Ajuste fiscal fracassa, e Temer deixará herança maldita
Julianna Sofia - FSP
"Não se privatiza para fazer caixa." A reação do secretário de Aviação Civil, Dario Lopes,
à investida do Palácio do Planalto sobre o mais rentável aeroporto sob a
aba da decrépita Infraero, Congonhas, é sintomática do ajuste fiscal em
curso. A venda vinha sendo discutida em meio a atritos entre as alas
política e técnica, mas a decisão ora tomada tem o propósito explícito
de tapar o rombo das contas federais em 2018.
O presidente Temer precisa rifar agora as joias da coroa porque não
consegue entregar o resultado prometido com sua política fiscal. Mesmo
com a ampliação das metas de deficit para este ano e o próximo, os
números soam pouco realistas diante das cifras que dependem de aval do
Congresso para virar de fato recurso no caixa do Tesouro.
Dos R$ 33,6 bilhões em medidas anunciadas para garantir as novas metas,
92% têm que ser aprovados pelos deputados e senadores —que já apontaram a
faca para a jugular de Temer para não perder o hábito.
A bancada mineira, por exemplo, aproveita a esqualidez presidencial para
minar os planos federais de vender as usinas da estatal Cemig que foram
devolvidas à União. Sem o leilão das hidrelétricas, faltarão R$ 11
bilhões para cumprir o resultado deste ano. A empresa estadual quer
manter a maior parte das usinas, só que não tem todo esse dinheiro.
A culpa pelo ajuste mequetrefe –que pouco preza pela qualidade do gasto e
assegura benefícios a setores econômicos e castas sociais– vai caindo
na conta do "dream team" de Temer na economia, apesar de todas as
estripulias fiscais de parlamentares e chantagens convalidadas pelo
presidente denunciado. A tesoura de Henrique Meirelles (Fazenda) não tem
mais onde tosar nas despesas passíveis de corte. E para mexer nos
grandes gastos obrigatórios, são necessárias mudanças de regras, como a
reforma da Previdência.
Ao sucessor de Michel Temer, uma herança maldita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário