Estão rodando o Guido 2.0 para Levy
ELIO GASPARI - O Globo
Não
se sabe o que a doutora Dilma prometeu a Joaquim Levy. Sabe-se,
contudo, o que ele prometeu à patuleia: Um superavit de 1,2% do PIB nas
contas públicas de 2015. Para cumprir essa meta, o enxugamento deverá
ficar em algo como R$ 100 bilhões. Se o negócio fosse viver no mundo das
promessas, o novo ministro da Fazenda teria surgido com uma plataforma
mais gastadora que a de seu antecessor. Afinal de contas, o comissário
Mantega prometia um aperto ainda maior, com um superavit de, no mínimo,
2% do PIB. Como suas projeções eram produto da ficção petista, Levy
poderá ser um ministro racional e severo. A ver, mas R$ 100 bilhões não
nascem em árvores.
Levy ainda não assumiu e o Planalto mandou ao
Congresso uma medida provisória que joga no BNDES mais R$ 30 bilhões do
Tesouro. Isso sem se mencionar que a doutora Dilma sancionou um refresco
para estados e municípios endividados que custará à Viúva R$ 59 bilhões
em 25 anos e R$ 1 bilhão já em 2015.
Até agora, a entrada de
Levy para o governo serviu apenas para criar a esdrúxula situação de que
há dois ministros da Fazenda, um em fase de transição e outro em
extinção. Para assustar os crédulos, saiu da caixa de mágicas de Mantega
uma proposta de equilíbrio das contas externas taxando-se bens
supérfluos, como os cosméticos. Não se trata apenas de um truque inútil.
Ele é sobretudo velho, como se o problema das importações estivesse no
batom das senhoras.
A doutora Dilma gostava de dizer que o
tucanato quebrou o país três vezes, e que Aécio Neves tiraria a comida
dos pobres para alegria dos banqueiros. Até agora, promoveu uma das
maiores contrações de expectativa de crescimento do PIB da história
econômica do país caindo de 3% em agosto para 0,8% na semana passada.
Chamou para o governo um quadro que começou sua fama pública no governo
Fernando Henrique Cardoso e a fama privada num grande banco. Caso a
doutora queira rodar o software Guido 2.0 na máquina de Levy, queimará
os circuitos da economia.
O advogado geral do PT
É sabido
que o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, doutor Luís Inácio
Adams, pode vir a ser indicado pela doutora Dilma para uma vaga no
Supremo Tribunal Federal. Se ele é candidato, não deve ajudar quem teme a
bolivarianização da Corte. Diante da afirmação de um magano das
petrorroubalheiras de que sua empresa (Toyo Setal) pagou sua propina ao
comissariado doando legalmente R$ 4 milhões ao PT, Adams informou: “Eu
tenho confiança de que o trabalho de campanha foi o mais cuidadoso, mais
atento possível às questões legais.”
Não é função do advogado
geral da União distribuir confiança. Ao passar o dinheiro de forma
legal, a Toyo Setal também poderia dizer que foi “cuidadosa”, mas seu
diretor confessa agora que foi jabaculê. Isso é o que ele diz, pois será
sempre necessário provar que uma doação legal se relaciona com um
ilícito. Afinal, se uma doação de empreiteira ao PT nacional é jabaculê,
por que um outro mimo, de outra empreiteira, ao PSDB de São Paulo, não o
é?
O doutor Adams lustrou a ciência jurídica nacional no ano
passado, quando discutiu a possibilidade de que médicos cubanos pedissem
asilo ao governo brasileiro: “Nesse caso me parece que não teriam
direito a essa pretensão. Provavelmente seriam devolvidos”. Ele
vocalizava e endossava uma ameaça do aparelho policial cubano. Pelo
menos cinco médicos resolveram ir embora, quase sempre para os Estados
Unidos, onde trabalhariam em funções subalternas. Felizmente, nenhum foi
mandado de volta para Cuba.
Em silêncio
Quem está
acompanhando a investigação das petrorroubalheiras pelo lado
espetaculoso tem razões para começar a ficar confuso, até entendiado.
Não há ainda razão para desânimo, pois as coisas boas continuam andando,
fora dos refletores.
Há poucos dias um magano descobriu que sua
conta num banco suíço estava bloqueada. Assustou-se, assustando alguns
de seus amigos. Na hipótese otimista, o banco teria bloqueado seu
dinheiro por conta de algum mecanismo interno. Na outra, o bloqueio
teria sido pedido pelo governo brasileiro. Não deu outra. O nome do
magano ainda não apareceu em qualquer noticiário e ele não chegou a ser
diretor da Petrobras. Seu negócio ficou na área da consultoria, com
algumas operações africanas.
Os amigos estão assustados porque quando uma conta é bloqueada, todas as suas conexões são rastreadas.
Madame Natasha
Madame
Natasha esteve no grupo que fundou o movimento “O Petróleo é Nosso” e
por mais que espere que os petrocomissários lhe mandem algum mimo,
continua a pão e água. Ela concedeu à doutora Graça Foster mais uma de
suas bolsas de estudo pela seguinte pérola numa nota oficial do anúncio
da criação do cargo de diretor-xerife:
“A missão do novo diretor é
assegurar a conformidade de processos e mitigar riscos nas atividades
da Companhia, dentre eles os de fraude e corrupção, garantindo a
aderência a leis, normas, padrões e regulamentos, internos e externos à
Companhia.”
Natasha acredita que ela quis dizer o seguinte:
“O novo diretor pegará os ladrões.”
Vício esperto
Os
serviços de atendimento de grandes instituições cultivam um astucioso
vício de linguagem. Fazem suas lambanças e quando a vítima liga para
exigir a correção, repetem de forma monocórdica e prepotente que, seja
qual for o caso, que sua “solicitação” será encaminhada de acordo com os
prazos da empresa.
Exemplo: uma vítima do Bradesco Saúde
reclamou porque não haviam estornado para sua conta um pagamento que,
pelo contrato, deveria ser feito em vinte dias. Haviam passado 49 dias. O
freguês esperneou e, por mais que argumentasse com a cláusula
contratual, a atendente, bem como sua supervisora, repetiam que sua
“solicitação” seria encaminhada e, depois de cinco dias úteis ele teria
uma resposta. Dinheiro, nem pensar.
Quando a vítima atrasa seu pagamento, os maganos não “solicitam” pagamento, cobram os juros e acabou-se a conversa.
Treinando
seus serviços de atendimento para tratar os clientes como
“solicitantes”, desequilibra-se o diálogo, colocando-se a vítima no
papel de pedinte. Não é nada, não é nada, é falta de educação.
Bolsa Governador
Há
o país dos cavalcantis e o dos cavalgados. Para o dos cavalgados, o
governo começa a falar de novo em reformas na previdência social. Tudo
bem, porque aqui e ali há maluquices.
No país dos cavalcantis a
Assembleia Legislativa da Bahia aprovou em novembro uma emenda
constitucional que dará ao governador Jaques Wagner uma pensão especial
vitalícia de R$ 19,3 mil mensais. Com ele, serão beneficiados também os
ex-governadores Paulo Souto, César Borges e João Durval.
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