quinta-feira, 6 de julho de 2017

Prefácio: O Manifesto Cartunista – A Esquerda na Mira do Humor, de João Spacca 


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O Manifesto Cartunista – A Esquerda na Mira do Humor
Prefácio de Heitor De Paola
As trevas descem sobre a Gália Brazilis, as tropas bárbaras do César Vermelho avançam inexoravelmente sobre a cultura, a educação, sobre as mentes dos escribas, professores e artistas, invadindo e destruindo tudo que produz conhecimento. Aos poucos toma conta de todo o território.
Todo? Se olharmos bem, lá nos confins deste continente, há um grupo muito pequeno reunido em torno de um estudioso das artes de pensar que descobriu com os Mestres já esquecidos do passado uma poção mágica com o poder das forças do pensamento, para atingir aquilo que os bárbaros tudo fazem para destruir: a Verdade. Em torno deste estudioso vão se reunindo, aos poucos, pacientemente, uma minoria de Galo-Brasiliensis que usam a poção generosamente distribuída por Olavix – este é o nome do druida (Dryw, em Celta) cujo significado é o de “possuidor de grande conhecimento do Carvalho”. Só a eles é concedido o direito de extrair com foice de ouro o visco desta árvore sagrada. Por esta razão este druida tornou-se conhecido como Olavix Carvalhovix.

Olavo de Carvalho e alguns de seus conhecidos alunos. Ali está Spacca, saboreando mais uma receita do filósofo para seu fortalecimento intelectual.
Conta Plínio, o Velho, em sua História Natural (cit. por Frazer em The Golden Bough): O visco é raro de encontrar e não pode ser tocado com ferro, só pode ser colhido com uma pequena foice de ouro. O druida, vestido de branco, subia na árvore, colhia o visco e guardava no seu manto, pois não podia ter contato com o chão. (…) O visco bebido em líquidos conferia fertilidade e era um antídoto para qualquer tipo de veneno.
Na moderna Gália Brazilis é extraído dos textos antigos com “foice de ouro” e é bebido com os olhos e ouvidos, conferindo outro tipo de fertilidade: a criatividade mental, sendo um antídoto para o veneno servido pelos bárbaros vermelhos.
Mas eis que algo difere da antiga Gália em nossa Aldeia – sim, nossa, porque a ela pertenço como um dos primeiros moradores: nosso artista, Spacacix, não é da arte musical, e intrometido como Chatotorix certamente não é! Pelo contrário, sua arte silenciosa diverte e sua sonoridade não é para os ouvidos, mas para os olhos e, sobretudo para o pensamento! Aos poucos foi se chegando e conquistando os habitantes da Aldeia com a visão moderna de uma das artes mais primitivas da Humanidade, encontrada já nas figuras rupestres das cavernas de tempos imemoriais.
Quando li um primeiro livro com o qual Spacca gentilmente me presenteou, D. João Carioca — A corte portuguesa chega ao Brasil (1808 – 1821), em parceria com Lilia Schwarcz, logo me veio à mente os geniais Uderzo & Goscinny, imortalizados em sua obra prima Astérix.
João Spacca tem um currículo impressionante. Começou a trabalhar com 15 anos, na agência de publicidade Young & Rubicam, fazendo layouts e ilustrações. Foi aceito como concursado da Folha de São Paulo, como chargista, onde permaneceu onze anos. Publicou no Pasquim. Fez “storyboards” para filmes publicitários no começo da carreira, depois, entre 1985 e 1995, criou charges políticas para o jornal “Folha de São Paulo” e ilustrou o suplemento infantil “Folhinha” por dois anos. Escreveu histórias em quadrinhos para as revistas “Níquel Náusea” e “Front”, e também trabalhou com animação. Atualmente faz charges para a versão on-line do “Observatório da Imprensa” e para publicações empresariais. Em 2005, recebeu o primeiro prêmio de charge no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Em 2006, Spacca conquistou três prêmios na 18ª edição do Troféu HQMix, evento que premia os melhores quadrinhos do último ano, no Brasil e no exterior. O desenhista foi considerado o melhor cartunista, o melhor desenhista nacional e o melhor roteirista nacional.
De importância para este Prefácio são os fatos por ele mesmo relatados sobre sua adesão aos Bárbaros Vermelhos, sua “esquerdização” (quem não foi?). Aos 21 anos “era inteiramente de esquerda e petista, bem nutrido de Henfil e MPB”. “Fiz até animação de graça para a campanha do Suplicy, frequentei as feijoadas petistas. Uma vez fui levado a um sítio para receber aulas e panfletos de uns militantes sandinistas”.
Ao longo da década de 90 passou a ter contato com o meio empresarial e começou a perceber que as ideias que vinha acalentando não correspondiam à realidade. Pelo contrário, os fatos é que tinham que se adaptar à forçosamente a elas. Mas não era de sua natureza mandar os fatos às favas, como todo esquerdista precisa fazer. Há poucos dias aquele elemento pernicioso, mestre da hipocrisia, Lula I, o Réu, disse das eleições que varreram seu partido do espectro político: “ainda não construímos uma teoria para entender o que aconteceu”. Esta gente não vive sem uma teoria que lhes explique o mundo, eles mesmos parecem destituídos de vida mental própria, não são pessoas, existem apenas em teoria!
Só faltava a Spacca uma centelha que incendiasse seu amor ao conhecimento, e ele a encontrou na obra de Olavo de Carvalho. Trabalhava, então, para legítimos representantes do Massacre Cultural, espalhados nos mais diversos segmentos de comunicação, garantindo em todos a visão da esquerda. Esta experiência profissional encontrou eco nas afirmações de Olavo: de que a esquerda era hegemônica nos meios culturais.
Olavo dando aquela injeção de sabedoria e conhecimento num país na UTI moral e cultural.
O resultado desta mudança é este livro genial “O Manifesto Cartunista – A Esquerda na Mira do Humor” que tenho a honra de prefaciar. Com rara criatividade e traço firme expressa humoristicamente as verdades – e denuncia as mentiras – que representam as ideias desta sui generis Aldeia rebelde.
Entre suas razões para fazer humor contra a esquerda é que ela é o polo mais atuante do espectro político. Creio que todos concordam com esta afirmação, mas então, por que são tão poucas as manifestações humorísticas – e de resto, artísticas em geral – com críticas à esquerda?
Certamente existem muitos cartunistas inteligentes com trabalhos excelentes. Mas a grande maioria está tão comprometida com o pensamento (ou falta de?) de esquerda que já faz parte das hordas bárbaras vermelhas e sequer podem enxergar seu comprometimento.  Sua inteligência e capacidade servem para aprofundar cada vez mais a invasão. Seus trabalhos são humor? Certamente, às vezes bom humor, mas com o tempo acabam cansando os leitores pela repetitividade. Conhecem a arte de desenhar, mas lhes faltam ideias próprias. Os personagens são sempre os mesmos, os motivos não mudam. É, para usar uma expressão de Gramsci, o coletivo orgânico do desenho político. Há uma hipocrisia nestes cartunistas de esquerda: quando trabalham para empresas privadas ganhando bons honorários, não fazem política, já na imprensa, pensando ser originais, soltam o traço e o verbo. Não sabem que não passam de uma das engrenagens de uma gigantesca máquina de propaganda com quase cem anos de profícua existência.
Para resistir à máquina de propaganda são necessárias, no mínimo, duas condições, ambas preenchidas por Spacca. Em primeiro lugar é fundamental que, mesmo aderindo temporariamente à onda, o caráter seja íntegro. Assim, mesmo que a superfície da pessoa possa ser invadida, seu cerne resiste às investidas por ter fortes muralhas espirituais. O caráter é o último baluarte, se sucumbir, nada mais resta.

Em segundo lugar, é preciso encontrar a “poção mágica”, o conhecimento que está à disposição dos homens, que embasa a retomada de posse das regiões invadidas. Como diz nosso druida “o conhecimento ama o homem, basta que o homem ame o conhecimento para este se revelar”.
Spacca demonstra que entendeu quando diz “Nosso alvo é a essência da esquerda, até quando ela se disfarça de direita” como os “tucanos que não são a direita, mas a esquerda especializada nos meios institucionais para fazer o mesmo de uma forma, digamos, mais folclórica e estabanada”.
“O argumento essencial da esquerda é dizer que tudo é política, educação, arte, religião, até artes culinárias e relações sexuais!” Pasmem, já ouvi dizer que as relações sexuais são relações de poder dos machos sobre as fêmeas e é preciso discuti-las a fundo! É o domínio do politicamente correto, contribuição máxima do marxismo cultural. Há um livro escrito por Engels que os comunistas envergonhados esperam que ninguém leia: A Dialética da Natureza. É o suprassumo do besteirol apresentado arrogantemente como teoria científica.
Estas imbecilidades não podem ser desmontadas por nenhuma discussão racional, só a fina crítica humorística é capaz de, pelo ridículo, estremecê-las. E é aí que reside a importância do Manifesto Esquerdista – a esquerda na mira do humor.
As charges são apresentadas pelo próprio autor e não poupam ninguém. Acertadamente diz que “o alvo do chargista é o poder” e “como os dois maiores partidos do país são de esquerda” – e, acrescento eu, mais alguns outros – este é o alvo. Daí que criticá-la é preciso, não fazê-lo é tornar-se cúmplice com suas atrocidades passadas e possibilitar a repetição no futuro.
Espero que os leitores que não estejam impregnados pela retórica politicamente correta dos bárbaros vermelhos, não só apreciem e se divirtam, mas aproveitem o visco que ora lhes é oferecido pelo traço genial do novo druida.

Heitor De Paola
http://www.heitordepaola.com http://www.humorphobia.org

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