Analistas conjugam considerações políticas e econômicas de formas muito distintas, visões divergentes
Rogério Furquim Werneck - O Globo
Convivem
hoje no país visões cada vez mais divergentes das perspectivas da
economia brasileira. Boa parte dessa divergência decorre das
dificuldades de levar em conta a extraordinária complexidade da
interação que poderá se estabelecer entre a economia e a política, ao
longo dos próximos meses.
Para entender com mais clareza a natureza dessas dificuldades, pensemos em como o cérebro sobrepõe imagens formadas em cada um dos nossos olhos, combinando perfeitamente os dois conjuntos de informação. Imaginemos o que ocorreria se tivéssemos olhos especializados, bem diferentes dos que de fato que temos. Um olho treinado para análise econômica; outro, para análise política. Ao sobrepor as imagens formadas por cada um desses dois olhos, cores mais carregadas de um lado poderiam dominar cores mais leves do outro.
Isso ajuda a perceber o que parece estar ocorrendo. Na medida em que diferentes analistas vêm conjugando considerações de ordem política e de ordem econômica de formas muito distintas, as visões de futuro vêm se tornando sensivelmente divergentes.
O que, tipicamente, vem enxergando o olho de analista econômico? Boas razões para avaliação favorável dos resultados obtidos pelo governo Temer. Tendo constatado que o descalabro fiscal deixado por Dilma Rousseff exigia um ajuste fiscal de pelo menos 5% do PIB, o governo conseguiu convencer o país de que tal ajuste não precisaria ser feito de imediato. Poderia ser feito aos poucos, ao longo de vários anos, desde que não houvesse dúvida sobre a determinação de levá-lo adiante.
Para tornar crível a proposta de ajuste fiscal gradual, o governo seguiu de perto o plano de jogo delineado em meados de 2016. Montou uma equipe econômica de excelente nível, restaurou a credibilidade do Banco Central, trouxe a inflação à meta e assegurou queda substancial da taxa de juros, abrindo espaço para recuperação da economia.
No front especificamente fiscal, o governo conseguiu aprovar a emenda constitucional do teto de gastos. E submeteu ao Congresso um projeto ambicioso de reforma da Previdência Social. Ajudaram a dar força ao círculo virtuoso que se formou contas externas cada vez mais sólidas e um quadro favorável na economia mundial, com alta liquidez internacional.
Mas o plano de jogo ainda incluía um último ponto crucial: assegurar que, na esteira do relativo sucesso da política econômica, fosse possível eleger, em 2018, um candidato comprometido com a manutenção do ajuste fiscal no próximo mandato presidencial.
Como tudo isso tem sido visto pelo olho do analista político? O vazamento da delação dos irmãos Batista tornou o quadro político muito mais adverso. Com o presidente acuado e fragilizado, já não há muito espaço para ilusões sobre parte importante do plano de jogo em que o país vinha apostando.
É bem verdade que Temer conseguiu que a Câmara bloqueasse a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República. E é bem possível que consiga bloquear novas denúncias. Mas, mesmo assim, o presidente não voltará a ter o capital político com que contava até 17 de maio. A crise deixou danos permanentes. A fragilização do presidente veio para ficar.
Em que medida isso compromete o plano de jogo no qual se vinha apostando? A aprovação de uma reforma da Previdência ambiciosa ficou inviável. O choque de incerteza política atrasou a recuperação do investimento e do nível de atividade. A perda de ascendência do presidente sobre o Congresso elevou o risco de rápida e substancial deterioração das contas públicas. E deve exigir desgastante relaxamento das metas fiscais de 2017 e 2018.
Nesse quadro, a eleição de um candidato comprometido com a manutenção do esforço de ajuste fiscal no próximo mandato tornou-se muito mais incerta do que parecia há poucos meses.
São percepções complementares de uma realidade complexa e em rápida mutação. O desafio é combiná-las de forma realista. Ao tentar sobrepor as duas imagens, é importante separar o que é análise do que pode ser só torcida e autoengano.
Para entender com mais clareza a natureza dessas dificuldades, pensemos em como o cérebro sobrepõe imagens formadas em cada um dos nossos olhos, combinando perfeitamente os dois conjuntos de informação. Imaginemos o que ocorreria se tivéssemos olhos especializados, bem diferentes dos que de fato que temos. Um olho treinado para análise econômica; outro, para análise política. Ao sobrepor as imagens formadas por cada um desses dois olhos, cores mais carregadas de um lado poderiam dominar cores mais leves do outro.
Isso ajuda a perceber o que parece estar ocorrendo. Na medida em que diferentes analistas vêm conjugando considerações de ordem política e de ordem econômica de formas muito distintas, as visões de futuro vêm se tornando sensivelmente divergentes.
O que, tipicamente, vem enxergando o olho de analista econômico? Boas razões para avaliação favorável dos resultados obtidos pelo governo Temer. Tendo constatado que o descalabro fiscal deixado por Dilma Rousseff exigia um ajuste fiscal de pelo menos 5% do PIB, o governo conseguiu convencer o país de que tal ajuste não precisaria ser feito de imediato. Poderia ser feito aos poucos, ao longo de vários anos, desde que não houvesse dúvida sobre a determinação de levá-lo adiante.
Para tornar crível a proposta de ajuste fiscal gradual, o governo seguiu de perto o plano de jogo delineado em meados de 2016. Montou uma equipe econômica de excelente nível, restaurou a credibilidade do Banco Central, trouxe a inflação à meta e assegurou queda substancial da taxa de juros, abrindo espaço para recuperação da economia.
No front especificamente fiscal, o governo conseguiu aprovar a emenda constitucional do teto de gastos. E submeteu ao Congresso um projeto ambicioso de reforma da Previdência Social. Ajudaram a dar força ao círculo virtuoso que se formou contas externas cada vez mais sólidas e um quadro favorável na economia mundial, com alta liquidez internacional.
Mas o plano de jogo ainda incluía um último ponto crucial: assegurar que, na esteira do relativo sucesso da política econômica, fosse possível eleger, em 2018, um candidato comprometido com a manutenção do ajuste fiscal no próximo mandato presidencial.
Como tudo isso tem sido visto pelo olho do analista político? O vazamento da delação dos irmãos Batista tornou o quadro político muito mais adverso. Com o presidente acuado e fragilizado, já não há muito espaço para ilusões sobre parte importante do plano de jogo em que o país vinha apostando.
É bem verdade que Temer conseguiu que a Câmara bloqueasse a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República. E é bem possível que consiga bloquear novas denúncias. Mas, mesmo assim, o presidente não voltará a ter o capital político com que contava até 17 de maio. A crise deixou danos permanentes. A fragilização do presidente veio para ficar.
Em que medida isso compromete o plano de jogo no qual se vinha apostando? A aprovação de uma reforma da Previdência ambiciosa ficou inviável. O choque de incerteza política atrasou a recuperação do investimento e do nível de atividade. A perda de ascendência do presidente sobre o Congresso elevou o risco de rápida e substancial deterioração das contas públicas. E deve exigir desgastante relaxamento das metas fiscais de 2017 e 2018.
Nesse quadro, a eleição de um candidato comprometido com a manutenção do esforço de ajuste fiscal no próximo mandato tornou-se muito mais incerta do que parecia há poucos meses.
São percepções complementares de uma realidade complexa e em rápida mutação. O desafio é combiná-las de forma realista. Ao tentar sobrepor as duas imagens, é importante separar o que é análise do que pode ser só torcida e autoengano.
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