Quando vi não acreditei. Depois de um tempo, eles foram tomando conta de todos os cômodos. Grandes, pequenos, enormes, lisos, enrugados, doces ou de aspecto feroz. Sapos verdes claros, verdes mais escuros, bemmm escuros.
A casa, que ficava na rua Fidalga, estava tomada de sapos. E foi ela quem trouxe. Ela adorava esses sapos. colocáva-os sentados nos espoços vagos das estantes, na mesinha do centro da sala de estar, no nosso quarto, sobre a geladeira, enfim, em todo lugar que coubesse um sapo.
Essa coisa de sapo começou quando nos conhecemos. Eu lecionava. Tinha montado uma série de palestras com alunos de todos os anos. As aulas não eram obrigatórias. As palestras giravam em torno de Thoreau, Emerson e Whitman e a influência exercida sobre determinadas pessoas, contrapondo-os à sociedade voraz, que aqui está a devorar as nossas almas.
Ainda existia, para ilustrar o conjunto de palestras, o filme "Na natureza selvagem." A sala sempre enchia e uma outra palestra era marcada para quem ficou de fora.
Inevitavelmente o cheiro de maconha era tão normal quanto os alunos tomarem notas (poderiam com trabalhos sobre as palestras cobrir créditos que faltavam em outras matérias mais chatas).
Um dia, ela permaneceu após as aulas e pediu algumas explicações. Chamava-se Tânia, a moça.
Cabelos castanhos escuros, volumosos, deixavam uma boa impressão. Estavam em harmonia com os olhos castanhos e a face marcante, de lábios carnudos e carmesins.
Na terceira vez que ela ficou para falar comigo, a sua linguagem corporal já dizia tudo.
Terminou por convidar-me a passar o sábado (era terça-feira) na propriedade do pai dela, num condomínio fechado.
Aceitei.
Foi nesse dia que ganhei o meu primeiro sapo. Enorme, verde claro, olhões de sapo, eu creio.
Feito artesanalmente, ele tinha um metro de comprimento. Foi só gozação.
Na saída, enquanto recolhia algumas garrafas, roubou-me um beijo.
Depois, nos despedimos formalmente e eu peguei a estrada de volta para a Vila Madalena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário