A
CNN, de quem a Rede Globo tenta ser uma descarada cópia em seu
jornalismo, entrou nesta semana naquilo que já é considerado a maior
crise de sua história. O único a comentar seu desandar foi Rodrigo
Constantino, na Gazeta do Povo. Fora isso, não há menção sobre um dos
maiores escândalos da história da imprensa americana no Brasil, e bem
quando jornais de todo o mundo discutem metalingüisticamente sobre fake news.
Na verdade, a CNN foi uma das grandes protagonistas na polêmica que fez o termo fake news se tornar famoso: a uma semana das eleições, suas projeções aumentaram as chances de vitória de Hillary Clinton de 78% para 91% (sic).
Sem ter como se justificar a seu público
por um erro tão catastroficamente divorciado da realidade, a rede,
junto a veículos como o New York Times (85% de chance para Hillary) e Huffington Post (98,2% de chance para Hillary), entre tantos outros clarividentes de botequim, atribuíram o descalabro de suas pesquisas a uma rede de “notícias falsas” (fake news)
que teria modificado tão drasticamente o desejo do eleitorado americano
que ninguém foi capaz de prever (Filipe Martins, deste Senso Incomum, previu a vitória de Trump acertando 48 estados).
Nesta manobra, os nomes da chamada mainstream media (MSM), como CNN, New York Times et caterva, seriam os propagadores de notícias “reais”, de puro jornalismo. Qualquer pequeno site, como este Senso Incomum, que acerte mais do que eles, seria fake news,
exigindo que os grandes conglomerados de mídia, aliados aos donos de
redes sociais como Facebook e Twitter, determinassem quais notícias
devem ser acreditadas e quais não.
No Brasil, o papel de censura ficou a cargo da Agência Pública,
de nomes de extremissíssima-esquerda como Leonardo Sakamoto, Eliane
Brum e o ex-assessor de Lula Ricardo Kotscho. A Agência recebe dinheiro
de George Soros, através de sua ONG de governança global Open Society.
Não fui eu, foram hackers russos
Como já é famoso, Donald Trump, desde
sua primeira coletiva, inverteu o termo que, sem sua ironia, seria usado
tão somente contra pequenos sites: chamou um jornalista da própria CNN
de fake news, negando-se a continuar a responder uma série de perguntas suas já respondidas sobre a Rússia. Foi o famoso caso You are fake news, que teve como resposta da MSM, inclusive no Brasil, via Rede Globo, noticiar o “destempero” de Trump e sua “quebra de decoro”.
Hoje, ao se falar em fake news na
América, é mais comum que o americano pense na própria CNN do que nos
seus pequenos concorrentes, que foram assim por ela própria alcunhados.
O noticiário da CNN de manhã até de
noite, pós-novembro, se resume a desculpas para a eleição de Donald
Trump. Seu noticiário se foca pesadamente na repetição ad nauseam de
uma narrativa pré-fabricada: a de que hackers russos teriam manipulado o
resultado das eleições a favor de Donald Trump. Qualquer encontro de
assessores de Trump com autoridades russas (inclusive embaixadores) é tratada como “prova” e noticiada repetidamente por dias para dar a entender que Donald Trump é presidente graças aos russos.
O próprio ex-presidente Barack Obama deu
azo a tal visão, ao sair de seu mandato pedindo uma investigação sobre
hackers russos manipulando as eleições. Uma investigação de tal porte é
difícil de ser explicada ao Brasil, tão mal acostumado a descalabros
políticos: para a América, desvio de atenção e gasto de dinheiro público
com algo sem fundamento é algo fortemente criticado, sendo a América um
país minimamente funcional.
James Comey, o ex-diretor do FBI
demitido por Trump, estava encarregado de tais investigações – tal como
estava investigando na mesma toada o escândalo dos e-mails de Hillary Clinton.
Sua demissão foi tratada como motivo para mais uma investigação, dessa
vez por obstrução de Justiça por parte de Donald Trump. No Brasil, onde a
Globo News simplesmente seguiu pari passu a narrativa da CNN, acreditava-se piamente que Trump sofreria impeachment no começo de junho.
Quando foi depor ao Congresso, ao ser
perguntado se Donald Trump havia lhe pedido para interromper as
investigações, James Comey soltou um fortíssimo “Não”. Repetidas vezes.
Tudo o que pôde dizer é que, em determinado momento, Trump lhe pediu
“lealdade” e, por isso, concluiu de estro próprio que o presidente
eleito estava lhe pedindo encobrimento de provas (sic).
James Comey saiu do Congresso em quase
total descrédito com a opinião pública americana, inclusive com a
esquerda, que o considerou um “traidor” que jogou fora a “chance” de
atrapalhar Trump. Já no Brasil, o G1 assim noticiou o testemunho: Comey diz que foi alvo de mentiras e difamação do governo Trump.
