A divisão do trabalho e a exploração dos recursos naturais geram riqueza e bem-estar
George Reisman - IMB
A
economia é a ciência que estuda a produção de riqueza que ocorre em um sistema
baseado na divisão do trabalho. A
divisão do trabalho é um sistema em que o indivíduo ganha seu sustento ao
produzir — ou ao ajudar a produzir — um bem ou um serviço. Em algumas raras ocasiões, há indivíduos
capazes de produzir, ou ajudar a produzir, vários bens ou vários serviços.
A
divisão do trabalho — que é uma característica dominante do capitalismo e cujo
desenvolvimento pleno só pode existir sob o sistema capitalista — proporciona,
entre outros benefícios, enormes ganhos para todos. Isso ocorre por meio
da multiplicação da quantidade de conhecimento que entra no processo produtivo,
fenômeno esse que gera, como consequência, um aumento contínuo e progressivo da
própria quantidade de conhecimento.
Apenas
considere isso: cada ocupação distinta, cada sub-ocupação, possui seu próprio e
único corpo de conhecimento (a soma de todo o conhecimento em uma dada
especialidade). Em uma sociedade capitalista, baseada na divisão do
trabalho, a quantidade de corpos de conhecimento distintos que participam do
processo de produção é proporcional à quantidade de empregos existentes.
A totalidade desse conhecimento opera em benefício de cada indivíduo
consumidor, quando este compra os produtos produzidos por outros. E o mesmo é válido para o indivíduo produtor,
na medida em que sua produção é auxiliada pelo uso de máquinas e equipamentos
(bens de capital) previamente produzido por outros.
Assim,
imagine um determinado indivíduo que trabalha como carpinteiro. Seu corpo
de conhecimento é a carpintaria. Porém, na condição de consumidor, ele se
beneficia de todas as outras ocupações distintas que existem no sistema
econômico. A existência de um corpo de conhecimento tão extenso e
disperso é essencial para a existência de uma infinidade de produtos — sendo
que cada produto requer em seu processo de produção mais conhecimento do que um
único indivíduo, ou um pequeno número de indivíduos, pode ter. Dentre
tais produtos, temos o maquinário, algo que não poderia ser produzido na
ausência de uma divisão do trabalho extremamente ampla e do vasto corpo de
conhecimento que isso gera.
Ademais,
em uma sociedade capitalista, baseada na divisão do trabalho, uma grande
proporção dos membros mais inteligentes e ambiciosos da sociedade — tais como
os gênios e outros indivíduos de grande talento — escolhem sua especialização
exatamente naquelas áreas em que podem melhorar e aumentar progressivamente o
volume de conhecimento que é aplicado na produção. Este é o efeito gerado
quando tais indivíduos se especializam em áreas como ciência, invenção e
negócios.
A
divisão do trabalho, em suma, é um sistema em que as necessidades de um
indivíduo são supridas pelo trabalho efetuado por outros indivíduos.
A riqueza e a exploração dos recursos
oferecidos pela natureza
A
divisão do trabalho gera riqueza.
Riqueza são os bens materiais criados pelo homem e que melhoram sua
qualidade de vida. Riqueza é muito mais
do que ter alimentos, roupas e moradia.
Riqueza é um conjunto de coisas que atende a todos os aspectos da vida
humana, inclusive nossa capacidade de locomoção, de visão, de audição, de ação e
de raciocínio.
A
riqueza, em suas várias formas, aumenta o poder dos sentidos, da mente e dos
membros do homem, de modo a melhorar sua qualidade de vida. Automóveis e aviões são riquezas que aumentam nossa capacidade
de locomoção; máquinas e ferramentas de todos os tipos são riquezas que aumentam o poder de
nossos músculos e membros. Óculos,
microscópios e telescópios são riquezas que aumentam nosso poder de visão. Livros, jornais, televisores, filmes e
computadores são riquezas que aumentam as informações disponíveis para nossos
olhos, ouvidos e mentes.
A
atividade econômica gerada pela divisão do trabalho e sua consequente produção
de riqueza servem para melhorar o ambiente em que vive homem.
Na medida em que o homem se torna capaz de converter recursos naturais em bens,
sua riqueza e seu padrão de vida aumentam.
A
oferta de recursos naturais economicamente utilizáveis se expande à medida que
o homem aumenta seu conhecimento em relação à natureza e seu poder físico sobre
ela. A oferta se expande à medida que o homem obtém avanços na ciência e
na tecnologia, e aprimora e amplia sua oferta de equipamentos.
Por
exemplo, a oferta de ferro como um recurso natural economicamente utilizável
era de zero para o povo da Idade da Pedra. O ferro passou a ser um
recurso natural economicamente utilizável somente após terem descoberto alguma
utilidade para ele e após terem percebido que o ferro poderia contribuir para a
vida e bem-estar do homem ao ser forjado em vários objetos. A oferta de
ferro economicamente utilizável era ínfima quando ele podia ser extraído somente
por meio de escavação com pás. Ela se tornou substancialmente maior
quando escavadoras mecânicas e de motor a vapor substituíram as pás
manuais. E se tornou ainda maior quando se descobriram métodos para
separar o ferro de compostos contendo enxofre. E assim tem sido, e pode
continuar sendo, para cada recurso natural economicamente utilizável. Sua
oferta aumentou e pode continuar aumentando por um período de tempo indefinido.
