Racha saudável
“É bom que rache, há momentos na vida em que é
preciso tomar uma decisão”. Assim o presidente em exercício do PSDB,
senador Tasso Jereissati, reagiu às críticas ao programa partidário que
assumiu os erros cometidos no passado, e mostrou o partido disposto a
recuperar seu eleitorado.
O PSDB, criado depois do rompimento com o MDB por causa do
fisiologismo comandado por Orestes Quércia, agora vê-se às voltas com o
fisiologismo do governo Temer, que tem sob controle o PMDB que,
sintomaticamente, quer voltar a ser MDB. Mas será o MDB de DNA
quercista, e não o de Ulysses Guimarães.
Romper agora novamente devido ao fisiologismo estaria de acordo com a
linha programática do partido. Ajudar o governo de transição de Temer
estava dentro do que o PSDB deveria fazer, por ser a solução
constitucional e, inclusive, porque o partido apresentou um programa de
governo reformista que tinha tudo a ver com o programa do PSDB.
Mas após a divulgação da conversa com Joesley Batista, ficou difícil
justificar a permanência no governo, e houve o racha no partido. Um
grupo forte, especialmente na Câmara formado pelos jovens deputados
tucanos, e mais vereadores e prefeitos, chamados de “cabeças pretas” por
serem a nova geração do partido, paradoxalmente encontraram em dois
“cabeças brancas” o apoio para a mudança: o senador Tasso Jereissati,
que assumiu a presidência interina do PSDB com o afastamento do senador
Aécio Neves, e o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Presidente de honra do partido, ele diz de brincadeira que não tem
influência alguma mas, na prática, é quem dá a linha programática do
partido nas palestras que profere e nos artigos que escreve. Pelo menos
mostra a direção que o partido deveria tomar, uma indicação muito mais
próxima dos que desejam a retomada de posições iniciais do PSDB do que
da cúpula partidária, adepta da velha politicagem de bastidores.
Um exemplo recente foi a cartados economistas tucanos Elena Landau,
Edmar Bacha, Gustavo Franco e Luiz Roberto Cunha para o presidente
interino Tasso Jereissati, de apelo para que a sigla deixe o governo
Temer. Eles integram o grupo de economistas ligados à PUC-Rio que
definiu a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso,
especialmente na elaboração e execução do Plano Real.
Os economistas chegaram a pensar em se desfiliar do PSDB, mas
decidiram aguardara convenção do partido, que deve se realizar ainda em
agosto. Depois do programa partidário de televisão, vários deles já
procuraram Tasso para congratular-se pela coragem de encarar as questões
fundamentais que o partido enfrenta. Continuam defendendo que o PSDB
entregue os quatro ministérios que tem, mas mantenha o apoio à equipe
econômica e às reformas estruturais que forem a votação no plenário do
Congresso.
O senador Ricardo Ferraço também faz parte desse grupo que quer
recuperar a linha programática do antigo PSDB, e diz que é preciso
assumir que o partido associou-se a um modelo falido que precisa ser
modificado. Já o ministro das Relações Exteriores Aloisio Nunes
Ferreira, um dos principais nomes do partido, ficou irritadíssimo e
soltou uma nota no seu Facebook afirmando que o programa era um
“monumento à inépcia publicitária" e expressão "de uma confusão política
digna de figurar numa antologia do gênero". Segundo ele, o programa diz
que o "o PSDB errou, sem dizer exatamente onde está o erro" e reagiu a
declarações sobre corrupção generalizada.
A expressão “presidencialismo de cooptação”, sugerida pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi o que mais irritou tantos a
cúpula do Palácio do Planalto quanto os ministros tucanos, que se
indignaram com a insinuação de que estariam no ministério por interesses
escusos.
O movimento contrário à atual direção partidária tenta fazer com que o
grupo do senador Aécio Neves retome a presidência, para ele próprio ou
para outro membro mais ligado ao grupo que quer manter-se no governo.
Como prevê o senador Tasso Jereissati, está chegando a hora da definição
para o PSDB, que tem na sua ala mais forte, a paulista, uma
concordância entre o prefeito João Dória e o governador Geraldo Alckmin
para a manutenção da linha reformista da direção partidária atual.
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