Nenhuma palavra sobre suas negativas. Assim, se crê até que
as carantonhas que recebeu por seu circo em interesse próprio é que são o
verdadeiro problema.
A historieta sobre hackers russos diminuiu a partir de então, mesmo nos jornais de esquerda. Não na CNN.
Há algo de podre no reino do jornalismo
Engatando a sexta marcha de uma linha
editorial cada vez mais extremista na esquerda, a CNN testou os limites
da lógica, da paciência, do bom gosto e do senso do ridículo com rapidez
impressionante. Com russos ou sem.
A
“comediante” e há anos âncora da CNN Kathy Griffin rodou o mundo não
por seu talento relativo, mas por aparecer em uma “performance” com uma
imitação da cabeça de Donald Trump decapitada,
imitando o Estado Islâmico, nos últimos dias de maio. Após ser demitida
da emissora e fazer um insosso pedido de desculpas, dizendo que “foi
longe demais”, passou a acusar toda a família Trump de “persegui-la” e
“destruir sua carreira” (sic), proclamando-se a vítima da história.
A emissora já não estava batendo bem e,
naturalmente, cabeças rolaram. Mas não a que Kathy Griffin gostaria. A
CNN cavou ainda mais fundo o poço da indecência.
O âncora muçulmano Reza Aslan, do programa Believer, que defende o islamismo em tempos de globalização, chamou Donald Trump de “piece of shit” e de “man baby”,
além de “uma vergonha para a humanidade”, após a resposta do presidente
ao atentado terrorista islâmico na London Bridge, em 3 de junho. Este é
um homem que tenta explicar ao Ocidente que o islamismo é a religião da paz.
Seis dias depois, Reza Aslan foi demitido da CNN por seus comentários, e porque, muito muçulmanamente, emergiram tweets seus sugerindo o estupro de uma empregada do governo (sic), que Aslan tentou desmentir.
Não é preciso perguntar qual a emissora americana que acusa todo o outro lado do espectro político de “discurso de ódio”.
Vale lembrar agora do editor sênior da CNN na Casa Branca Jim Acosta, meses antes. Ao comentar os tweets de Trump (outro assunto premente para a emissora) chamando a CNN de fake news, Acosta declarou que as palavras do presidente “não são apropriadas”. Em resposta, Trump chamou a CNN de very fake news
em uma entrevista. Até Donald Trump Jr., filho mais velho do
presidente, usou uma camiseta com o novo mote. O apelido para a CNN
pegou imediatamente.
A resposta de Jim Acosta pareceu um “bobo é você”: disse: “Nós somos as notícias verdadeiras, sr. presidente”.
Este tweet não envelheceu muito bem, como a CNN acabou por revelar nesta semana.
A crise de fake news da CNN
No dia 22 de junho, um repórter
investigativo da CNN, Thomas Frank, seguiu o modelo de notícias da
emissora: “vazamento” de “fontes anônimas” que conhecem “contatos” que
nunca são revelados para, no fim, acusar Trump de alguma coisa
envolvendo russos.
No
caso de Thomas Frank, com 30 anos de casa no USA Today e no Newsday,
seu artigo acusava ligações de Trump com fundos de investimentos russos,
citando… uma única fonte anônima.
Nem mesmo se preocuparam com uma triangulação forçada. O artigo citava a
fonte para dizer que o Congresso investigaria ligações de um fundo de
investimento russo “com ligações com o escalão de Trump”. No caso, o
investidor aliado de Trump, Anthony Scaramucci, da SkyBridge Capital,
que respondeu à altura, provando a farsa da CNN.
A CNN admitiu o erro, apagou o seu artigo,
demitiu Frank, o editor Eric Lichtblau, ganhador do Prêmio Pulitzer por
jornalismo investigativo em 2006, e o chefe da unidade, Lex Harris. Sua
alegação é de que o artigo “não seguiu os princípios editoriais da
CNN”.
O próprio Donald Trump, assistindo tudo de camarote, não deixou barato:
A situação da CNN ficou em uma sinuca de
bico um pouco difícil de ser entendida pelos padrões brasileiros: a
emissora cambaleia da segunda para o risco de terceira maior audiência,
mas não é assistida de fato como a Globo no Brasil: é a
emissora de TV que está em silêncio em qualquer sala de espera no país,
mas tão levada a sério quanto alguém que só assiste a Globo no Brasil.
Com a diferença de não ser realmente assistida.
A bomba atômica de efeito moral na história da Rússia veio no dia 26 de junho.
O Project Veritas,
de James O’Keefe, é uma organização com jornalistas investigativos
que investigam corrupção nos setores público e privado. É uma das
maiores fontes para se descobrir mentiras e manipulações políticas na
América.