O
fato de que a terra é feita de elementos químicos que o homem não pode criar e
nem destruir implica que, do ponto de vista das ciências físicas, a produção e
a atividade econômica podem ser entendidas como sendo meras alterações nas
localizações e combinações dos elementos químicos. Assim, por exemplo, a
produção de automóveis representa um mero deslocamento de parte do ferro que
está localizada em uma região do planeta para alguma outra localidade onde está
a montadora; e, nesse processo, o ferro é separado de elementos como oxigênio e
enxofre e recombinado com outros elementos como cromo e níquel.
As
mudanças nas localizações e combinações dos elementos químicos que constituem a
produção e a atividade econômica não são aleatórias, mas, sim, voltadas
precisamente para o aprimoramento da relação dos elementos químicos com a vida
e o bem-estar humano. O ferro presente nos automóveis, nos
eletrodomésticos e nas vigas de aço que sustentam prédios e pontes possui uma
relação muito mais útil e valiosa para a vida e bem-estar humano do que o mesmo
ferro soterrado, intocado e inutilizado no subsolo. O mesmo é válido para
o petróleo e o carvão trazidos para a terra e utilizados para gerar calor,
iluminar casas e fornecer energia para as máquinas e ferramentas do
homem. O mesmo também é válido para todos os elementos
químicos que se transformaram em componentes essenciais de produtos importantes
quando comparados ao que eram esses mesmos elementos quando jaziam inertes no
subsolo.
Do
ponto de vista da física e da química, toda a produção consiste em rearranjar,
em combinações distintas, os elementos químicos fornecidos pela natureza, e
transportá-los para diferentes localidades geográficas. O propósito que
norteia esse rearranjo e transportação é essencialmente fazer com que os
elementos químicos possibilitem um aprimoramento da relação entre a vida humana
e o bem-estar. Tal procedimento coloca os elementos químicos em
combinações e localidades nas quais eles podem fornecer uma maior utilidade e
um maior benefício aos seres humanos.
Sendo assim, a relação dos elementos químicos ferro e cobre com a vida e o
bem-estar do homem é enormemente melhorada quando ambos são extraídos de
debaixo da terra e utilizados para fabricar produtos como automóveis,
geladeiras e cabos elétricos. A relação de elementos químicos como
carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio com a vida e o bem-estar do homem é
aperfeiçoada quando eles podem ser combinados para produzir energia e luz
elétrica. A relação de um pedaço de terra com a vida e o bem-estar do
homem é aprimorada quando, em vez de ter de dormir sobre a terra dentro de um
saco de dormir e ter de tomar precauções contra cobras, escorpiões e animais
selvagens, ele pode dormir dentro de uma moderna e bem construída casa erigida
sobre esse pedaço de terra, com todos os utensílios e confortos que já consideramos
rotineiros.
A
totalidade dos elementos químicos constitui o ambiente externo material do
homem, e é precisamente para aprimorar essa relação que servem a produção e a
atividade econômica.
Na
medida em que a natureza essencial da produção e da atividade econômica é
aprimorar a relação entre os elementos químicos e a vida e o bem-estar do
homem, ela também tem o objetivo de necessariamente aprimorar o ambiente do
homem, o qual é formado por esses mesmos elementos químicos e suas forças
energéticas correlacionadas. A ideia de que a produção e a atividade
econômica são nocivas para o meio ambiente significa dizer que o homem e sua
vida não são fonte de valor algum para o mundo, e que, portanto, tal fonte de
valor deve ser substituída por um critério de valor não-humano — ou seja, pela
crença de que a natureza tem valor intrínseco, quando, na verdade,
todo o seu valor lhe é imputado pelo homem.
Sem
a exploração dos recursos naturais e sua subsequente transformação em riqueza,
seria impossível a existência tanto de elementos essenciais para a nossa
sobrevivência quanto de artigos de luxo que hoje são tidos como básicos.
Instrumentos
musicais, salas de concertos, escolas de música, CDs, iPods são riquezas que
servem à execução e à apreciação da música.
Tintas, pincéis, quadros, museus e escolas são riquezas que servem à
criação e à apreciação da arte. Livros
científicos, universidades, laboratórios e todos os seus equipamentos (de tubos
de ensaio a cíclotrons) são riquezas que servem à busca da ciência. Hospitais, ambulâncias, instrumentos
cirúrgicos e remédios são riquezas que servem à superação de doenças e
enfermidades.
Sem
essas respectivas riquezas, a música, a arte, as ciências e a medicina seriam
praticamente inexistentes. Tire a
riqueza da música e tudo o que restará será o canto destreinado da voz humana
perante uma pequena plateia. Tire a
riqueza da arte e tudo o que restará serão rabiscos nas paredes das
cavernas. Tire a riqueza da ciência e
tudo o que restará serão moldes feitos de areia. Tire a riqueza da medicina e tudo o que
restará serão orações e mandingas.
A
riqueza deve ser mensurada em termos de como ela nos permite viver e usufruir a
vida.
Conclusão
Quando
o homem e sua vida são considerados os critérios básicos para se determinar o
valor das coisas, então é correto dizer que o ambiente é aprimorado com a
construção de casas, áreas agrícolas, fábricas e estradas — pois todas essas
obras tornam, direta ou indiretamente, a vida mais fácil. Quando a
natureza por si só é vista como valiosa, então diz-se que o ambiente é
danificado sempre que o homem constrói algumas dessas obras ou faz algo que
altera o estado atual da natureza, pois ele estará destruindo algo que
supostamente possui valor intrínseco.
Um
dos principais problemas de nossa época não é a poluição ambiental, mas sim
a corrupção filosófica. É exatamente aí que jaz a crença de
que melhorias nas condições materiais da vida humana são, de alguma forma,
danosas ao meio ambiente.
George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma
réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor
se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é
professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com
Tradução de Leandro Roque
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