Reinaldo Azevedo - VEJA
Pois é… Vamos ver por onde começar.
Luiz
Inácio Lula da Silva era o convidado de honra do encerramento da 14ª
Plenária da CUT, a Central Única dos Trabalhadores, que ocorreu nesta
segunda-feira, em Guarulhos. Falou pelos cotovelos, puxou o saco de
banqueiro, pediu a cabeça de uma bancária, disse palavrão, fez
terrorismo eleitoral… Tudo em parceria com dirigentes da entidade…
Barbarizou, enfim, como é de seu feitio. Vamos ver.
Sindicatos
e centrais sindicais tiram parte considerável de seu sustento de um
imposto — a tal contribuição obrigatória, que está na CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho) desde 1940. Ainda que o vivente não seja
sindicalizado, é obrigado a doar para a entidade sindical um dia de seu
trabalho. Em 2008, foi aprovada a Lei 11.648 que
reconhecia a existência das centrais sindicais e lhes entregava uma
fatia da verba bilionária. Só para vocês terem uma ideia, em 2013, a
contribuição sindical rendeu R$ 3,2 bilhões, que têm de ser assim
distribuídos:
a) 5% para a confederação correspondente;
b) 10% para a central sindical;
c) 15% para a federação;
d) 60% para o sindicato respectivo; e
e) 10% para a “Conta Especial Emprego e Salário”.
a) 5% para a confederação correspondente;
b) 10% para a central sindical;
c) 15% para a federação;
d) 60% para o sindicato respectivo; e
e) 10% para a “Conta Especial Emprego e Salário”.
Muito bem!
Isso quer dizer que os sindicatos arrecadaram, sem precisar fazer o
menor esforço, por determinação legal, R$ 1,920 bilhão (sim, um bilhão,
novecentos e vinte milhões de reais). As centrais, sozinhas, ficaram com
R$ 320 milhões. No projeto de lei original, essas entidades teriam de
prestar contas ao TCU sobre o uso desse dinheiro. Lula vetou. Elas
gastam a grana, que é de todos os trabalhadores, como lhes der na telha,
sem prestar contas a ninguém.
Sigamos.
Lula foi ao evento da CUT. E ouviu o presidente da entidade, Wagner
Freitas, fazer terrorismo eleitoral contra o tucano Aécio Neves,
defendendo, de quebra, a candidatura de Dilma Rouseff. Afirmou o rapaz:
“Alguém acha que a eleição do Aécio vai significar investimento em
política pública de qualidade no Brasil? Uma coisa central é reeleger a
presidente Dilma. É importantíssimo para nós continuar tendo um governo
que se articule direto conosco”.
O rapaz
não parou por aí: “Se nós conseguirmos todos os aumentos nas campanhas
salariais e o Aécio ganhar a eleição, vamos ter problema e teremos de
fazer campanha para defender a empresa pública, os nossos direitos e o
salário. Se o Aécio ganhar a eleição, ele vai acabar com a conquista que
se consolidou com o presidente Lula, de valorização do salário mínimo”.
É
incrível! Essa gente é capaz de dizer as mentiras mais disparatadas sem
nem mesmo corar. Atenção, meus caros! Nos oito anos do governo FHC, o
mínimo teve valorização real (descontada a inflação, pelo IPCA), de
85,04%; nos oito anos de Lula, foi um pouco maior: 98,32%; no quatro
anos de Dilma, deverá ser de apenas 15,44%.
E isso foi
apenas parte das falas terroristas do dia. Aí Lula pegou o microfone.
Afirmou que as conquistas sociais só terão continuidade se Dilma for
reeleita. E se referiu ao informe que o Banco Santander (leiam post)
enviou a alguns correntistas, alertando para o risco de deterioração dos
indicadores econômicos caso a presidente volte a subir nas pesquisas. O
chefão petista não teve dúvida: puxou o saco do banqueiro, o presidente
mundial do Santander, Emilio Botin, e pediu a cabeça da bancária, a
analista. E apelou, como é de seu feitio, a um palavrão:
“Botin, é o
seguinte, querido: tenho consciência de que não foi você quem falou.
Mas essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil, e nada
de governo Dilma. Manter uma mulher dessa em cargo de chefia,
sinceramente… Pode mandar embora e dar o bônus dela pra mim que eu sei o
que falo.”
Ora
vejam… Lula, segundo quem Dilma vai governar para o andar de baixo, e
seus adversários, para o andar de cima, ficou de joelhos diante do
banqueiro, que é do andar de cima, e pediu a cabeça da bancária, que é
do andar de baixo.
Afirmei que o ato foi escandalosamente ilegal, certo? Pois é. Existe uma lei que regulamenta as eleições: a 9.504. Estabelece o Inciso VI do Artigo 24:
Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(…)
VI – entidade de classe ou sindical.
Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(…)
VI – entidade de classe ou sindical.
A simples
expressão de preferência de um órgão sindical, ainda que por meio de um
boletim eletrônico, que pode sair a custo quase zero, caracteriza uma
forma de publicidade. O que se viu nesta segunda foi muito mais: a CUT
organizou uma plenária que serviu, de modo escancarado, para fazer
campanha eleitoral. É evidente que está caracterizada aí uma doação a
Dilma “estimável em dinheiro”. E de que “dinheiro” estamos falando?
Justamente daquele que sai do bolso de todos os trabalhadores, sejam
eles sindicalizados ou não.
Que coisa
fabulosa! O TSE mandou uma consultoria tirar da Internet simples
avaliações que fazia sobre as possíveis consequências da eventual
reeleição de Dilma. Estamos a falar de uma consultoria privada, que faz
isso às próprias expensas. Lê a sua análise quem quer. E no caso da CUT?
Parte do dinheiro que a entidade movimenta é pública. Todos os
trabalhadores a sustentam, queiram ou não, sejam sindicalizados ou não.
Contrariando flagrantemente a lei, seus dirigentes expressam preferência
por uma candidatura, demonizam a outra e ainda chamam para discursar o
garoto-propaganda de um partido.
Aí, em
nome dos trabalhadores, o dito-cujo, que atende pelo nome de Lula, faz
mesuras ao banqueiro e chuta o traseiro da bancária.
Não sei se o evento foi mais asqueroso do que ilegal ou mais ilegal do que asqueroso.
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