O que é ser de esquerda?
Hélio Schwartsman - FSP
DireitaXEsquerda - Datafolha/datafolha
Os conceitos políticos de esquerda e direita
ainda fazem sentido? Cada vez menos, acredito. O problema é que suas
definições são fluidas, não mostram muita coerência interna e ainda têm
sido castigadas pela história.
Uma defesa intransigente do princípio da sacralidade da vida, por
exemplo, exigiria que os direitistas que o professam fossem contra o
aborto e a eutanásia (ok, isso eles são), mas também contra a pena de
morte e o direito mais ou menos irrestrito de carregar armas (aí já fica
mais difícil).
Já a esquerda, que, até um passado recente, defendia com unhas e dentes a
liberdade de expressão, hoje não hesita muito em sacrificá-la para
proteger as tais das identidades minoritárias. E nem falo da propriedade
dos meios de produção, que já foi o principal teste a diferenciar
esquerdistas de direitistas, mas deixou de fazer sentido. Só a ala mais
extrema da esquerda ainda pretende acabar com a propriedade privada.
É interessante notar que já existem bons candidatos a substituir a velha
classificação. Gosto particularmente da proposta do psicólogo Jonathan
Haidt de decompor a ideologia em seis dimensões, às quais
corresponderiam seis sentimentos morais básicos: proteção, justiça,
liberdade, lealdade, autoridade e santidade (pureza). O mapa ético de
cada indivíduo seria uma combinação de diferentes proporções desses
"ingredientes". O que normalmente chamamos de esquerda enfatiza os dois
primeiros. A direita faria uma mistura mais homogênea de todos os seis.
Vai ser difícil, porém, abandonar o venerando par. As pessoas, a começar
de jornalistas e dos próprios militantes, parecem ter uma atração
irresistível pela divisão binária, que, apesar de precária, facilita a
identificação de aliados e inimigos e ainda dá a impressão de carregar
um conteúdo profundo. Ela até diz alguma coisa, mas cada vez menos, eu
receio.
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