Revisão de metas fiscais é sinal de fraqueza de Temer
Fragilizado politicamente tanto pela denúncia
como pela forma como negociou sua rejeição na Câmara, governo sinaliza
derrota no ajuste das contas
O Globo
A inevitável fatura do apoio ao presidente Michel Temer, no caso da
rejeição da denúncia do Ministério Público Federal por corrupção
passiva, está sendo cobrada. Não bastaram os bilhões liberados em
emendas aos deputados, antes da votação do pedido para o envio da
acusação ao Supremo. Entre os 263 que votaram em favor do presidente há
muitos que desejam mais recompensas.
O chamado centrão, aquele conjunto de partidos que se acostumaram a
praticar o fisiologismo nos governos Lula e Dilma, cobra do Planalto,
por exemplo, mais espaço na máquina administrativa.
O PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, PTN, entre outros, lançam olhares
cobiçosos para cargos de primeiro escalão ocupados pelo PSDB. Usam um
argumento tirado da cartilha do fisiologismo: “nós votamos em bloco por
Temer, enquanto eles se dividiram”.
Os problemas do Planalto, derivados dos entendimentos e promessas
feitos com partidos e parlamentares para salvar Temer, vão além da
disputa em torno de cargos. Enfraquecido devido a estas barganhas,
Temer, como previsto, tem dificuldades para cumprir promessas numa área
estratégica, a do ajuste fiscal.
O noticiário no decorrer do dia de ontem de que as metas fiscais
deste e do próximo ano deverão mesmo ser revistas sinaliza a
incapacidade política do governo para conseguir fazer o dever de casa de
que se esperava dele.
Não são desprezíveis os avanços conseguidos pelo Planalto até ser
abalado pela denúncia, com provas, feita pelo empresário Joesley Batista
da participação do presidente em acertos nada republicanos. Um dos
avanços foi a aprovação do teto constitucional para os gastos públicos.
Outro, a queda da inflação a níveis só observados na época do lançamento
do Plano Real, em meados da década de 90.
O drama é que tudo fica abalado se não houver desdobramentos na
aprovação da reforma da Previdência e em outras medidas no campo fiscal.
A capitulação nas metas é péssimo sinal.
Pode ser que na segunda-feira seja anunciado que o objetivo de um
déficit de R$ 139 bilhões para este ano seja elevado para R$ 159
bilhões, R$ 20 bilhões a mais de gastos.
Enquanto, para o ano que vem, a meta de R$ 129 bilhões de déficit
poderá se elevada para R$ 149 bilhões. Outros R$ 20 bilhões de folga. A
confiança no governo fica abalada.
Não é para menos, porque conclui-se que o Planalto não consegue fazer
o ajuste. Afinal, a União continua acumulando déficits anuais bem acima
dos R$ 100 bilhões. A nova meta deste ano, se confirmada, significará
um retorno a 2016, quando Temer assumiu.
E mesmo assim o governo não se sente em condições de avançar fundo,
como deveria, onde precisa: nos gastos em custeio com a máquina. No dia
de ontem, falou-se no correto congelamento dos salários dos servidores e
em rever-se as elevadas remunerações de início de carreira no
funcionalismo. Teria de avançar nesta direção.
Na retaguarda, no Congresso, porém, há quem se sinta credor de Temer
por ter barrado esta primeira denúncia da Procuradoria-Geral da
República. E já cobra mais para votar na reforma da Previdência.
Quanto custaria aprovar um verdadeiro ajuste? Certamente um preço que inviabilizaria o próprio ajuste.
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