Rodrigo Constantino - VEJA
Entendo o leitor que escolhe ficar
alienado, falar de futebol ou novela. São tantos escândalos políticos e
tantos problemas econômicos que parece impossível acompanhá-los na
íntegra. Sem falar que fica aquela sensação de impotência, de que é
porcaria demais e que isso não vai mudar. Mas a negligência dos bons é o
maior aliado dos safados.
Já falei desse assunto aqui antes, mas
volto a ele, pois é grave: a postura do governo brasileiro, inclusive
afetando a imagem do Itamaraty, no que se refere à crise venezuelana, é
vergonhosa! O silêncio é ensurdecedor, e sequer há a pretensão de
neutralidade; o governo toma partido mesmo, e do lado errado.
O resultado está aí: ONGs venezuelanas acusam
nosso país de cumplicidade, conivência, descaso com os abusos dos
direitos humanos no país, só porque seu governo é “camarada” de
ideologia:
Representantes
da ONG venezuelana Foro Penal, que atua na defesa das vítimas da
repressão no país, disseram nesta quinta-feira terem ficado
surpreendidos pela posição do ministro das Relações Exteriores do
Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, no encontro entre chanceleres e ONGs
locais, na última quarta-feira. De acordo com os diretores da Foro
Penal, Alfredo Romero e Gonzalo Himiob, o
ministro brasileiro minimizou o que está acontecendo na Venezuela em
matéria de violação dos direitos humanos, adotando uma atitude
“indiferente” em relação às gravíssimas denúncias de prisões arbitrárias
e torturas, entre outros abusos.
Dá desgosto ser brasileiro num momento
desses. O representante da ONG acrescentou: “O que o ministro brasileiro
disse seria como afirmar a uma pessoa que foi estuprada que isso não é
tão grave, que acontece em todos os países, que é normal”. O Itamaraty
fica cada vez mais chamuscado, sujo de vermelho, sob o governo do PT. É
uma lástima, pois sabemos que existem muitos diplomatas sérios ali.
Marcos Troyjo, em sua coluna de hoje na Folha, afirma que nossa política externa é “sem perfil”. Ele diz:
A
flexibilidade moral do Brasil não se explica apenas pelo interesse
estratégico em fortalecer os BRICS. É, antes, resultado da predileção
por cenário em que EUA e Europa têm menor importância relativa.
Tal
leitura convém à preferência ideológica dos atuais “influenciadores” da
política externa brasileira. Daí não surpreende todo irrealista apego às
relações Sul-Sul e nossa maleabilidade ante Cuba, Venezuela, Honduras e
UNASUL.
O tempo dirá
se essa combinação de malabarismo ético com distanciamento do Ocidente
serve ao objetivo de tornar o Brasil mais próspero e respeitado no
mundo.
Como bom diplomata, Troyjo pega leve,
deixando no ar a dúvida. Mas eu, que não sou diplomata, posso dizer: não
precisamos esperar para saber o resultado dessa postura ideológica no
Itamaraty. Será catastrófica! Já está sendo! O malabarismo ético, a
flexibilidade moral, a amizade com ditadores, tudo isso conspira, e
muito, contra um país mais próspero e respeitado no mundo.
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