quinta-feira, 1 de março de 2012

ELEIÇÕES NA FRANÇA

Disputa entre Sarkozy e Hollande é acompanhada de perto nas capitais europeias
Philippe Ricard - Le Monde
Na visão dos parceiros da França na União Europeia, Nicolas Sarkozy irrita e François Hollande intriga. O primeiro não mediu esforços para garantir “a volta da França para a Europa”; o segundo é um novato propenso a cometer um erro a qualquer momento, na visão dos europeus. O duelo entre Nicolas Sarkozy e François Hollande interessa aos dirigentes dos 27 membros da UE, embora sejam poucos aqueles que, a exemplo da chanceler alemã Angela Merkel, tenham claramente tomado partido pelo presidente atual, ou escolhido apoiar seu oponente, como fez o socialista belga Elio Di Rupo.
Nicolas Sarkozy soube aproveitar as repetidas crises sofridas pelos 27 para reforçar sua autoridade já a partir da presidência francesa da União Europeia, no segundo semestre de 2008. Fosse na crise financeira ou na mediação entre Geórgia e a Rússia, sua rápida reação lhe permitiu imprimir sua marca, antes que a tormenta que vem abalando a zona do euro há mais de dois anos colocasse à prova, mais do que nunca, a improvável parceria que ele compõe com a chanceler alemã. A dupla franco-alemã – Merkozy – se impôs então como o verdadeiro piloto da União Europeia, apesar das diversas tensões suscitadas entre Paris e Berlim pelo salvamento dos elos fracos da união orçamentária, e pela reformatação desta.
Líder dos países do Sul, Nicolas Sarkozy pôde cultivar ideias importantes a ele, como o governo econômico, mas foi Angela Merkel que determinou sua substância, ao exportar sua “cultura de estabilidade”. Com isso, Sarkozy procurou limitar as transferências de soberania, para colocar no centro do jogo as cúpulas dos 17 chefes de Estado e de governo da zona do euro, enquanto a chanceler passou a defender uma verdadeira “União política”, de tipo federal, para superar a crise.
Mas o estilo pouco diplomático e os métodos muito intergovernamentais de Nicolas Sarkozy desconcertaram boa parte de seus colegas europeus. “Quando nos falamos pelo telefone, primeiro contamos as maldades que Sarkozy pode ter dito pelas nossas costas”, contou, no final de 2011, um frequentador do Conselho Europeu.
Mais fundamental ainda: Sarkozy, segundo seus detratores, fez muito para transformar o funcionamento dos 27, ao dar o papel principal aos Estados, mesmo que isso fosse marginalizar as instituições europeias, tanto a Comissão quanto o Parlamento.
Ele foi trocando cada vez mais alfinetadas em graus variados de discrição com Jean-Claude Trichet, ex-presidente do Banco Central Europeu, cujo papel na crise das dívidas foi determinante.
Caso se passe o bastão no Palácio do Eliseu, a atitude de François Hollande, pouco conhecido no cenário europeu, é considerada menos previsível. “Ninguém sabe realmente o que se passa na cabeça dele, mesmo que sua longínqua filiação com Jacques Delors seja até animadora”, diz um alto dirigente de Bruxelas. Este último espera que os socialistas franceses tenham superado as divergências surgidas em 2005, durante o referendo negativo contra a Constituição - sem estar realmente tranquilizado até agora pela abstenção deles durante a ratificação do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de socorro permanente instaurado contra a vontade inicial da Alemanha para apoiar os países na mira dos mercados.
Os primeiros posicionamentos do candidato socialista sobre a Europa tampouco geram indiferença. Sua intenção de renegociar o pacto orçamentário para juntar à parte “orçamentária” uma parte mais orientada para o apoio ao crescimento é difícil de engolir. Segundo um dirigente europeu, ela não passaria de uma “doce ilusão”, uma vez que o novo tratado deve ser assinado na sexta-feira (2), e portanto estará em fase de ratificação.
“Certamente não somos a favor de uma renegociação”, disse Jan Kees de Jager, o ultra ortodoxo ministro holandês das Finanças, um dos aliados da Alemanha na gestão da crise das dívidas soberanas. “Em compensação, se Hollande quiser conduzir mais reformas, então estaremos ao seu lado, quer se trate da liberalização dos serviços ou das reformas do mercado de trabalho”, disse.
“O paradoxo é que Hollande pretende dar garantias de sua seriedade orçamentária, mas ele está atacando justamente o instrumento que deveria dar corpo à disciplina coletiva implementada pelas capitais europeias”, constata Yves Bertoncini, secretário-geral da fundação Nossa Europa, criada por Jacques Delors.
Tradutor: Lana Lim

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