Naquela segunda-feira, o Project Veritas
soltou um vídeo do que um repórter investigativo filmou nas internas da
CNN. No que já é chamado de American Pravda, John Bonifield,
produtor sênior da CNN Health, é flagrado admitindo o que o americano
médio sempre intuiu: a obsessão da CNN repetindo histórias sobre a
Rússia são na maior parte dos casos besteira (ou, bem mais pesado, bullshit).
De acordo com John Bonifield, a
CNN realmente “não têm nenhuma grande prova” de qualquer ligação de
Donald Trump com os russos. E apenas fica repetindo a mesma narrativa
porque dá audiência (sic). O público gosta da historieta, então
a CNN fica repetindo. Não por compromisso com a verdade, como supõe Jim
“Nós somos notícias reais” Acosta, mas apostando justamente que seus
telespectadores são burros (como, por exemplo, 98% dos jornalistas
brasileiros que cobrem a América). Por isso, cada vez que conseguem um
vazamento, publicam novamente forçando a narrativa.
O vídeo já foi visto por mais de 2 milhões e meio de pessoas.
John Bonifield ainda conclui que o
presidente Trump está certo em chamar a cobertura da CNN de “caça às
bruxas”, e que não há nenhuma prova contra ele. Acabou como mais um para
o vasto rol de demissões da empresa apenas em junho.
Para uma noção numérica, James O’Keefe mostrou que a CNN citou a Rússia desde a posse de Donald Trump cerca de 16 mil vezes (sic).
Assuntos como a reforma de impostos que afetará todos os americanos,
mereceram um quinto da atenção dada à narrativa falsa que “justifica”,
para eleitores do Partido Democrata, o fracasso de Hillary Clinton nas
urnas.
O apelido #AmericanPravda rapidamente pegou.
A reputação da CNN, que já amargurava um
total descrédito na opinião pública americana, foi jogada na lama de
vez. Misteriosamente, sem nenhuma nova notícia no front, de repente a
cobertura da CNN sobre a Rússia minguasse pela tangente. Ao tentar ainda
reportar algo sobre a Rússia logo a seguir, a chuva de risadas e
comentários chamando a rede de “fake news” ultrapassa as raias do ridículo.
Em pouco tempo, veio também o ongueiro de “justiça social” Van Jones, que apresenta um programa de título curioso: The Messy Truth (algo
como “a verdade bagunçada”), que veio a calhar, ao também ser flagrado
dizendo que os dossiês sobre a Rússia são um “hambúrguer de nada”.
Logo foi a vez do produtor Jimmy Carr,
falando do eleitorado americano para o qual dirige suas notícias, soltar
em alto e bom som que eles são “burros pra caralho”.
Caso o Brasil possuísse um diálogo
freqüente com a mídia alternativa americana, seria possível iniciar um
grupo de pressão para que os grandes conglomerados da grande e velha
mídia brasileira, todos nas mãos de uma meia dúzia de famílias, parassem
de usar a CNN como fonte absoluta, e mesmo única, de tudo o que sai na
América. Como se a população americana, que a conhece de
perto, conseguisse levá-la a sério.
Uma rede considerada extremamente mais objetiva (inclusive mais moderada),
como a Fox News, é tratada no Brasil como um hospício de brucutus
fanáticos e mentirosos, tendo uma posição muito mais voltada para o
debate com o lado oposto. Justamente a CNN, capaz de tais seguidas
falcatruas, é vista como jornalismo sério e sensato.
Aquele mesmo que critica quem se informa
tão somente pela Rede Globo no Brasil, notando o dano intelectual que
tal comportamento gera, é o primeiro no Brasil a adorar citar a CNN como
fonte para falar mal de Donald Trump e do Partido Republicano. Ainda
que, por sinal, tenham mais audiência e crédito entre os americanos (incluindo a Fox News, campeã de audiência).
Fontes muito mais seguras são
consideradas “falsas”, “obscuras” e “extremistas”. Tão somente porque a
própria CNN se auto-declara “jornalismo sério”. Como se não tivesse uma
posição e uma agenda. Dá para ver qual o critério ético para a escolha
de pautas da CNN: aquilo que os seus telespectadores, “burros que só”,
abusando-se do eufemismo, acreditam, e dê mais dinheiro, mesmo que seja
tudo mentira.
Como ironia suprema da vida, a CNN, ajudou a cunhar o termo fake news para denegrir sites que, ao contrário dela própria, assumem sua posição, sem sacanear o leitor. Seu principal alvo era o site Breitbart.com, capitaneado por Steve Bannon, que se tornou estrategista-chefe da Casa Branca no governo Trump.
Justamente o próprio Breitbart foi quem ajudou a orquestrar a reportagem investigativa que mostrou a falsidade da CNN.
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