O nazismo era “de direita”?
Neste
episódio de nosso podcast, vamos até o Antigo Testamento e as
corporações de ofício burguesas para entender: o nazismo era de direita?
Guten Morgen, Brasilien! Depois
de uma semana em que foi impossível falar de outra coisa que não do
Apocalipse em Brasília, voltamos para entrar numa discussão que sacudiu
os debatedores de ideologias políticas na internet pouco antes: afinal, o
nazismo, ideologia do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei), era “de direita”?
O nome confunde, afinal, a Escola
Britânica de Marxismo chamou o nazismo de uma ideologia de
“extrema-direita”, conceito com o qual é ensinado até hoje como uma
descrição factual. Entretanto, os próprios nazistas nunca se denominaram
como direitistas (muito menos como muito direitistas), e não é suspeito utilizar um termo cunhado a posteriori por outros socialistas?
Foi cavando fundo o pé nesta confusão que a BBC Brasil convidou lingüistas para debater se o nazismo era “de direita”,
sendo um partido com “socialista” no nome. A solução do lingüista da
USP, Izidoro Blikstein? Simplesmente ignorar a palavra “socialista” no
nome e problem solved. Novamente: por que não questionar também a ideologia de quem nomeia, ainda mais com tal simplicidade?
Mas quem sofreu mesmo foi Rachel
Sheherazade, que no Twitter, em uma discussão com interlocutores de
esquerda, disse que Hitler fundou “o PT da Alemanha”, fazendo com que a
expressão atingisse os Trending Topics do Twitter. Um problema básico:
ninguém que tentou rir de Rachel Sheherazade de fato argumentou se
o nazismo tinha uma ideologia com a mesma base da do PT brasileiro.
Basta repetir o que já “aprenderam” com professores de História e voilà – auto-declarar vitória, ao mesmo tempo em que auto-declara o que os nazistas pensavam.
Marcelo Rubens Paiva, no Estadão, tentou
dar uma aula de História a Rachel Sheherazade, mas novamente não
argumentou: apenas disse que já leu muito essa “pérola” e essa
“abominação política”. E, novamente, problem solved.
Mas o que de fato os nazistas pensavam?
Era algo mais próximo da esquerda ou da direita? A direita política é
considerada herdeira da tradição judaico-cristã, tanto em valores quanto
em organização social. Será que o nazismo pode ter algo em comum com
uma tradição… judaico-cristã? Quem defende os judeus – pense-se no caso de Israel – hoje: a direita ou a esquerda?
Neste mais longo episódio de nosso
podcast, vamos até as bases do judaísmo no Antigo Testamento para tentar
compreender como os judeus foram vistos por outras sociedades, e por
que é o povo mais perseguido do mundo até hoje. Passamos pelo Novo
Testamento, Império Romano, Feudalismo, Renascimento, a formação do
estados-nações (que já discutimos aqui no
Guten Morgen), Iluminismo e Romantismo até entender o nacionalismo
alemão, e como todo este caldo dificílimo de ser entendido colocou os
judeus como “inimigos” de um país em formação como a Alemanha. Por que a
cultura judaico-cristã é tão importante e tão única em relação às
religiões étnicas?
Para isso, é importante analisar não só a
história, mas até mesmo o pensamento místico judaico, como a Cabala
judaica, que viveu em contraposição justamente à Cabala hermética – e
não se trata apenas de disputas místicas, mas da própria ordem fundante
da sociedade.
Tal como as corporações de ofício que
derrubaram o feudalismo, que vão formar um novo modelo de sociedade de
classe, que futuramente viria a formar instituições modernas, como
sindicatos, a política do corporativismo e, claro, os movimentos
trabalhistas do século XX. Também desse movimento surgem misticismos e
organizações iniciáticas como a maçonaria, o espiritismo ou, ainda mais
futuramente, a teosofia – todas fontes de onde o nazismo foi beber.
O
nazismo busca sua inspiração, seu modelo de organização, seus símbolos
(incluindo a suástica, ou o símbolo rúnico das SS) nestas seitas
gnósticas e nos movimentos de massa. Como podemos julgar que conseguimos
compreender o nazismo sem entender justamente o que os próprios
nazistas diziam de si próprios, e como podemos evitar novos genocídios
como o Holocausto, se estamos tão confusos com quem é quem e defendendo o
que no Terceiro Reich?
Por fim, ainda comparamos um discurso do
próprio Adolf Hitler com o que diz Marcelo Rubens Paiva em sua “aula”
para Rachel Sheherazade. Quem será que entende de fato o que pensavam os
nazistas: Adolf Hitler, segundo o que disse eu seu famoso discurso
explicando por que os nazistas eram anti-semitas (como compilado pela
revista Der Spiegel, a mais importante da Alemanha), ou Marcelo Rubens Paiva?
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