Critério menos 'técnico'
João Bosco Rabello - OESP
A saída da ministra Helena Chagas do comando da
comunicação do Planalto poderia constituir uma mudança natural, inserida
na dinâmica de governos, não fosse o episódio o desfecho de uma pressão
permanente do PT pelo controle da mídia, extensiva ao ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo.
Ao explicitar na carta de demissão a adoção de “critério técnico” na
aplicação do orçamento da Pasta, a ex-ministra expôs como uma das razões
de sua saída a resistência a ampliar os recursos dirigidos à mídia
alternativa, eufemismo para os produtos de conteúdo governista, também
chamados de “blogs sujos”.
Estes, como se sabe, compõem o amplo universo digital de
apoio ao PT, financiado pelo governo a título de democratizar a mídia,
mas na verdade instrumento para contrapor a leitura ideológica do
partido à cobertura jornalística independente. Numa linguagem direta,
uma militância paga.
O epíteto “blogs sujos” surgiu dos conteúdos ofensivos,
caluniosos e, não raro, apócrifos, que fazem circular, sustentados por
dinheiro público, mecanismo estimulado no governo Lula, em contraste com
o recente apelo do ex-presidente pelo uso responsável da Internet.
Os opositores internos a esse modelo são alvos permanentes do
“fogo amigo” do PT. Não os move na resistência à sua ampliação apenas o
aspecto de sua legitimidade, mas de sua legalidade. Trata-se de
investimento público que mistura interesses partidários com os de
governo, em forma de propaganda remunerada a uma mídia informal não
submetida aos critérios de audiência, circulação e distribuição,
referências basilares para os valores da publicidade - oficial e
privada.
Não por outra razão, os defensores de critério “menos
técnico” para o setor, querem também mudar os parâmetros de medição
aplicados para constatar o alcance de cada meio, por se constituírem
hoje em obstáculo à democratização dos recursos, segundo o conceito do
PT. A proposta revogaria a lei de mercado, segundo a qual, custa mais ao
anunciante o veículo com maior alcance de leitores.
Já o ministério das Comunicações se opõe à pretensão do PT de
aprovar a regulamentação da mídia nos padrões de controle que afetam a
liberdade constitucional de expressão.
Ainda no governo, Lula disse ao Estado que os meios de
comunicação não deveriam se preocupar com esse tipo de pressão, porque
se inseria no contexto do que chamou de “usina de utopias”- alusão às
propostas emanadas das conferências do PT.
Evitou assim a prestar contas dos valores e beneficiários dos
recursos pagos a essa mídia paralela. Uma caixa preta ainda por ser
aberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário