O julgamento político do presidente Temer
Assim como na defesa de Dilma no impeachment,
advogado de Temer adota a linha técnica, mas delações que venham a ser
feitas podem condicionar votos na Câmara
O Globo
Embora haja diferenças de ritos entre um pedido de impeachment e a
apreciação pela Câmara de licença para que o presidente seja julgado no
Supremo, na essência tratam do mesmo assunto: o afastamento do
presidente da República. No caso de Dilma Rousseff, por crimes de
responsabilidade, ao fraudar as regras do equilíbrio fiscal; com Temer,
por corrupção passiva, no processo encaminhado pela Procuradoria-Geral
da República (PGR) ao Supremo, remetido por este à Câmara.
Não é, portanto, descabido comparar os dois casos, que apresentam
uma coincidência: tanto a defesa de Dilma quanto a de Temer esgrimem com
argumentos ditos técnicos, e assim deve ser. Mas o imponderável da
política costuma exercer papel-chave nestes momentos.
No caso de Dilma, a sua defesa foi desconstruída no aspecto técnico —
era mesmo impossível defender-se das estripulias ilegais da
contabilidade criativa para tentar esconder o enorme déficit fiscal. E a
presidente, além da impopularidade, perdera capacidade de governar, sem
apoio no Congresso. O impeachment foi inexorável e legal, com respaldo
na Constituição e legislação correlata.
Temer, por sua vez, está ao rés do chão em popularidade, mas tem
trânsito no Congresso. E como Dilma, sua defesa, do experiente Antônio
Cláudio Mariz, segue a trilha técnica. É um enorme desafio para as
habilidades do advogado, tantos são os indícios e provas contra o
presidente, embora a defesa insista em tratar-se de peça de “ficção” a
acusação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
De forma objetiva, há vários pontos frágeis na defesa do presidente.
Alguns exemplos: insistir em desqualificar a gravação é um caminho
acidentado, depois que peritos da Polícia Federal a avalizaram do ponto
de vista técnico; o vídeo do deputado suplente do PMDB paranaense,
Rodrigo Rocha Loures, puxando apressado a mala em que estavam R$ 500 mil
entregues por ordem de Joesley Batista tem impacto; ainda mais quando
conjugado com a gravação de Temer feita por Joesley, em que o presidente
indica Loures para o empresário resolver com ele “tudo”. Árdua tarefa
para Mariz, que precisa provar que as aparências enganam.
No flanco político há várias ameaças em potencial ao presidente,
vindas de pessoas próximas que podem condicionar votos na Câmara, a
depender do que venham a relatar em colaboração premiada ao Ministério
Público.
Continua sobre a mesa a necessidade de o país seguir em frente,
assentado na Constituição, única garantia de que é possível superar a
crise política, mantendo ativa a agenda de reformas que se encontra no
Congresso, e chegar a 2018 sem sustos. Para uma campanha eleitoral nos
prazos regimentais, com tempo para se debaterem as candidaturas diante
da bifurcação em que se encontra o Brasil: se irá cometer os mesmos e
velhos erros do populismo, que levaram a esta crise, ou não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário