos. Quem operacionalizava esses pagamentos era o Leo Pinheiro.
O ex-executivo falou a Moro na ação penal em que o Ministério Público
Federal (MPF) acusa Lula de receber o tríplex da construtora OAS. No
final do mês passado, Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, já havia
admitido repasses de propina a partidos nas obras de Abreu e Lima.
Agenor disse ainda que Leo Pinheiro comentou com ele que a empresa
fez reformas no tríplex do Guarujá e que o imóvel estava destinado ao
ex-presidente Lula:
— Numa viagem internacional, Leo relatou que tinha tido acerto com
João Vaccari no sentido de compensar prejuízos que empresa estava tendo
com alguns eventos, como as obras do Bancoop que a OAS assumiu, a
reserva de um apartamento triplex no Guarujá. Este seria do presidente
Lula, ele me falou de reformas que estava executando nesse apartamento,
também de reformas no sitio de Atibaia, que também seria do presidente
Lula.
PT TERIA AJUDADO OAS
Agenor também contou
como a OAS entrou nos processos de licitação da Petrobras. Segundo o
ex-diretor da empreiteira, a empresa decidiu disputar licitações da área
industrial da Petrobras por volta de 2005. No entanto, apesar do
cadastro na estatal, não era convidada para as licitações. De acordo com
Agenor, um grupo de empresas que dominavam o setor, aliadas aos
diretores da Petrobras, direcionavam os convites dentro do próprio
cartel. Neste momento, segundo Agenor, o ex-presidente da OAS Léo
Pinheiro fez uma "ação com o governo federal". Questionado pelo juiz que
tipo de ação foi essa, o ex-executivo respondeu que não sabia com quem
Léo tinha falado, mas contou que a relação do ex-presidente com o PT era
conhecida na empresa.
— O Léo tinha uma ligação forte com o partido que governava o país na
época, que era o PT, e ele tinha um ativo político diferenciado com
esse partido. O que ele fez foi pedir — disse Agenor Medeiros, que
emendou: — O agente com quem ele falou, não sei. Só sei que Léo tinha
uma ligação estreita com o ex-presidente Lula, que isso remonta dos
tempos de sindicato. Era uma relação muito forte e todos nós na empresa
sabemos dessa relação forte. Ele deve ter procurado, certamente, os
cardeais do partido. Não sei quem foi, ele não me falou.
Após a interferência de Léo Pinheiro para que a OAS passasse a ser
convidada para as licitações da Petrobras, a empresa ingressou no cartel
que definia os resultados das licitações da estatal. Entre os contratos
obtidos pela empresa, em consórcio com a Odebrecht, estavam a RNEST e a
REPAR. Segundo Agenor, no entanto, a empresa não entrou em contato com
os agentes que recebiam vantagens indevidas dentro da empresa,
responsabilidade da Odebrecht. Agenor contou que diretores da empresa,
como Paulo Roberto Costa e Renato Duque, preferiam tratar com a empresa
sobre propinas.
— A Odebrecht é uma empresa que já atuava nesse setor há muito mais
tempo do que nós. Esses agentes tinham a preferência de atuar com a
Odebrecht do que com uma empresa iniciante como a nossa. Não estou
querendo tirar a nossa responsabilidade do fato — disse.
Procurada na noite desta quinta-feira, a OAS ainda não se posicionou.
Agenor Medeiros, ex-diretor-presidente da área internacional da OAS, diz que empresa tinha ‘departamento de propina’ - Reprodução
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