quarta-feira, 5 de julho de 2017

Não falta quem se esforce para destruir minhas esperanças no país
Alexandre Schwartsman - FSP
Em artigo para lá de interessante, Caio Farah Rodriguez defende que uma das consequências da Lava Jato seria a imposição do capitalismo ao empresariado nacional por força dos acordos de leniência, que criariam uma governança severa para as empresas, supostamente as impedindo de continuar com as práticas expostas ao público de 2014 para cá.
É um argumento bem formulado, e, juro, bem que queria acreditar, mas não estou convencido de sua validade.
Não é de hoje que o capitalismo brasileiro vai mal das pernas. Louvada em verso e prosa em alguns círculos, a industrialização do país se deu sob o manto protetor do governo, à base de subsídios, crédito artificialmente barato, proteção desmedida e outras formas de intervenção.
Com raras exceções, a indústria nacional se mostrou incapaz de competir na arena global, e —a despeito dos protestos de neodesenvolvimentistas, novo-desenvolvimentistas, velho-desenvolvimentistas e o diabo— não há taxa de câmbio que compense a baixa produtividade.
E que não se diga que esse problema se deve à presumida concentração em setores pouco produtivos.
Trabalho recente da FGV ("O Brasil em Comparações Internacionais de Produtividade: Uma Análise Setorial" ) revela que esse fenômeno explica fração modesta do hiato entre o país e a fronteira tecnológica; a maior parcela se deve à distância existente em todos os setores da economia nacional com relação aos países desenvolvidos.
Em outras palavras, não jogamos mal porque nossos atletas estão na posição errada; o plantel é que é ruim mesmo...
Parte disso reflete a qualidade lamentável da educação nacional, visível em qualquer comparação internacional, como os resultados do Pisa. Outra parte resulta da nossa má organização institucional.
Como chamei a atenção há alguns meses, sob o arranjo institucional brasileiro, o empresário, como regra, não vai ficar rico pela inovação, mas pela sua capacidade de cultivar as ligações corretas com os donos do poder.
Se restasse alguma dúvida (a mim, não, há muito tempo), esta teria se dissipado com a revelação das conversas entre o presidente Temer e o inefável Joesley.
Uma empresa de proteína animal foi elevada às maiores do país não por qualquer coisa que cheirasse a competência empresarial, mas porque teve acesso a toda sorte de favores governamentais. E, como fica claro pelo acordo de leniência, tais favores não foram obtidos gratuitamente, muito pelo contrário...
Iremos mudar esse estado de coisas?
Não, a depender de políticos como a senadora Vanessa Grazziotin, que aqui mesmo na Folha cometeu um artigo defendendo a Zona Franca de Manaus, mamata que apenas em renúncias fiscais consumiu algo como R$ 28 bilhões/ano entre 2012 e 2016 (pouco mais que o Bolsa Família) e foi prorrogada para 2073, na expectativa de que nos próximos 56 anos consiga atingir o que não obteve nos últimos 50.
Se quem se pretende defensor dos desvalidos promove mecanismos tão óbvios de captura e concentração de renda, com efeitos nefastos sobre a produtividade e crescimento, o que esperar do mundo político?
Ando pessimista com o país há mais do que gostaria, mas não falta quem se esforce para confirmar meus piores temores e destruir as poucas esperanças que me restam.

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