Ex-presidente da Petrobras e do BB, Bendine é denunciado na Lava-Jato
Ele é acusado de receber R$ 3 milhões em propina para proteger interesses da Odebrecht
O Globo
Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir
Bendine foi denunciado nesta terça-feira pela força-tarefa da Lava-Jato
pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização
criminosa e embaraço à investigação, pelo suposto recebimento de uma
propina de R$ 3 milhões da Odebrecht. O objetivo seria proteger a
empreiteira após assumir a presidência da Petrobras.
Além de Bendine, outras seis pessoas foram denunciadas,
incluindo o marqueteiro André Gustavo Vieira da Silva, preso assim como
ele na 42ª da Lava-Jato, e Marcelo Odebrecht, ex-presidente da
empreiteira que leva seu nome. O Ministério Público Federal (MPF) pediu
25 anos de prisão para Bendine.
A investigação foi deflagrada após o acordo de colaboração
premiada da Odebrecht. Marcelo e outros executivos da empresa entregaram
aos procuradores os detalhes da negociação de propina com Bendine.
"Os elementos de prova são fortes em demonstrar que Bendine,
enquanto presidente da Petrobras, recebeu propina para favorecer a vida
da Odebrecht na Petrobras", afirmou o procurador Athayde Ribeiro da
Costa.
Os investigadores encontraram e-mails enviados por Aldemir
Bendine para o departamento jurídico da Petrobras sobre a possibilidade
de suspender medidas tomadas contra a empreiteira durante a deflagração
das primeiras fases da Lava-Jato. As mensagens foram enviadas poucos
dias após uma reunião entre Bendine, André Gustavo, Marcelo Odebrecht e
Fernando Reis, outro executivo da empreiteira, em que o pagamento da
propina de R$ 3 milhões teria sido acertado.
Na consulta ao departamento jurídico, Bendine solicitou
informações sobre o desbloqueio de novas contratações da Odebrecht Óleo e
Gás e a contratação direta do Estaleiro Paraguaçu, que interessava a
Marcelo Odebrecht. A sinalização do setor, no entanto, não foi positiva.
"Essa sinalização do jurídico demonstrou ser muito arriscado
(o favorecimento à Odebrecht) e por isso Bendine recuou desses atos de
ofício", explicou Costa.
Os pagamentos da Odebrecht foram intermediados pela empresa
de publicidade de André Gustavo Vieira da Silva. Segundo o procurador,
Bendine e André também combinaram e efetuaram o recolhimento de impostos
simulando um contrato de consultoria entre André Gustavo e a Odebrecht
Ambiental para servir como compravação de que André teria prestado um
serviço à Odebrecht.
A empreiteira fez três pagamentos entre junho e julho de
2015, já com a Lava-Jato em andamento, para Aldemir Bendine, em endereço
indicado pelo irmão do marqueteiro André Gustavo Vieira da Silva,
Antônio Carlos.
Em nota, a defesa de Aldemir Bendine reiterou que a atuação
do ex-presidente da Petrobras e do BB pautou-se pela legalidade e não
houve benefício à Odebrecht ou a qualquer outra empresa no período em
que presidiu as entidades.
CRÍTICAS A GILMAR
Os
procuradores da Lava-Jato aproveitaram a entrevista coletiva, também,
para tratar das duas decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, que libertaram o empresário Jacob Barata Filho, acusado
de corrupção pelo suposto pagamento de propinas a políticos em troca de
vantagens no setor de transportes do Rio de Janeiro.
"Nós do MPF, até como cidadãos, entendemos que a posição do
Procurador-Geral da República em pedir o reconhecimento da suspeição de
Gilmar Mendes é a mais acertada pelas evidentes ligações que GIlmar e
seus familiares, objetiva e subjetivamente, com o empresário que foi
preso", afirmou Carlos Fernando dos Santos Lima.
O procurador também criticou o projeto de reforma política
que deverá ser colocado em votação no Congresso nesta semana e que deve
instituir o "semidistritão". Para o procurador, a reforma representaria
uma renovação menor que a do atual sistema proporcional.
"Os atuais membros do Congresso estão promovendo uma reforma
política mpara manterem o sistema e para se manterem lá, não só como
deputados ou senadores, mas com foro privilegiado", afirmou Carlos
Fernando.
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