Abre-se o caixa 2 das empresas de ônibus do Rio
A corrupção no Rio se tornou sistêmica. Ao
esquema envolvendo governo, empreiteiras, TCE e Assembleia Legislativa,
juntam-se agora empresários de ônibus
O Globo
A Operação Ponto Final — desdobramento da Lava-Jato no Rio — é, na
verdade, ponto de partida para se desvendar a caixa-preta das empresas
de ônibus. Embora dominem amplamente o mercado fluminense — transportam
cerca de 70% de todos os passageiros — e recebam R$ 28,3 milhões por mês
em subsídios do governo do estado, elas nunca primaram pela
transparência. Não por acaso, suspeitas de corrupção sempre rondaram o
sistema. A chamada “caixinha” da Fetranspor (Federação das Empresas de
Transporte do Rio de Janeiro), que abasteceria políticos em troca de
vantagens para o setor, sempre foi negada pelos empresários, e quase
virou lenda urbana, mas, agora, ganha nomes, endereços e CPFs. O esquema
veio a público a partir da prisão do empresário Jacob Barata Filho, no
Aeroporto Internacional Tom Jobim, na noite de domingo, quando tentava
embarcar para Portugal.
O fio da meada começou a ser puxado com a delação premiada do doleiro
Álvaro José Novis, encarregado pelos empresários de fazer os repasses.
De acordo com as investigações do Ministério Público Federal (MPF), dos
R$ 260 milhões pagos em propina pelas empresas de ônibus, R$ 122,9
milhões foram destinados ao ex-governador Sérgio Cabral, que está preso.
Novis relatou que, embora as planilhas façam referência ao período de
setembro de 2009 a janeiro de 2016, o esquema teria começado quando
Cabral ainda era deputado estadual, antes de assumir como governador, em
2007.
Por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal
do Rio, foram presos, além de Jacob Barata Filho, o presidente da
Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira; o presidente do Sindicato das
Empresas de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro (Setrerj), Marcelo
Traça Gonçalves; e o ex-presidente do Departamento de Transportes
Rodoviários do Rio (Detro) Rogério Onofre. O órgão é encarregado de
fiscalizar os ônibus intermunicipais.
Pelo que apurou a força-tarefa da Operação Calicute (versão da
Lava-Jato no Rio), a propina saía da garagem das empresas em carro-forte
e era guardada no cofre da própria transportadora de valores. O
dinheiro pagaria favores como reajustes injustificados de tarifa,
retenção de créditos do Riocard e relaxamento da fiscalização sobre
linhas intermunicipais.
Entende-se agora por que o serviço de ônibus, de modo geral, deixa
tanto a desejar, com frota envelhecida, veículos malconservados e
horários intermitentes. Pelo jeito, não faltam recursos.
A Operação Ponto Final é mais uma evidência de que, tal qual no plano
federal, a corrupção no Rio se tornou sistêmica. Ao esquema envolvendo
governo, empreiteiras, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e Assembleia
Legislativa, juntam-se os empresários de ônibus. Há possibilidade agora
de se completar o mapeamento da corrupção fluminense, para se saber o
tamanho exato dessa teia.
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