Escola islâmica torturava alunos
Estudantes dizem que Taleban visitava madrassa
KARACHI, PAQUISTÃO - O Estado de S.Paulo
A polícia do Paquistão libertou na noite de terça-feira 53 estudantes de uma madrassa (escola corânica) na cidade de Karachi, no sul do país. De acordo com depoimentos dos estudantes - cuja idade varia de 7 a 21 anos -, muitos deles foram espancados, não eram alimentados e ficavam acorrentados em pequenos quartos num esquema descrito pela polícia como "câmaras de tortura".
Segundo a polícia, os alunos eram acorrentados porque eram considerados dependentes químicos e o objetivo da repreensão era educá-los para torná-los "muçulmanos melhores". "Se uma criança tem problemas, como má companhia, tabagismo e drogas, então não temos escolha a não ser levá-la para tais lugares", disse Mohammed Qasim, pai de um dos alunos.
Muitas famílias pobres do Paquistão só conseguem enviar seus filhos a madrassas desse tipo, que não são registradas e funcionam em regime prisional. Essas madrassas são acusadas de formar futuros membros de grupos radicais islâmicos.
Um dos estudantes libertados disse que os responsáveis pela escola falavam às crianças que elas seriam enviadas para se juntar à jihad (guerra santa) e se tentassem escapar da madrassa seriam castigadas com 200 chibatadas. Um outro menino afirmou que integrantes do Taleban visitavam a escola e diziam a eles que deveriam "se preparar para a batalha". Pelo menos duas pessoas que trabalhavam na administração da escola foram presas, mas o diretor conseguiu fugir. A polícia informou que já abriu um inquérito para investigar o caso. "Cada denúncia, incluindo o envolvimento com militantes, será investigada", afirmou Sharfuddin Memom, porta-voz do governo da Província de Sindh, onde fica Karachi.
Mais de 2 milhões de paquistaneses estudam nas mais de 15 mil madrassas de todo o país, ou seja, 5% das 34 milhões de crianças que vão à escola, indicam dados oficiais. Segundo diversas estimativas, há milhares de outras madrassas não registradas, que são frequentadas pelos alunos mais pobres. / AFP
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