O liberalismo sempre combateu tanto o comunismo como o nazismo
Rodrigo Constantino - IL
O debate sobre se o nazismo é de direita ou de esquerda reacendeu nas
redes sociais, como resposta ao atentado de um grupo neonazista em
Charlottesville. Já escrevi alguns textos sobre o assunto, com a
conclusão de que, para mim, o nacional-socialismo pode ser melhor
encaixado como uma ideologia de extrema-esquerda.
São várias evidências disso, como o fato de Hitler mesmo ter se dito
alguém que iria superar o marxismo, fonte da qual bebeu intensamente, ou
de ter pregado a socialização do homem, o que tornaria supérfluo
socializar os meios de produção. Aliás, o direito de propriedade
continuava apenas de jure na Alemanha nazista, tendo sido eliminado de facto, já que era o estado que controlava tudo.
Mas entendo que alguns podem querer enxergar o nazismo como uma
reação da classe média ao comunismo, no afã de resgatar valores perdidos
e, principalmente, a ordem e o orgulho nacional, o que poderia
colocá-lo mais à direita. O problema, claro, é que o stalinismo também
foi nacionalista.
E eis o maior perigo que vejo nesse debate: deixarem de lado as
enormes semelhanças entre os experimentos comunista e nazista, como se
fossem realmente antagônicos, ou pior, como se o nazismo e o fascismo
estivessem mais próximos da direita liberal, de Thatcher e Reagan, do
que de Fidel Castro, Mao ou Pol-Pot, que eram de extrema-esquerda.
Ou seja, se o sujeito pensa apenas com base nos conceitos de esquerda
e direita e conclui que a “extrema-direita” está mais perto da direita
liberal-conservadora do que da esquerda ou da extrema-esquerda, então o
conceito está atrapalhando sua análise, gerando desinformação.
Hitler e Mussolini possuem muito mais em comum com os ditadores
socialistas do que com os líderes conservadores citados, sem falar dos
pensadores liberais.
Mises, por exemplo, um ícone do liberalismo, repudiou tanto o
socialismo quanto o nazismo. Ambos são ideologias totalitárias,
antiliberais e antidemocráticas, que odeiam o livre mercado, o lucro, a
propriedade privada, a globalização, o método científico, a
descentralização de poder, enfim, todos os grandes princípios mais
básicos do liberalismo, mesmo aquele mais conservador.
Logo, como sabemos que a verdadeira intenção de todos aqueles que
tentam jogar o nacional-socialismo para a extrema-direita é forçar uma
associação descabida entre nazismo e liberalismo-conservador, uma
doutrina de direita, temos o dever de reagir, mostrando que, na prática,
o nazismo e o fascismo são mesmo primos de sangue do comunismo e do
socialismo. Eles disputam o mesmo tipo de alma totalitária e
autoritária, antiliberal em essência.
A Polônia, que sofreu na pele o terror de ambas as ideologias
coletivistas, passou a condenar tanto o comunismo como o nazismo. A
foice e o martelo deveriam produzir o mesmo tipo de ojeriza que a
suástica produz. São símbolos de ideologias nefastas, podres,
assassinas, totalitárias.
Socialistas e fascistas deveriam se digladiar bem longe do restante
da sociedade, deixando-nos em paz para a construção de uma civilização
decente, com graus razoáveis de divergências dentro de limites aceitáveis,
com a social-democracia no extremo à esquerda, o conservadorismo no
extremo à direita e o liberalismo como o centro mais moderado.
Num país em que a extrema-esquerda socialista é considerada
“moderada”, a social-democracia tucana é tida como “direita”, e qualquer
liberalismo ou conservadorismo são tachados de “extrema-direita”, como
sinônimo de nazismo e fascismo, podemos perceber o quão distantes
estamos desse ideal. A luta será muito árdua pela frente, pois foram
décadas de enganação ideológica com a hegemonia da esquerda na cultura e
no poder.
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