Antissionismo é antissemitismo
Após
o Holocausto, o antigo antissemitismo foi substituído pelo
antissionismo. A máscara é nova, mas a alma horrenda é velha conhecida
CLAUDIO LOTTENBERG - FSP
O
debate sobre o Oriente Médio parece atualmente querer regredir ao
pré-1947, quando a ONU decidiu dividir a Palestina em dois países, um
árabe e um judeu. Aqui e ali, volta-se a negar o direito à
autodeterminação nacional do povo judeu em sua terra ancestral.
A
tentativa de demonização do sionismo é apenas isto: a negação do
direito de um povo à autodeterminação. Nenhum outro movimento nacional
sofreu ou sofre essa campanha contrária avassaladora.
É moda
dizer que o sionismo e Israel são entidades coloniais. Nem como piada
serve. Os falsificadores da história precisariam explicar por que a URSS
votou na ONU em 1947 a favor de um "empreendimento colonial". Votação
em que o maior colonizador da época, o Reino Unido, absteve-se. Aliás, a
URSS foi o primeiro país a reconhecer Israel.
Nós mesmos somos
cidadãos de um país cuja independência foi apoiada pelo Império
Britânico. E daí? E daí nada. É comum que nações em busca da
autodeterminação explorem as contradições intercolonialistas e
interimperialistas.
A divisão de um país em dois aconteceu também
em outra descolonização, na mesma época da partilha da Palestina, na
joia da coroa britânica, quando Índia e Paquistão viraram dois países. E
o critério para a delimitação também foi étnico-demográfico. Incluindo
transferências de populações --que hoje viraram sinônimo de limpeza
étnica.
O direito à separação de povos e nacionalidades que não
desejam viver juntos foi também assegurado, mais recentemente, no
desmembramento da ex-Iugoslávia e na extinção da Tchecoslováquia.
Os argumentos deslegitimadores do sionismo mal disfarçam o preconceito e a discriminação.
Guerras
têm vencedores e perdedores. O final da Segunda Guerra Mundial assistiu
a dramáticos e trágicos deslocamentos populacionais, consequências de
realidades produzidas no campo de batalha.
Um caso bastante
conhecido é o palestino. Infelizmente, até hoje os palestinos pagam a
dívida que seus líderes de então contraíram, ao aliarem-se à Alemanha
nazista. Países árabes também invadiram o nascente Estado judeu logo
após sua independência, em 1948.
Outro argumento contra o sionismo é que os judeus não seriam um povo, mas apenas uma religião.
Cada
nação deve definir sua identidade. Se judeus definem-se por uma
religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel),
ninguém tem nada a ver com isso.
Imagine-se o escândalo se Israel
mudasse de nome, para "Estado Judeu de Israel". Mas não ouvimos
reclamações contra, por exemplo, o "Islâmica" em "República Islâmica do
Irã" ou "Árabe" em República Árabe do Egito.
O sionismo foi e é
apenas isto: a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica. E
Israel surgiu na descolonização no pós-guerra, beneficiado pelas
alianças corretas na vitória sobre o nazismo. Essa é a verdade
histórica.
O único caminho para a paz é o reconhecimento das
realidades históricas e a divisão em dois países por critérios
demográficos. Dois Estados para dois povos.
O antigo
antissemitismo saiu de moda após o mundo ter descoberto o Holocausto.
Foi substituído por uma nova forma de discriminação: o antissionismo. A
máscara é nova, mas a alma horrenda é velha conhecida. Uma verdadeira
aberração.
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