sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O liberalismo sempre combateu tanto o comunismo como o nazismo 
Rodrigo Constantino - IL

O debate sobre se o nazismo é de direita ou de esquerda reacendeu nas redes sociais, como resposta ao atentado de um grupo neonazista em Charlottesville. Já escrevi alguns textos sobre o assunto, com a conclusão de que, para mim, o nacional-socialismo pode ser melhor encaixado como uma ideologia de extrema-esquerda.
São várias evidências disso, como o fato de Hitler mesmo ter se dito alguém que iria superar o marxismo, fonte da qual bebeu intensamente, ou de ter pregado a socialização do homem, o que tornaria supérfluo socializar os meios de produção. Aliás, o direito de propriedade continuava apenas de jure na Alemanha nazista, tendo sido eliminado de facto, já que era o estado que controlava tudo.
Mas entendo que alguns podem querer enxergar o nazismo como uma reação da classe média ao comunismo, no afã de resgatar valores perdidos e, principalmente, a ordem e o orgulho nacional, o que poderia colocá-lo mais à direita. O problema, claro, é que o stalinismo também foi nacionalista.
E eis o maior perigo que vejo nesse debate: deixarem de lado as enormes semelhanças entre os experimentos comunista e nazista, como se fossem realmente antagônicos, ou pior, como se o nazismo e o fascismo estivessem mais próximos da direita liberal, de Thatcher e Reagan, do que de Fidel Castro, Mao ou Pol-Pot, que eram de extrema-esquerda.
Ou seja, se o sujeito pensa apenas com base nos conceitos de esquerda e direita e conclui que a “extrema-direita” está mais perto da direita liberal-conservadora do que da esquerda ou da extrema-esquerda, então o conceito está atrapalhando sua análise, gerando desinformação. Hitler e Mussolini possuem muito mais em comum com os ditadores socialistas do que com os líderes conservadores citados, sem falar dos pensadores liberais.
Mises, por exemplo, um ícone do liberalismo, repudiou tanto o socialismo quanto o nazismo. Ambos são ideologias totalitárias, antiliberais e antidemocráticas, que odeiam o livre mercado, o lucro, a propriedade privada, a globalização, o método científico, a descentralização de poder, enfim, todos os grandes princípios mais básicos do liberalismo, mesmo aquele mais conservador.
Logo, como sabemos que a verdadeira intenção de todos aqueles que tentam jogar o nacional-socialismo para a extrema-direita é forçar uma associação descabida entre nazismo e liberalismo-conservador, uma doutrina de direita, temos o dever de reagir, mostrando que, na prática, o nazismo e o fascismo são mesmo primos de sangue do comunismo e do socialismo. Eles disputam o mesmo tipo de alma totalitária e autoritária, antiliberal em essência.
A Polônia, que sofreu na pele o terror de ambas as ideologias coletivistas, passou a condenar tanto o comunismo como o nazismo. A foice e o martelo deveriam produzir o mesmo tipo de ojeriza que a suástica produz. São símbolos de ideologias nefastas, podres, assassinas, totalitárias.
Socialistas e fascistas deveriam se digladiar bem longe do restante da sociedade, deixando-nos em paz para a construção de uma civilização decente, com graus razoáveis de divergências dentro de limites aceitáveis, com a social-democracia no extremo à esquerda, o conservadorismo no extremo à direita e o liberalismo como o centro mais moderado.
Num país em que a extrema-esquerda socialista é considerada “moderada”, a social-democracia tucana é tida como “direita”, e qualquer liberalismo ou conservadorismo são tachados de “extrema-direita”, como sinônimo de nazismo e fascismo, podemos perceber o quão distantes estamos desse ideal. A luta será muito árdua pela frente, pois foram décadas de enganação ideológica com a hegemonia da esquerda na cultura e no poder.

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