quinta-feira, 6 de julho de 2017

“Duelo de tantãs” e outras seis notas
Janot transformou a denúncia contra Temer num jogo tático, dividindo-a, para, se perder uma, ter outra a atrapalhá-lo

Dia D

Temer é acusado de corrupção passiva: seria o destinatário dos R$ 500 mil entregues pelos delatores premiados da JBS ao então deputado Rocha Loures. A entrega da mala de dinheiro foi filmada, e as imagens de Loures correndo com ela até seu carro são inesquecíveis. Temer pretende defender-se dizendo que não era o destinatário da rica mala e desafiando os acusadores a provar que era. A defesa de Temer deve ser entregue à Comissão de Constituição e Justiça ainda hoje. O presidente quer que o plenário decida antes de 17 de julho, quando começa o recesso parlamentar.

Questão de placar

Temer passou ontem algo como 14 horas recebendo parlamentares. Ele precisa de 34 votos na Comissão de 66 deputados para que a denúncia não seja aceita, e tem hoje, calcula-se, entre 25 e 35. Mesmo que tenha 35, a margem é pequena e ele corre risco. Deputados detestam apoiar quem esteja perdendo. Por isso, mesmo tendo na Comissão 44 integrantes de partidos aliados, que indicaram ministros e ganharam cargos, luta para se salvar. No plenário, que votará em julho, salvo imprevisto, o acusador é que tem de conquistar a maioria: são 342 votos. Se o número não for alcançado, a denúncia estará rejeitada. Neste momento, Temer tem folga. Até a votação final, entretanto, há inúmeras possibilidades de mudança.

Firula

O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, diz que, em nome da transparência, exigirá que cada deputado anuncie seu voto no microfone. É jogo para a torcida: os deputados favoráveis a rejeitar a denúncia não precisam votar contra (podem abster-se, ou nem comparecer à sessão). Se 172 parlamentares não comparecerem, todos os demais podem votar contra Temer que não atingirão o número de 342, e a denúncia será rejeitada.

Jogo bruto
Os acusadores têm ainda, entretanto, muitas armas: se o acordo de delação premiada do doleiro Lúcio Funaro for homologado, não se sabe o que poderá dizer sobre Michel Temer e seus aliados mais próximos. Há mais: Geddel Vieira Lima, preso nesta semana, estará disposto a delatar? E Lula? Quais modificações no cenário político pode causar sua condenação ou absolvição pelo juiz Sérgio Moro?

Reforma que reforma
Esta é uma semana movimentada no Congresso: enquanto a Câmara recebe a defesa de Temer, o Senado estará iniciando a votação da reforma trabalhista. É esta reforma que levou dirigentes sindicais à oposição: nela é abolido o Imposto Sindical, grande fonte de receita dos sindicatos e suas centrais. O Imposto Sindical é um dia de salário de cada trabalhador do país, seja ou não filiado a algum sindicato. E sua existência: a) desobriga os sindicatos de representar adequadamente a categoria, já que, com ou sem associados, tem uma bela verba à disposição: b) torna a abertura de novos sindicatos um excelente negócio. Hoje, temos 15 mil sindicatos no país.

Reforma que não reforma
E é em torno desta reforma que se trama um jogo sujo: há quem diga que o presidente Temer se comprometeu com os sindicalistas a vetar o fim do Imposto Sindical; ou aprovar a reforma e, em seguida, distribuir um agrado permanente aos sindicatos e suas centrais, de maneira a compensar a perda do Imposto Sindical. Pelego de bolso cheio é muito mais dócil.

Nenhum comentário: