Temer, sem tempo de respirar
Ricardo Noblat - O Globo
Durou menos de 72 horas o alívio sentido pelo presidente Michel Temer
com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de devolver a Aécio
Neves (PSDB-MG), seu aliado, o mandato de senador, e a Rocha Loures, o
homem da mala, a liberdade sujeita ao uso de tornozeleira eletrônica e
ao confinamento doméstico todas as noites e nos fins de semana.
A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, ontem, pela Polícia
Federal, em Salvador, reconciliou Temer com a dura realidade de ser o
primeiro presidente da República da história do Brasil denunciado por
corrupção. E aumentou o elenco daqueles que o têm como refém. Temer
voltou a respirar mal e a se abater por mais que negue.
Ex-ministro também de Lula e de Dilma, Geddel sempre foi mais ligado a
Temer, que lhe deve entre outros serviços prestados o de tê-lo levado à
primeira vitória como candidato a presidente da Câmara dos Deputados.
Desde então os dois jamais se separaram. Nem mesmo quando Geddel foi
obrigado a se demitir do governo Temer acusado de tráfico de influência.
Geddel jamais deu qualquer indicação de que seria capaz de delatar
Temer se um dia fosse preso. Mas Eduardo Cunha, parceiro de Temer, já
deu. Rocha Loures foi solto quando ameaçou delatar. O doleiro Lúcio
Funaro, operador do PMDB, começou a delatar. E do ex-ministro Henrique
Eduardo Alves, também preso, por ora não se tem notícia.
A sucessão de fatos negativos está tirando o fôlego de Temer. Ele tem
pressa na tramitação da denúncia apresentada por Rodrigo Janot que
poderá lhe custar o mandato. Esperou que houvesse quórum na Câmara na
última sexta-feira para que começasse a correr o prazo de 10 sessões na
Comissão de Constituição e Justiça que votará a denúncia.
Não houve. Bastaria que 51 dos 132 deputados estivessem presentes na
Câmara. Só apareceu um. Esperou que o quórum fosse atingido ontem – não
foi. Compareceram 19. A Comissão é formada por 66 deputados. Nos
cálculos do governo, 34 votarão para arquivar a denúncia. Pode ser
suficiente, mas é pouco. Alguns poderão mudar de opinião até lá.
Se a Comissão recomendar a aceitação da denúncia, a batalha final será
travada no plenário onde pouco mais de 350 deputados, hoje, se dizem
indecisos. Ali, a luz por enquanto amarela não para de piscar para o
governo. Sua intensidade oscila de acordo com novos fatos. Ficou mais
forte com a prisão de Geddel.
Ficará mais forte se o Congresso sair de férias em meados deste mês sem
que a Câmara tenha negado autorização para que o STF decida se acolhe a
denúncia contra Temer. Também ontem, a Comissão de Ética da Presidência
abriu processos contra dois ministros delatados por executivos do Grupo
JBS. A luz amarela piscou intermitentemente.
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