Diplomacia partidarizada sob encomenda
O governo
evita qualquer condenação à Rússia e faz o mesmo com a Síria de Assad,
ditador já com mais de 150 mil mortos na biografia. A ideia é fazer-se
tudo que contrarie os americanos
O GLOBO
A política externa é uma
das que mais foram alteradas desde que o PT chegou ao Planalto, em
janeiro de 2003. Ficou visível que o Itamaraty como instituição deixou
de ter peso nas decisões, ao mesmo tempo em que uma visão de mundo
condicionada por um nacionalismo de esquerda, antiamericanista, do
pós-guerra, passou a ser preponderante. Foram engavetadas
características da diplomacia profissional: a busca pelo equilíbrio, a
não intervenção em crises políticas de outros países, o bom
relacionamento com americanos e europeus, sem se afastar do mundo
emergente.
O curioso é que onde se esperavam alterações de fundo,
na política econômica, nada aconteceu. E ainda bem, porque foi a
manutenção de princípios da administração tucana que evitou o
descarrilamento da economia, atingida por uma séria crise de confiança
causada pela perspectiva de chegada do próprio PT ao poder. Consta que,
para manter as fileiras petistas unidas, a política externa foi cedida,
em contrapartida, às frações mais à esquerda do partido.
E no
momento observa-se mais um surto de esquerdização da diplomacia, quando o
Planalto necessita de um PT unido, às vésperas da que deverá ser a mais
árdua batalha eleitoral que o partido enfrentará, desde a vitória de
Lula, em 2002.
O último sintoma do surto foi a decisão do governo
Dilma de convocar o embaixador em Tel Aviv , Henrique Sardinha, “para
consultas", devido ao “uso desproporcional da força” por parte de Israel
em Gaza. Havia formas menos estridentes de comunicar o justificável
mal-estar com as mortes de civis em Gaza — mas também sem deixar de
registrar a contrariedade com os constantes ataques de foguetes feitos
pelo Hamas contra cidades israelenses, incluindo, agora, Tel Aviv.
A
atitude gerou a resposta, também desequilibrado, da chancelaria
israelense, com o uso do deplorável termo “anão diplomático” para
qualificar o Brasil. O ministro das Relação Exteriores, Luiz Alberto
Figueiredo, embaixador de carreira, respondeu dentro dos códigos da
atividade, enquanto Marco Aurélio Garcia, assessor especial da
presidência, militante petista, uma espécie de ministro das Relações
Exteriores “do b", manteve o nível do porta-voz israelense,
classificando-o de “sub do sub do sub do sub do sub” — copiando o
ex-presidente Lula na resposta a um comentário de autoridade americana
de que não gostou.
Mais uma prova de que os profissionais da
diplomacia estão em segundo plano é a tíbia posição brasileira diante do
ataque ao jato comercial por grupos de rebeldes ucranianos apoiados
pela Rússia de Putin, outro aliado preferencial do Planalto. O avião,
malaio; o míssil, russo. Morreram 298 pessoas.
O governo evita
qualquer condenação à Rússia e faz o mesmo com a Síria de Assad, ditador
já com mais de 150 mil mortos na biografia. O conceito é simples:
faz-se tudo aquilo que contraria a política externa americana. Parece
birra, mas há quem considere eficaz para conseguir votos.
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