O PCC e os ônibus
O Estado de S.Paulo
É da maior importância a investigação conduzida pela
Polícia Civil para determinar se existe ou não ligação do Primeiro
Comando da Capital (PCC) com os perueiros, que são um dos pilares do
serviço de ônibus da capital paulista. Isso deveria ter sido feito há
mais tempo, porque a suspeita já é antiga e porque é evidente o risco
para a segurança pública e o serviço de transporte da cidade de uma
possível infiltração nele daquela organização criminosa que, comandada
de dentro dos presídios, continua a expandir suas atividades aqui fora.
O que chamou a atenção para o caso foi a informação de que, durante
diligência feita em março para apurar a presença de integrantes do PCC
em ataques a ônibus em São Paulo, a polícia constatou que o deputado
estadual Luiz Moura (PT), ligado ao secretário municipal de Transportes,
Jilmar Tatto, estava presente em reunião da qual participavam nove
suspeitos de pertencer àquela organização.
Moura negou que sua presença ali tivesse qualquer conotação criminosa
- ele não estava entre as 42 pessoas levadas ao Departamento Estadual
de Investigações Criminais (Deic) para prestar esclarecimentos -, mas
isso não impediu que a direção do PT em São Paulo formasse uma comissão
para ouvir suas explicações a respeito das suspeitas que envolvem seu
nome. Se nem seu próprio partido se deu por satisfeito com sua negativa
pura e simples, nada mais natural que a população também queira saber
mais a respeito.
É claro que a eventual confirmação da ligação de Moura com elementos
do PCC daria outra dimensão ao caso, mas independentemente disso ele é
grave o suficiente para merecer atenção da polícia. Que há algo no
mínimo estranho na reunião, realizada na sede da cooperativa de
perueiros Transcooper, parece claro. Basta dizer que, além dos nove
suspeitos de ligação com o PCC, ali estava - e foi detido - Carlos
Roberto Maia, conhecido como Carlinhos Alfaiate, "famoso ladrão de banco
dos anos 1990", segundo a polícia. Outros têm "vida pregressa negativa,
com passagens por crimes contra o patrimônio". São companhia nada
recomendável, para dizer o mínimo.
A polícia suspeita que integrantes do PCC sejam donos de micro-ônibus
e vans colocados em nomes de "laranjas". Por isso, vai investigar quem
são os perueiros registrados na Prefeitura e no nome de quem estão os
veículos. Assim, poderá verificar se eles têm como justificar a
propriedade de micro-ônibus e vans das cooperativas que integram o
sistema de transporte público.
Esse é um bom negócio. Os perueiros são pagos pela Prefeitura com
base no que arrecadam diariamente e, dependendo na linha, recebem até R$
1,2 mil por dia. De acordo com a São Paulo Transportes (SPTrans),
empresa que gerencia o serviço de ônibus, o proprietário de cada veículo
recebe em média R$ 25,7 mil por mês. Não faltam atrativos para ao mesmo
tempo obter lucro e lavar dinheiro do PCC.
Os indícios de que o crime organizado vê um rico filão para seus
"negócios" nas cooperativas de perueiros são muitos e fortes. É um setor
ainda novo - ao contrário do dos ônibus, já ocupado há muito por
empresas consolidadas - e, portanto, vulnerável a aventureiros. E a
reunião descoberta pela polícia só reforça a impressão de que eles não
perderam tempo.
Outro forte e inquietante indício está nos incêndios criminosos de
ônibus, que não param de crescer. Desde o início do ano, foram 76
veículos incendiados, bem mais do que o total de 2013 (66). Casos de
micro-ônibus e vans são, ao contrário, raríssimos. Por que, justamente
nesses que compõem o setor que seria objeto da cobiça do PCC ninguém
toca? Como o serviço que eles prestam não é melhor do que o dos ônibus,
não estão sendo poupados pela sua qualidade.
A polícia precisa esclarecer essas dúvidas o quanto antes e, se
confirmadas suas suspeitas, agir com o máximo rigor. O controle de uma
parte importante do serviço de ônibus da maior cidade do País pelo PCC -
que mais uma vez demonstraria que sua ousadia não conhece limites - é
inaceitável.
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