A recessão no Brasil já foi superada? NÃO
João Ricardo Costa Filho - FSP
INCERTEZAS DEIXAM O CENÁRIO NEBULOSO
Quando olhamos para o passado recente, lembramos que dez anos atrás o
mundo estava à beira da maior crise financeira desde a Grande Depressão,
o que deixou marcas profundas nas economias desenvolvidas. No Brasil,
contudo, gerou recessão de apenas dois trimestres.
A vigorosa recuperação de 2010 deu a impressão de que a economia
deslanchava, mas a realidade se manifestou na direção contrária.
De 2011 a 2014, vimos a economia desacelerar sistematicamente, até
parar. Há quem culpe o resto do mundo por isso, mas provavelmente nós
sejamos os maiores responsáveis.
Toda uma agenda para melhorar a eficiência (como, por exemplo, mudanças
na educação, na tributação e no arcabouço institucional) foi posta de
lado. A queda na produtividade arrastou consigo o PIB.
No segundo trimestre de 2014, iniciou-se a recessão que pode vir a ser a
mais longa desde a década de 1980 (de acordo com o Comitê de Datação de
Ciclos Econômicos da FGV, a mais extensa ocorreu de 1989 a 1992, com 11
trimestres de duração). Por que a economia brasileira demora tanto para
se recuperar? A resposta vale 13 milhões de empregos.
Após uma eleição presidencial polarizada, os avisos da perigosa dinâmica
fiscal deixaram de ser ignorados. Contratamos na Constituição de 1988
uma trajetória de gastos públicos que independe a evolução das receitas.
Nos anos de bonança essa preocupação foi posta de lado, porém, quando a
música parou, a situação tornou-se insustentável. O endividamento
público disparou, e a agenda econômica destina-se a conter esse
processo.
Além dos problemas fiscais, havia desalinhamento nos preços da economia.
A combinação de inflação alta e recessão chegou aos setores mais
resistentes, e o mercado de trabalho começou a se deteriorar.
A depreciação do câmbio deu algum alento, mas a nossa economia é muito
fechada. O ajuste externo foi favorecido pela veloz queda nas
importações, sinal de atividade econômica fraca.
Do ponto de vista da demanda, são os investimentos que geralmente
conduzem o ciclo econômico. Parte importante deles ocorre na construção
civil, setor no epicentro do maior escândalo de corrupção já registrado
no país.
A Petrobras perdeu valor de mercado na mesma velocidade em que fomos perdendo a esperança de que este poço tenha fim.
Ao mesmo tempo, as famílias estão muito endividadas; ao cortarem gastos
para pagar as dívidas, reforçam o impulso contracionista.
Atribuo grande parte da lentidão na recuperação à dinâmica do mercado de
crédito. Os bancos privados diminuíram as concessões em resposta à
inadimplência crescente.
As nossas grandes empresas acostumaram-se ao crédito barato do BNDES,
cuja evidência empírica demonstra que, na melhor das hipóteses, não
aumenta nem o investimento nem a produtividade.
Se mesmo essas empresas passaram por escassez de recursos, imagine-se a
situação das demais, que já estavam acostumadas a um racionamento de
crédito maior.
O que vai acontecer? Ninguém sabe. E isso amplifica o problema. O
impacto da incerteza na economia vem retardando o processo de
recuperação. Todos os dias somos bombardeados com notícias que deixam o
futuro cada vez mais nebuloso.
Como tomar decisões além do curto prazo? Afinal, você compraria uma
casa, um carro ou uma máquina cara sem saber quando a situação irá se
normalizar? Pois é, os outros também não.
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