quarta-feira, 21 de junho de 2017

Às marretadas

O Tribunal de Justiça de São Paulo criou nova versão para a lenda do nó górdio. Reza a tradição que Alexandre, o Grande, desatou a amarra impossível com um simples e decidido golpe de espada.
Incapaz de guardar com segurança armas usadas em crimes e impedir que voltem a sê-lo, o TJ deliberou que revólveres, pistolas e fuzis sob sua custódia serão danificados. A golpes de marreta, talvez, como sugeriu um especialista.
O destino final desse armamento, depois de submetido a perícia policial e armazenado pela Justiça até encerrar-se processo, é mesmo a destruição completa. Tal tarefa cabe ao Exército, conforme acordo firmado no ano passado.
Como perícias e julgamentos não são exemplo de celeridade neste país, para dizer o menos, armas de fogo e até facas se empilham em armários das 273 comarcas do Estado. Os fóruns de Justiça, perceberam logo os criminosos, são alvos fáceis para suas investidas.
Em apenas 15 dias, roubos perpetrados em Diadema e Guarujá permitiram que 566 armas voltassem a circular de forma ilegal pelas ruas. Além da vigilância precária por seguranças despreparados, são fortes a suspeitas de colaboração de funcionários.
A fragilidade é flagrante. O Fórum de Diadema tinha só três vigilantes em serviço, nenhuma câmera operante e grades baixas, que não ofereceram obstáculo algum para a dezena de ladrões invasores.
Não que as autoridades judiciais e policiais não estivessem atentas para a debilidade —simplesmente ainda não haviam atinado com uma solução definitiva e rápida.
Há dois meses as armas submetidas a perícia não seguem mais para os tribunais; ficam armazenadas em dependências policiais —o que não resolve o problema do estoque nos fóruns. Por isso a parceria do TJ-SP com o Exército já previa acelerar a destruição, destino de 11 mil objetos desde 2016.
Na cidade de Santos, por exemplo, não há mais armamento custodiado no fórum. Além disso, armas de grosso calibre em bom estado podem ser transferidas para a polícia, como ocorreu com 37 fuzis em maio. A destinação dos artefatos segue processo lento.
O presidente do TJ-SP, Paulo Dimas Mascaretti, concorda que os fóruns carecem de estrutura para servir como depósitos de armas e pondera: "Mas também não podemos esvaziar os espaços do dia para a noite. Esse serviço é controlado pelo Exército".
A segurança pública não pode esperar. Às marretas, então.

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