sexta-feira, 28 de março de 2014

A vergonhosa postura do governo brasileiro na crise venezuelana
Rodrigo Constantino - VEJA

Entendo o leitor que escolhe ficar alienado, falar de futebol ou novela. São tantos escândalos políticos e tantos problemas econômicos que parece impossível acompanhá-los na íntegra. Sem falar que fica aquela sensação de impotência, de que é porcaria demais e que isso não vai mudar. Mas a negligência dos bons é o maior aliado dos safados.
Já falei desse assunto aqui antes, mas volto a ele, pois é grave: a postura do governo brasileiro, inclusive afetando a imagem do Itamaraty, no que se refere à crise venezuelana, é vergonhosa! O silêncio é ensurdecedor, e sequer há a pretensão de neutralidade; o governo toma partido mesmo, e do lado errado.
O resultado está aí: ONGs venezuelanas acusam nosso país de cumplicidade, conivência, descaso com os abusos dos direitos humanos no país, só porque seu governo é “camarada” de ideologia:
Representantes da ONG venezuelana Foro Penal, que atua na defesa das vítimas da repressão no país, disseram nesta quinta-feira terem ficado surpreendidos pela posição do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, no encontro entre chanceleres e ONGs locais, na última quarta-feira. De acordo com os diretores da Foro Penal, Alfredo Romero e Gonzalo Himiob, o ministro brasileiro minimizou o que está acontecendo na Venezuela em matéria de violação dos direitos humanos, adotando uma atitude “indiferente” em relação às gravíssimas denúncias de prisões arbitrárias e torturas, entre outros abusos.
Dá desgosto ser brasileiro num momento desses. O representante da ONG acrescentou: “O que o ministro brasileiro disse seria como afirmar a uma pessoa que foi estuprada que isso não é tão grave, que acontece em todos os países, que é normal”. O Itamaraty fica cada vez mais chamuscado, sujo de vermelho, sob o governo do PT. É uma lástima, pois sabemos que existem muitos diplomatas sérios ali.
Marcos Troyjo, em sua coluna de hoje na Folha, afirma que nossa política externa é “sem perfil”. Ele diz:
A flexibilidade moral do Brasil não se explica apenas pelo interesse estratégico em fortalecer os BRICS. É, antes, resultado da predileção por cenário em que EUA e Europa têm menor importância relativa.
Tal leitura convém à preferência ideológica dos atuais “influenciadores” da política externa brasileira. Daí não surpreende todo irrealista apego às relações Sul-Sul e nossa maleabilidade ante Cuba, Venezuela, Honduras e UNASUL.  
O tempo dirá se essa combinação de malabarismo ético com distanciamento do Ocidente serve ao objetivo de tornar o Brasil mais próspero e respeitado no mundo.
Como bom diplomata, Troyjo pega leve, deixando no ar a dúvida. Mas eu, que não sou diplomata, posso dizer: não precisamos esperar para saber o resultado dessa postura ideológica no Itamaraty. Será catastrófica! Já está sendo! O malabarismo ético, a flexibilidade moral, a amizade com ditadores, tudo isso conspira, e muito, contra um país mais próspero e respeitado no mundo.

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