Lula e Dilma não estão bem na foto de Joesley
Em análises interessadas, tenta-se tratar as
poucas menções a Lula como prova em favor do ex-presidente, mas é
impossível desconectar o PT do JBS
O Globo
Este período de mais de três anos de Lava-Jato, operação lançada em março
de 2014 pela força-tarefa baseada em Curitiba, tende a se dividir em
antes e depois da delação de Joesley Batista.
Ao denunciar o próprio presidente Michel Temer, o sócio controlador
do grupo JBS, junto com o irmão Wesley, deixou em segundo plano as
delações da Odebrecht, de seus executivos e dos acionistas Marcelo e o
pai Emílio.
Toda esta investigação histórica transita no campo instável da
política, com o envolvimento dos principais partidos — PMDB, PT, PSDB,
PP e outros de menor envergadura. Os testemunhos, os processos, as
denúncias viram munição na luta partidária e servem para inspirar as
teorias mais conspiratórias. Se essas teorias já não fossem uma
característica da própria política, em um ambiente como o atual no país
as especulações não têm limite.
Inevitável, também, que surjam análises interessadas, como a de que o
fato de Lula ser personagem aparentemente menor nos relatos de Joesley
deporia em favor do ex-presidente. Esta visão leva à outra, de que o
empresário estaria protegendo Lula, em troca da ajuda que recebeu no
governo dele e no de Dilma para constituir o JBS. Enquanto isso, aliados
de Temer veem os Batista como instrumento da Procuradoria-Geral da
República para incriminar o presidente.
O certo é que não não existe um Fla-Flu da corrupção, para se saber
quem foi mais corrupto. Não haverá um campeão. Encontram-se aí as
delações tenebrosas de Léo Pinheiro, da OAS, e as da Odebrecht sobre
Lula e companheiros. Nos autos desfilam tríplex, sítio, ciclo de
palestras idealizado para remunerar o ex-presidente, ajuda a parentes e
por aí vai. O próprio crescimento estonteante do JBS à base de dinheiro
público e acesso privilegiado ao BNDES, cujas portas lhe foram abertas
nos governos Lula e Dilma, é evidência de relações nem um pouco
republicanas com lulopetistas.
Joesley escalou o então ministro da Fazenda Guido Mantega, após a
saída de Palocci do governo Dilma, como o interlocutor sobre favores:
acesso rápido ao banco, em troca de dinheiro "não contabilizado". Ele
cita, ainda, contas de US$ 150 milhões, abertas no próprio nome, na
Suíça, para Dilma e Lula. Pelos acordos de troca de informações
existentes, não será difícil rastrear esse dinheiro. Em entrevista à
“Época”, o empresário relata ter tratado de propina para o petista
mineiro Fernando Pimental com Dilma, no Planalto.
Se Lula é mais esperto para não falar abertamente com interlocutores
sobre assuntos delicados, a fim de não ser gravado, isso não ofusca tudo
que os procuradores já sabem sobre a organização criminosa do
lulopetismo. Josley afirma que a corrupção se institucionalizou com
Lula. O que também não faz esquecer outras organizações criminosas, como
as do PMDB da Câmara e do Senado, os esquemas do PSDB paulista com o
fornecimento de trens ao estado e a influência do tucano Aécio Neves em
Furnas.
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