Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso pela Polícia Federal na Bahia
MPF afirmou que ele estaria tentando obstruir investigação sobre desvios na Caixa
Jailton de Carvalho - O Globo
A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira o ex-ministro
Geddel Vieira Lima, um dos mais próximos aliados do presidente Michel
Temer. A ordem de prisão foi expedida pelo juiz Vallisney de Souza
Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília a pedido do Ministério Público
Federal e da própria Polícia Federal.
Geddel é acusado de tentar impedir eventual acordo de
delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador financeiro
Lúcio Bolonha Funaro, ambos presos. Ele foi preso em Salvador e deve ser
transferido agora para Brasília.
“O político tem agido para atrapalhar as investigações. O
objetivo de Geddel seria evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, e o próprio Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o
Ministério Público Federal (MPF). Para isso, tem atuado no sentido de
assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além de 'monitorar' o
comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo”, diz
nota da Procuradoria da República no Distrito Federal.
No pedido apresentado ao juiz, "foram citadas mensagens
enviadas recentemente (entre os meses de maio e junho) por Geddel à
esposa de Lúcio Funaro. Para provar, tanto a existência desses contatos
quanto a afirmação de que a iniciativa partiu do político, Funaro
entregou à polícia cópias de diversas telas do aplicativo", informa a
Procuradoria da República.
REGISTROS DE CELULAR
Nas
mensagens, Funaro identifica Geddel como "Carainho". Para o Ministério
Público, "os novos elementos deixam claro que Geddel continua agindo
para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém
que reitera na prática criminosa".
Por isso, os investigadores pediram a prisão “ como medida
cautelar de proteção da ordem pública e da ordem econômica contra novos
crimes em série que possam ser executados pelo investigado”.Reprodução
do registro de ligações do celular de Raquel, mulher de Lúcio Funaro:
Geddel foi registrado por ela na agenda de contatos como "Carainho" - Reprodução
CUNHA, FUNARO E HENRIQUE ALVES
Com
a prisão de Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos no âmbito
das investigações das operações Sépsis e "Cui Bono?". Já estão detidos
os ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o
doleiro Lúcio Funaro e André Luiz de Souza, todos apontados como
integrantes da organização criminosa que agiu dentro da Caixa Econômica
Federal (CEF).
No caso de Cunha, Alves e Funaro, já existe uma ação penal
em andamento. Os três são réus no processo que apurou o pagamento de
propina em decorrência da liberação de recursos do FI-FGTS para a
construção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Além deles, respondem à
ação, Alexandre Margoto e Fábio Cleto.
Nos
registros de ligações feitos por Funaro via aplicativo WhatsApp
enviados à PF há ligações completadas, mensagens de áudio e ligações
originadas do celular de Geddel, mas perdidas (não completadas), para
Raquel, mulher do doleir. Funaro entregou uma mensagem escrita por sua
mulher e direcionada a um dos advogados da família. Na mensagem, Raquel
conta que recebera ligação de Geddel logo após uma irmã de Funaro ter
sido solta por ordem judicial.
“Esses 2 prints acima já te mandei, mas para lembrar que
esse foi o dia que saiu a decisão da Roberta (irmã de Funaro) e o sr.
nos avisou por volta das 15:00 e ele (Geddel) às 16:09 já estava me
ligando para falar que tinha ficado feliz com a decisão que agora o
Lúcio ficaria mais calmo com a irmã em casa”.
FUNARO NARROU RELAÇÃO PRÓXIMA COM GEDDEL
No
depoimento à PF, Funaro disse que não tinha relação próxima com Temer,
mas que mantinha contato com Geddel, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo
Alves. Funaro estima ter pago R$ 20 milhões a Geddel a título de
comissão de operações que ele teria viabilizado na Caixa Econômica
Federal, banco no qual o ex-ministro já foi vice-presidente. Funaro diz
que foi ele quem apresentou o empresário Joesley Batista a Geddel,
quando o ex-ministro exercia o cargo de vice-presidente da Caixa. A
J&F tinha interesse em conseguir empréstimos na instituição. Depois
disso vieram várias liberações de crédito para diversas empresas do
grupo. O operador sustentou que Joesley e Geddel se falavam. Mas quando
se tratava de definir o pagamento de propina, a conversa passava por
Funaro.
No depoimento, Funaro contou que duas vice-presidências da
Caixa estavam sob influência de Geddel e do PMDB: a de Fundos de Governo
e Loterias e a de Pessoa Jurídica. A primeira fora comandada por Fábio
Cleto, que depois se tornou delator. Segundo ele, Cleto viabilizou
desvios no Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FI-FGTS) que teriam beneficiado, por exemplo, a campanha da
chapa vitoriosa da eleição presidencial de 2014, vencida por Dilma
Rousseff, e tendo Temer como seu vice. Ao G1, a defesa de Geddel Vieira
Lima afirmou que Lúcio Funaro faz “alegações fantasiosas”.
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