segunda-feira, 26 de junho de 2017

Além de mocinhos e bandidos
É necessária a entrada em cena de um novo ator, que indique a saída. Caso contrário, no lugar de novela brasileira, teremos um filme de Tarantino no qual todos se matam 
Bernardo Sorj - O Globo
Durante os últimos dois anos, os brasileiros acompanham, embasbacados, uma novela que parece não mudar de rumo. Mocinhos pertencentes ao Poder Judiciário, ao Ministério Público e à Polícia Federal desmascaram políticos e empresários corruptos, usando todos os instrumentos da lei, e até por momentos extrapolando seus limites. Isso não diminui o justo entusiasmo dos espectadores com os mocinhos, pois estão revoltados e nauseados com os bandidos que roubaram o dinheiro do povo.
Acontece que a trama se complicou. Os mocinhos fizeram um serviço aplaudido por todos, mas no caminho foram destruindo possíveis saídas para a trama, pois não possuem os instrumentos para solucionar o imbróglio. Tampouco ajudam os meios de comunicação, que alimentam o público com os últimos lances do dia, sem parar para discutir para onde se dirige o desfecho.
Se faz necessária a entrada em cena de um novo ator, que indique a saída do labirinto. Caso contrário, no lugar de uma telenovela brasileira, teremos um filme de Tarantino no qual todos os personagens se aniquilam entre si.
Fim da metáfora.
A crise brasileira é uma crise política. Os partidos perderam sua legitimidade, pois todos eles embarcaram em manobras de conjuntura, olhando para as nuvens, e não para o céu, para os ganhos e perdas deles, e não do pais, Como se Temer ficar ou sair fosse um programa político para o futuro do Brasil. Estamos presos a bolhas que nos apequenam.
Chegou a hora de a sociedade civil exigir dos políticos comprometidos com o bem público a se disporem a trabalhar juntos, pensando no futuro, e não em candidatos. Devem fazer avançar uma frente política, suprapartidária, que coloque como prioridade no Congresso Nacional a reforma política.
Só uma reforma política que diminua o número dos partidos, permita ao eleitor ter maior informação e controle sobre seus representantes e reduza o custo e regule o financiamento das campanhas, poderá permitir que o próximo Congresso não seja uma versão do atual, que inviabiliza a governabilidade.
Uma frente parlamentar, de políticos dos mais diversos partidos, que inclusive possa gerar a base de uma nova agrupação eleitoral, com um programa mínimo de reformas básicas que tirem o pais do atoleiro.
Um programa que acompanhe os sentimentos amplamente difundidos na cidadania: em favor de um Estado que se concentre em oferecer serviços públicos de qualidade e apoie os setores mais desfavorecidos, e de uma economia com menos amarras burocráticas e carga tributária.
Uma frente que lute por uma reforma da Previdência que elimine primeiro os privilégios mais gritantes usufruídos por políticos e setores de funcionários públicos, para logo ter a legitimidade necessária para fazer avançar outras medidas mais amplas.
Uma frente que possa ser o embrião de um partido político que se assuma como um centro radical, sensível tanto às necessidades sociais como às demandas empresariais legitimas, que modernize o Estado, avesso ao corporativismo e com um sólido código de ética, aberto às transformações de valores promovidos por grupos identitários e às exigências de respeito ao meio ambiente.
Poderemos assim mudar de rumo, salvar a democracia e recuperar a esperança.
Bandido e mocinho, morte, tiroteio, duelo (Foto: Arquivo Google)

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