Rodrigo Constantino
O economista Paulo Guedes escreveu em sua coluna
de hoje no GLOBO sobre a crise da social-democracia brasileira, tomando
como base a entrevista de Joesley Batista à revista Época. Guedes
mostra como o “capitalismo de compadres”, num modelo com excesso de
estado, acaba fomentando a corrupção e a ineficiência de forma geral,
sem distinção partidária.
Ele tem usado seu espaço para condenar o
“Antigo Regime”, com suas “criaturas do pântano”, e pregar uma
“revolução liberal”. Ou seja, enquanto a briga parece ser entre PT e
PSDB, com o PMDB no meio, o real obstáculo para nosso progresso é o que todos eles representam: um modelo ultrapassado que impede a efetiva redução do estado e o funcionamento do livre mercado no país.
Entendo o ponto e concordo parcialmente.
Não resta dúvida de que essa hegemonia social-democrata já deu, cansou,
e todo o sistema precisa ser revisto. Desde a redemocratização tivemos
um excessivo poder concentrado no estado, como demanda social reprimida e
fruto também de uma mentalidade estatizante típica do Brasil. A coisa
fracassou. As benesses estatais não cabem mais no PIB. É preciso abraçar
o liberalismo, ou morreremos.
Tudo isso é verdade, e basta ver meus
textos para saber como compartilho dessa visão, nunca poupando o PSDB de
duras críticas. Mas não considero justo misturar o PT e o PSDB no mesmo
saco podre. Não acho correto unir os dois naquilo que se chama
“social-democracia”, pois tal rótulo seria leve demais para os petistas.
O PT é socialista mesmo, da velha escola
leninista, fundou o Foro de São Paulo ao lado de ditadores comunistas,
defende o regime venezuelano e a ditadura cubana, controla seus
“soldados paralelos” do MST, da CUT e da UNE, exalta como heróis seus
bandidos mais ousados, enfim, o PT tem claro DNA totalitário.
Já cansei de apontar para tais
diferenças entre o PT e o PSDB. Ambos merecem críticas, mas é questão de
prioridade saber quem derrotar primeiro. Um Brasil governado pelos
tucanos continua bem distante do liberalismo, mas tem salvação, pode até
ficar na mediocridade, mas também pode avançar em alguns pontos, como
avançou com o Plano Real, as privatizações, a Lei de Responsabilidade
Fiscal.
Com o PT é retrocesso certo. É voltar
décadas no tempo, é flertar com o modelo da Venezuela. É aparelhar toda a
máquina estatal com pelegos, comprar o Congresso e a mídia, destruir a
economia, voltar com a inflação, gerar 14 milhões de desempregados.
Enfim, o PT é o estrago total, enquanto o PSDB é a mediocridade
social-democrata. O resumo de Guedes, portanto, é equivocado, pois
benevolente demais com o PT:
O PT, o PMDB e o PSDB são partidos
social-democratas que dirigem há mais de três décadas a política e a
economia brasileiras, do nascimento da Nova República, em 1985, aos dias
de hoje, em que se anuncia a morte da Velha Política. Devem explicar a
degeneração de nossas práticas políticas e o medíocre desempenho
econômico no período. […] A armadilha social-democrata do baixo
crescimento e da corrupção sistêmica é um fenômeno que se repetiu
historicamente em outros países e épocas.
Não dá para comparar o governo petista
com o tucano e achar que são semelhantes, pois não são. E ignorar as
gritantes diferenças para atacar o “mal maior”, que seria o modelo
social-democrata em si, parece-me um grave erro. O PT é socialista,
sindicalista, totalitário, revolucionário, essencialmente marginal. E
eliminar a ameaça petista, com suas diferentes roupagens (como aquela de
clorofila da Rede ou aquela de arco-íris do PSOL), deveria ser a
prioridade de todos no momento.
Não compreender isso é falhar na escolha
de prioridades. Isso me lembra a conversa de um conhecido meu com o
rapaz da dedetização:
Funcionário: Sua casa tem problemas
muito graves, uma invasão de ratos e também está repleta de baratas e
outros animais imundos.
Conhecido: O que posso fazer? Como combater essas pragas?
Funcionário: Bem, com o material que
temos, só será suficiente combater um inimigo por vez. E mesmo se
tivéssemos veneno o suficiente, a casa ficaria inabitável por muito
tempo se todo arsenal fosse usado no mesmo momento. Os ratos estão
corroendo a estrutura toda. Vão destruir sua casa por completo se
sobreviverem. Parece evidente que o único caminho a ser tomado é
concentrar o veneno nos ratos…
Conhecido: Poxa, mas e essas baratas feias e nojentas?
Pois é. Não dá para ter tudo. A
espelunca não vai virar um hotel cinco estrelas da noite para o dia.
Claro que o ideal seria eliminar de uma só vez ratos e baratas, e limpar
a casa toda, recomeçar do zero, em ambiente saudável. Mas é preciso ser
realista, pragmático.
Só há veneno para combater um bicho por
vez, ou então é arriscado demais tentar derrotar todos os bichos numa
tacada só, o que pode envenenar os próprios moradores. E os ratos, que
perderam o acesso à despensa, continuam espalhados pela casa, com o
controle indireto de vários cômodos importantes, ameaçando retomar o
comando de tudo. Aí sim, seria o fim, como foi na Venezuela…
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